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Vitórias da Vida

VidaNa semana que findou, o mundo teve boas notícias sobre a vida humana. Dia 9 de agosto, o Papa Francisco, depois de uma longa reflexão já dos tempos de São João Paulo II (1978-2005) e de Bento XVI (2005-2013), modificou para melhor o Catecismo da Igreja Católica que, no artigo 2267, trata sobre a pena de morte. Na evolução da humanidade, sobretudo a respeito da dignidade da pessoa humana e inviolabilidade da vida, o novo texto torna inadmissível qualquer tipo de pena capital aos seres humanos. Reconhece que, por pior que fosse um criminoso, sempre lhe restaria um pouco de dignidade e a possibilidade de conversão. Sendo o Pontífice forte defensor da vida, afirma: “A Igreja ensina, à luz do Evangelho, que a pena de morte é inadmissível e se compromete com determinação por sua abolição em todo o mundo”.

Na mesma ocasião, o Senado da Argentina desaprovou a inclusão de leis abortistas em sua Constituição, o que traz novas esperanças para que o mundo reconheça que a vida humana é inviolável. Mais uma vez, a vida venceu a morte. A corretíssima decisão do Senado Argentino vem ao encontro das palavras do Papa, na Páscoa passada, quando proclamou na bênção Urbi et Orbi, falando da ressurreição de Cristo: “… a vida venceu a morte, a luz afugentou as trevas!”.

A vida é o dom mais precioso que a natureza nos oferece. É básico para todos os demais dons. Olhando pelo prisma da fé, verificamos que o Senhor nos criou para viver. Cristo, ao assumir a vida humana, afirmou: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Morrer é uma contingência natural, embora cause dor aos que permanecem. Porém, a existência da vida eterna, após a experiência traumática da morte terrena, conforta a mente humana e lhe dá o completo entendimento das palavras de Cristo acima citadas.

Tirar a própria vida é sinal de desespero e constitui algo não aceitável pela natureza. O bom senso ensina que a vida humana deve ser sempre protegida desde a fecundação até o seu fim natural. Independente do sentido religioso, uma sã consciência reconheceria a dignidade própria da existência humana e a sua inviolabilidade.

Nestes dias em que no Brasil estão sendo tratados assuntos relacionados ao pretenso direito de abortar, a vitória da vida proclamada nos dois fatos acima citados torna-se sinal de ânimo para os defensores das crianças ainda acomodadas no seio materno, esperando o momento exato para nascer.

Os argumentos favoráveis à vida são racionais, incontestáveis e infinitamente mais fortes que os contrários. Porém, há pessoas abalizadas que, curiosamente, também defendem a legalização do aborto. Frente aos aplausos que o Papa recebeu de todas as partes do mundo quando anunciou a inadmissibilidade da pena de morte, chega-se a perguntar: o que há neste mundo que faz acontecer estas contradições?

À coerência dos dois acontecimentos da semana que passou, conclui-se que ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de tirar a vida de um ser humano. Nem mesmo os que governam, ou os que detém o poder judiciário, nem mesmo a decisão de um plebiscito, têm tal poder, pois trata-se de uma causa moral inalterável.

A verdade é que a progressão do mundo nem sempre anda igual para todos, sobretudo nas questões morais. Há, porém, os mais evoluídos que caminham à frente e garantem a vitória dos valores inalienáveis já criados pela natureza e que não podem ser destruídos nem mesmo pela opção humana.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Escapulário, objeto santo, mas não mágico (Parte 2)

Prosseguindo nosso artigo da semana passada, reflitamos hoje sobre mais alguns aspectos a respeito da devoção e o uso do escapulário de Nossa Senhora do Carmo.

Quanto ao termo “escapulário”, a etimologia nos remete ao conceito de proteção, sendo uma peça do vestuário destinada a cobrir o peito e as costas, partindo dos ombros. O vocábulo vem do latim scapula-arum, que significa ombro, costas, espaldas.

Desde aqueles anos do século XIII, quando São Simão Stock teve sua experiência mística, o uso do escapulário veio crescendo, havendo outras ordens e congregações religiosas que também o adotaram para os seus hábitos. Para uso dos leigos, em confrarias, ordens terceiras e irmandades se tornou amplo o uso desta santa veste, sobretudo nos momentos litúrgicos e procissões. Para o dia a dia, foi permitido, por bulas papais e concessões monásticas, a utilização dos chamados “bentinhos”, como verdadeiros escapulários de pequena dimensão, em forma de um cordão contendo duas medalhas, de tecido ou de metais, permitindo sua posição, uma sobre o peito e a outra sobre as costas, contendo a figura de Jesus em uma e a de Maria em outra.

O escapulário entregue a São Simão Stock evoca o manto de Elias que, ao ser arrebatado aos céus em carro de fogo, caiu de seus ombros, deixando-o como herança mística ao seu fiel discípulo e sucessor Eliseu (Cf 2 Reis 12-14).

Muitos papas, teólogos e outros membros da hierarquia, bem como grande número de fiéis, têm usado o escapulário. Todos os papas do século XX, a saber, Pio X (1903-1914), Bento XV (1914-1922), Pio XI (1922-1939), Pio XII (1939-1958), João XXIII (1958-1963), Paulo VI (1963-1978), João Paulo I (1978) e João Paulo II (1978-2005) o trouxeram piedosamente sobre seus ombros, como símbolo de sua confiança plena na proteção de Deus e no amor maternal de Maria. São muitos os santos que tiveram devoção ao escapulário, e basta citar os grandes místicos da família carmelitana, como Santa Teresa D’Ávila, São João da Cruz, Santa Teresinha, e a grande filósofa fenomenologista, Edite Stein, convertida do judaísmo ao cristianismo, se fazendo monja carmelita com o nome de Irmã Benedita da Cruz.

São João Paulo II, escrevendo ao Prior da Ordem do Carmo, em 2001, nas celebrações dos 750 anos da visão de São Simão Stock, declarou: “Também eu trago sobre o meu coração, desde há muito tempo, o Escapulário do Carmo! No sinal do Escapulário evidencia-se uma síntese eficaz da espiritualidade mariana, que alimenta a devoção dos crentes, tornando-os sensíveis à presença amorosa da Virgem Mãe nas suas vidas. O Escapulário é essencialmente um ‘hábito'”.

Na legislação emitida por vários papas, como São Pio X e Pio XII, registra-se que o escapulário não é um objeto mágico, nem um amuleto ou talismã, mas um verdadeiro sacramental que não produz efeito em si mesmo, porém age como forte expressão de pertença, de amor e de confiança na ação protetora de Deus, pelas mãos de Maria, a quem confiou a missão de Mãe de seu Filho e, por consequência, sua protetora na ordem natural.

Ao celebrar a Santa Eucaristia do dia 16 de julho, pode-se deliciar na alma com o canto latino, Flos Carmeli, bela poesia cuja tradução é: “Ó Maria, flor do Carmelo, vinha florida, esplendor do céu, Virgem fecunda e singular, Mãe bondosa e intacta, aos carmelitas dai privilégios, Estrela do mar!”

Seja usando de forma visível, seja humildemente oculto sob as vestes, o escapulário é símbolo forte do amor de Deus que nos protege, no calor do coração materno de Maria que nos aquece a fé.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Escapulário, objeto santo, mas não mágico (Parte 1)

Entres os títulos que carinhosamente são dados a Maria, Mãe de Jesus, se encontra o de Virgem do Carmo, ou Nossa Senhora do Monte Carmelo, cuja festa se celebra dia 16 de julho. Tal apelativo tem fundamentos bíblicos, históricos e pertence, de alguma forma, ao Magistério da Igreja, porquanto muitos papas legislaram e deram frutuosas orientações sobre ele.

Em primeiro lugar recordemos que a palavra “Carmelo” tem origem na língua hebraica, o idioma de Jesus, mesmo se, conforme estudos recentes, ele falasse corriqueiramente o dialeto aramaico. Porém o aramaico era um linguajar somente falado, não escrito. Os textos da thorá e dos profetas eram escritos em hebraico e Jesus os lia (cf Lc 4, 14-20).

A palavra Carmelo é junção de dois termos hebraicos: “Carmo” que significa “vinha”, e “El” que significa “Deus”. Portanto, Carmelo se traduz por “Vinha de Deus”, ou “Jardim de Deus”. Carmelo é um monte que está no norte do território de Israel, onde viveu o Profeta Elias e alguns discípulos seus, por volta dos anos 900 a 850 antes de Cristo. Tem, ao seu lado oeste, o Mar Mediterrâneo, numa beleza sem par. O Rei Salomão quando quis elogiar a beleza da esposa exclamou: “Tua cabeça é tão bela quanto o Carmelo e teus cabelos têm a cor da púrpura” (Ct 7, 6).

Sobre este soberbo monte de cerca de 600 metros de altitude, se passou o famoso episódio da chuva que, pela oração de Elias, depois de um longo período de seca, caiu abundante sobre as terras da região, tirando o povo do perigo de morrer de fome, por falta de víveres para as pessoas e os animais. Antes, porém de descer a generosa precipitação atmosférica, uma pequena nuvem, do tamanho do punho de um homem, anunciou a grande alegria para o povo sedento. Chegou a salvação para suas lavouras e seus animais (Cf I Reis 18, 43-45).

A Igreja sempre viu na figura desta nuvem da qual caiu a benfazeja chuva salvadora, a prefiguração de Maria, da qual nasceu o Redentor da humanidade, Jesus Cristo, Nosso Senhor. Interessante observar que, quando Deus criou o organismo feminino, colocou dentro dele o útero, o santuário da vida, que tem, em seu estado natural, o tamanho de um punho e que, ao se desenvolver nele a criança, vai se elastificando num movimento de muita beleza e precisão para proteger o ser que nele cresce.

Na Idade Média, um grupo de anacoretas foi morar sobre este monte e entre seus eremitérios construíram uma capela dedicada à Mãe de Jesus que passaram a chamar de Nossa Senhora do Monte Carmelo, ou Nossa Senhora do Carmo.

Perseguidos por mulçumanos que desejavam destruir todos os sinais e vestígios de Cristo, tiveram que fugir para Europa, encontrando abrigo na Inglaterra, onde foram acolhidos e passaram a ser chamados de carmelitas, tendo sido constituídos, mais tarde, em Ordem Carmelitana. Porém, também aí, tal Ordem religiosa passou por terríveis momentos de incompreensões, perseguições, problemas externos e internos ao ponto de se ver ameaçada de extinção. Necessitados de boa direção, foi eleito Prior Geral, o Padre Simão Stock, um Sacerdote contemplativo que havia aderido a Ordem. Homem de muita oração, profundidade mística e teológica, também suplicou a misericórdia de Deus em favor de seu povo, tal como Elias em Israel, para que viesse a sair dos perigos que os ameaçavam.

Quando se encontrava em oração, no dia 16 de julho do ano de 1251, teve, em experiência mística, a visão da Mãe de Jesus, trazendo nos braços o Menino Deus, e lhe entregou o escapulário, prometendo proteção diante dos perigos e garantindo a salvação eterna, conquistada por seu Divino Filho na cruz, àqueles que o trouxessem consigo até a hora da morte, obedecendo aos mandamentos divinos. Foram as seguintes as palavras ditas por Maria ao Monge: "Este será o privilégio para ti e todos os carmelitas; quem morrer vestido do escapulário, se salvará".

Quanto ao termo “Escapulário”, a etimologia nos remete ao conceito de proteção, sendo uma peça do vestuário medieval, destinada a cobrir o peito e as costas, partindo dos ombros. O vocábulo vem do latim scapula-arum, que significa ombro, costas, espaldas.

Prosseguiremos semana que vem.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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