Comunicações Sociais. Tudo será verdade?
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- Quarta, 16 Maio 2018 11:29
Definitivamente, estamos na era das comunicações. O mundo está plugado. Coisas incríveis a tecnologia conseguiu, inimagináveis para um passado muito próximo. Porém, a pergunta sobre a verdade no uso destes meios tão avançados é inevitável. Os meios de Comunicações Sociais estão inteiramente a serviço da verdade?
A matéria é examinada pelo Papa Francisco em sua mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais que é celebrado sempre no Domingo da Ascensão do Senhor, neste ano, no dia 13 de maio.
Francisco escolheu como tema a palavra de Cristo: “A verdade vos tornará livres” (João 8, 32). Faz séria reflexão sobre o desastre que causam as fake news na vida das pessoas e o prejuízo moral ao próprio mundo das comunicações. A mentira só produz situações degeneradoras, a falsidade destrói a dignidade humana e agride as relações entre as pessoas.
A verdade, contudo, a todos serve e conduz à paz, ao respeito mútuo e ao crescimento humanitário.
Partindo da Bíblia, o Papa recorda que, segundo a descrição do livro do Gênesis, a primeira fake news da história teria sido a tentação sofrida por Adão e Eva, provocados pela serpente, ‘o mais astuto dos animais’ (cf Gen.3, 1-23). Usando de meia verdade e meia mentira, o tentador engana as pessoas, provoca desconfiança onde não havia, induz ao despeito, à inveja, ao orgulho. O pecado inicial introduz o ódio entre irmãos causando o primeiro fratricídio, praticado por Caim contra seu bom irmão Abel. Pelo abuso da comunicação, o maligno faz entrar na história humana a derrocada de toda sorte de mal.
Semear fake news é um dos maiores desserviços à própria obra das comunicações, pois gera desconfiança, fere a ética, provoca ofensas, agride a paz social. Diz o Papa: “nenhuma distorção é inofensiva; antes pelo contrário, fiar-se daquilo que é falso produz consequências nefastas. Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos”.
Uma das características da comunicação de hoje é a rapidez. Tudo é tão veloz que dificilmente se pode controlar a divulgação de uma notícia. A avidez de certas agências em sair à frente, a ser a primeira a dar a notícia, visando sucesso e dinheiro, resulta em grande perigo, pois muitas vezes põe em jogo a veracidade dos fatos e pode moralmente destruir pessoas para sempre, quando publicam supostos crimes, sem comprovação devida. Uma vez dito nos meios ou viralizada nas redes sociais, ninguém mais conseguirá voltar atrás e limpar o nome de quem foi injustamente prejudicado. Isso funciona como as cartas anônimas, pois partem de pessoas inescrupulosas, dotadas de mal caráter e de nenhum espírito cristão. O missivista anônimo age como hipócrita que atira a pedra e esconde a mão. O mesmo se dá com certas acusações graves que são viralizadas, na maioria dos casos, sem se conhecer sua procedência.
O Papa diz: “As fake news tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável”. E mais à frente, diz: “As próprias motivações econômicas e oportunistas da desinformação têm raízes na sede do poder, do ter e do prazer”.
Como remédio principal para vencer o problema das falsas notícias, a mensagem pontifícia propõe duas medidas. A primeira é a educação das pessoas, desde crianças, para que vençam a tentação da mentira, a fim de serem formadas na verdade como uma opção pessoal. A segunda medida prática é não passar para frente, não compartilhar, não dar nenhuma atenção às fake news, mas justamente combater esta prática.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Bispo referencial da Comissão para Comunicação e Cultura do Regional Leste 2 da CNBB
Novos Missionários Juiz-foranos para o Haiti
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- Segunda, 07 Maio 2018 10:23
Dia 9 de maio próximo, segue para o Haiti o segundo grupo de Missionários da Arquidiocese de Juiz de Fora, liderado pelo Padre Pierre Maurício de Almeida Cantarino, com a participação do casal de médicos Dr. José Gabriel Timóteo Tostes e Dra. Magda Condé Tostes, e outro casal, Jésus Vieira Junior e Rosana Samguin Vieria. Lá permanecerão por dez dias, oferendo ajuda religiosa e humanitária àquele povo que já faz parte de nossas vidas.
Desde que assumimos a Arquidiocese de Juiz de Fora, há nove anos, temos envidado esforços, juntamente com o clero e os leigos, para torná-la cada vez mais missionária. Isto não é um projeto puramente pessoal, mas exigência natural e imperiosa da Igreja. Fundada por Cristo, a Igreja nasceu marcada por este caráter. A última palavra de Cristo aos seus Apóstolos, segundo o evangelista Mateus, foi esta: “Ide por todas as nações fazer discípulos meus, batizai-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ensinai-lhes a observar tudo o que vos ensinei. Eis que estarei convosco, todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28, 20). Também São Marcos o afirma com termos aproximativos: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-nova a toda criatura” (Mc 16, 15). Lucas, falando da missão dos Apóstolos, traduz a ação de Cristo, dizendo que “Ele os enviou para anunciar o Reino e curar os doentes” (Lc 9, 1-2). João, ao narrar a aparição de Jesus Ressuscitado aos onze, registrou suas palavras: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20, 21).
Com a acolhida do clero e das comunidades, celebramos juntos, por um ano e meio, o Primeiro Sínodo Arquidiocesano, escolhendo como tema eclesial: “Arquidiocese de Juiz de Fora, uma Igreja sempre em missão” e como lema bíblico: “Fazei discípulos meus” (Mt 28, 19).
Prosseguindo algumas inciativas anteriores, procuramos ampliar nossa ação missionária na Amazônia, especificamente na Diocese de Óbidos, no Pará, onde hoje temos um amplo trabalho, incluindo os cuidados de uma Paróquia dirigida por dois de nossos padres arquidiocesanos, com ótimas outras iniciativas de missões temporárias.
A Jornada Mundial da Juventude de 2013, acontecida de forma maravilhosa no Rio de Janeiro, com a presença do Papa Francisco, gerou em nossa Arquidiocese nova frente missionária que foi a criação do “Projeto Arquidiocesano Jovens Missionários Continentais”.
Em 2017, impulsionados pelos apelos do Papa Francisco que recorda insistentemente o caráter missionário da Igreja, com seu bordão “Igreja em Saída”, e sua motivação a ter olhos voltados para as periferias, nossa Igreja juiz-forana quis dar mais um passo. Nossa Igreja Particular decidiu escolher o Haiti, o país mais pobre das Américas, para oferecer nossa fraterna parceria. As notícias dolorosas da situação socioeconômica daquele povo, marcado pelos sofrimentos advindos do terremoto de 2010 e do furacão de 2016, não nos deixam inertes.
Para início desta missão “ad gentes”, para lá me dirigi pessoalmente com alguns jovens e um casal de adultos, em julho de 2017. Foi uma experiência marcante e desafiadora. Vimos um povo carente de tudo em Croix-des-Bouquetes, periferia de Porto Príncipe. Sentimos na pele a situação degradante do Bairro Port-Jérémie, onde jovens brasileiros da Missão Belém, de São Paulo, fazem um belíssimo trabalho. Encontramos órfãos do terremoto que hoje vivem sem nenhuma referência familiar, uma vez que perderam pais, irmãos, avós, tios e padrinhos e ficaram sós. Verificamos que há pessoas que, literalmente, comem terra para não morrerem de fome.
Diante destas e tantas outras realidades que desafiam nossas consciências de cristãos, não há como ficar parados. Iniciamos, com muita fé, com muito amor, com a ousadia do santo evangelho, a Missão Haiti. Após aquela nossa primeira visita, foi constituída a Comissão do Projeto JF/Haiti, com reuniões periódicas, sendo registradas atas e relatório. Em diálogo frequente com os Franciscanos na Providência de Deus que lá nos acolhem e com quem fazemos parceria fraterna, estamos organizando grupos de Profissionais Continentais, Empresários Continentais, Padrinhos Missionários Continentais que ofereçam algum recurso para educação de criança haitiana e outras inciativas.
A missão continua e a satisfação de realizá-la é reconfortante.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Luzes no Mosteiro de Santa Cruz
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- Quarta, 02 Maio 2018 10:24
Havia apenas iniciado o dia, quando fechou os olhos para sempre, naquela segunda-feira da quarta semana do tempo pascal. O calendário registrava 23 de abril de 2018. Findava a veneranda e sempre amada Madre Paula Iglésias, Abadessa do Mosteiro Beneditino de Juiz de Fora, depois de 29 anos de missão como mãe espiritual de suas queridas monjas. Havia se internado em hospital, na Quinta-feira Santa, com agravamento de implacável enfermidade contra a qual lutava havia oito anos. Seu quarto ficou iluminado com aqueles primeiros raios de sol, como a luz benfazeja da manhã da ressureição de Cristo.
Vivenciou pela última vez os mistérios pascais nesta terra, cheia de unção e mística alegria que, mesmo em meio às dores, se percebia em seu rosto sempre sorridente e humilde. Depois de se inebriar pela instituição da Eucaristia, do Mandamento Novo e da lição sagrada do lava-pés, pôde compartilhar as dores de Nosso Senhor, naquela Sexta-feira Santa, completando em seu corpo o que faltara à Paixão de Cristo, conforme anunciou São Paulo Apóstolo (cf. Col 1, 25). Passou pelo silêncio da expectativa do Sábado para celebrar a grande festa do Domingo da Ressurreição, vitória de Jesus sobre a escuridão da morte. Nos segredos do amor de Deus, esperou o Domingo do Bom Pastor, para seguir para sempre os acenos do Pai que a introduzia nos prados eternos que sempre esperou e para os quais sempre viveu.
Natural de Cataguases, nasceu no dia 22 de setembro de 1944, como penúltima filha de uma família de seis irmãos. No Rio, para onde a família se transferiu, trabalhou como secretária comercial, sendo louvada como exímia datilógrafa. Tendo o seu coração jovem sempre marcado pelo amor inconfundível a Deus e à Igreja, encontrou em Dom Paulo Rocha, monge beneditino que se tornou mais tarde Abade do Mosteiro da Bahia, o seu orientador espiritual seguro e santo. Ele a conduziu para o Mosteiro de Santa Cruz de Juiz de Fora que havia sido fundado a 13 de junho de 1960, sob os cuidados de Madre Benita Enout, a primeira Abadessa.
Tendo a alma sempre ansiosa pelos conhecimentos das coisas de Deus, no Mosteiro dedicou-se intensamente à vida de oração e aos estudos bíblicos e litúrgicos, o que a levou a investir extraordinariamente na revista teológica publicada pela Editora Subiaco, do mesmo Mosteiro. Em 1989, após o falecimento de Madre Benita, foi escolhida pelas suas irmãs monjas para ser a segunda Abadessa. Tornou-se mãe espiritual não só de suas filhas no claustro, mas de muitíssimas outras pessoas que, de contínuo, a procuravam para falar das coisas de Deus e dela receber orientações na vivência da fé e superação de problemas.
Fundou, em 1993, o Mosteiro de Santa Maria da Esperança, em Rio Branco-AC, a pedido do então Arcebispo local, Dom Moacyr Grechi.
Aos 21 de março último, dies natalis de São Bento, ela, percebendo já os sinais de Deus que a chamava desta vida, renunciou humildemente a seu nobre cargo abacial. Ficou marcada para o dia 25 de abril a eleição da nova Abadessa. Veio a falecer justamente nas vésperas desta data. Mistérios de Deus! Após a solene liturgia das exéquias, cantadas em gregoriano genuíno, de beleza mística sem par, com a presença de três bispos, dois Abades, quatro Abadessas, monjas de outros mosteiros, vários sacerdotes e um grande número de pessoas da cidade, foi seu corpo sepultado nos jardins do Mosteiro, enquanto sua alma já havia penetrado nas claridades dos prados eternais.
No dia seguinte, como previsto, a comunidade celebrava a Missa do Espírito Santo, presidida pelo Abade Presidente, Dom Filipe da Silva, do Mosteiro do Rio, e pedia as luzes de Deus para a escolha da sucessora. No primeiro escrutínio das eleições, a bênção caiu sobre Irmã Maria de Fátima Justiniano da Silva, filha muito querida de Madre Paula que a formou desde o seu ingresso na vida beneditina.
Madre Maria de Fátima, nascida em Juiz de Fora, a 17 de abril de 1953, era, quando jovem, assídua frequentadora da Paróquia Santa Rita de Cássia, do Bairro Bonfim, à época dirigida pelos padres Crúzios. Em 1977, formou-se em medicina pela UFJF e, contra a vontade dos pais, mas muito convicta de sua vocação e de seu amor incondicional a Deus, entrou para o Mosteiro de Santa Cruz, onde fez profissão solene aos 25 de março de 1984.
As luzes do tempo pascal, provenientes da cruz salvadora do Senhor Jesus Cristo, nunca se apagam, pois, a força da fé, a harmonia do amor e ação perene da graça permanecem iluminando a vida e a morte, qual círio pascal que queima e ilumina, enchendo de beleza o altar.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
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