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Maria, A Virgem de Nazaré, Mulher Orante (Parte 1)

Anunciação
O livro dos Atos do Apóstolos diz que os primeiros cristãos, depois que o Senhor subiu para o céu, permaneciam unidos e não deixavam nunca de rezar. Com eles estava Maria, a Mãe do Senhor: “Todos perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres, entre elas, Maria, a mãe de Jesus e com os parentes dele” (At 1, 14). Mais adiante, relata o mesmo livro bíblico que os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar quando desceu sobre eles o Espírito Santo (cf At 2, 12).

Vemos que, para a vinda do Espírito Santo, o ambiente propício estava preparado. Na abertura para Deus o Espírito se manifesta. A vida de oração era um legado preciosíssimo que os apóstolos herdaram de Jesus. Certo dia, eles mesmos pediram ao Senhor: “Ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1). Deus já havia colocado no coração do povo judeu aguçado espírito de oração. Foi este povo que o pai escolheu para enviar seu Filho à humanidade. E foi através de Maria, íntegra na observância dos princípios da fé de Abraão, que se realizou a encarnação do Verbo. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Comtemplemos Abraão, Moisés, todos os patriarcas, reis e profetas. Todos são inspiradores de oração, mostrando que sem esta prática é impossível estar em sintonia com Deus.

Maria, mulher hebreia de convicções plenas, filha de Joaquim e Ana, família observadora das Leis sagradas, tinha em sua alma a predileção pelas coisas do alto. Como toda mulher de Israel, começa seu dia bendizendo a Deus com a “Beraká”: “Bendito sejais, Vós, Senhor que me criastes segundo a vossa vontade”. Como todo hebreu fiel, tinha à sua disposição a pequena sinagoga de Nazaré, onde podia ir todos os dias ouvir a “Shemá Israel” (Escuta Israel) (Dt 6), lida em voz alta por algum Rabino que explicava o sentido da Palavra de Deus. Aberta ao alto, como sempre acontecia com jovens amorosos de Javé, aprendiam de cor salmos, cânticos e outros trechos da Torá, ou seja, o conjunto dos primeiros 5 livros da Bíblia Sagrada. Assim é que entendemos que, ao ser anunciada pelo Arcanjo Gabriel, ela saiu apressadamente para encontrar sua prima Isabel, que residia sobre o monte Arim Karem, nos arredores de Jerusalém, há cerca de 100 km de Nazaré. Foi lá que, no diálogo com outra mulher orante, já idosa, esposa de Zacarias, que Maria cantou o seu Magnificat com termos muito parecidos com o cântico de Ana, presente no livro mais antigo das Escrituras, 1º livro de Samuel (Sam 2, 1 ss).

Antes disso, contudo, como costume de toda família judaica, Joaquim e Ana a levavam a Jerusalém três vezes ao ano, para visitar o único templo dos israelitas que se localizava em Jerusalém, a cidade da Paz, a capital religiosa do povo de Israel, e celebrar os grandes feitos do Senhor. Iam para a festa das cabanas, conhecida como “Sukkot”, no início do ano hebraico, chamado “Rosh Hashaná”. As cabanas representavam as tendas do deserto quando o povo estava em marcha para a Terra Prometida, sob a liderança de Moisés que o tirou da escravidão do Egito.

Nas festas de Pentecostes, as mulheres se reuniam no ‘pátio das mulheres’ e podiam oferecer aos sacerdotes as primícias de suas colheitas. Iam, por fim, para a grande festa da Peshà, a Páscoa, com a qual celebravam o principal fato de sua história que foi a libertação total da escravidão no Egito e a entrada na Terra Prometida.

As informações sobre a vida cotidiana da família de Nazaré podem ser encontradas, com muita beleza, no precioso livro “Maria, Mãe da Humanidade”, de autoria de Frei Bruno Varriano – OFM, frade brasileiro que vive hoje em Nazaré, como guardião e reitor da Basílica da Anunciação, da Custódia da Terra Santa.

Prosseguiremos semana que vem com estas reflexões.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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