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Escapulário, objeto santo, mas não mágico (Parte 2)

Prosseguindo nosso artigo da semana passada, reflitamos hoje sobre mais alguns aspectos a respeito da devoção e o uso do escapulário de Nossa Senhora do Carmo.

Quanto ao termo “escapulário”, a etimologia nos remete ao conceito de proteção, sendo uma peça do vestuário destinada a cobrir o peito e as costas, partindo dos ombros. O vocábulo vem do latim scapula-arum, que significa ombro, costas, espaldas.

Desde aqueles anos do século XIII, quando São Simão Stock teve sua experiência mística, o uso do escapulário veio crescendo, havendo outras ordens e congregações religiosas que também o adotaram para os seus hábitos. Para uso dos leigos, em confrarias, ordens terceiras e irmandades se tornou amplo o uso desta santa veste, sobretudo nos momentos litúrgicos e procissões. Para o dia a dia, foi permitido, por bulas papais e concessões monásticas, a utilização dos chamados “bentinhos”, como verdadeiros escapulários de pequena dimensão, em forma de um cordão contendo duas medalhas, de tecido ou de metais, permitindo sua posição, uma sobre o peito e a outra sobre as costas, contendo a figura de Jesus em uma e a de Maria em outra.

O escapulário entregue a São Simão Stock evoca o manto de Elias que, ao ser arrebatado aos céus em carro de fogo, caiu de seus ombros, deixando-o como herança mística ao seu fiel discípulo e sucessor Eliseu (Cf 2 Reis 12-14).

Muitos papas, teólogos e outros membros da hierarquia, bem como grande número de fiéis, têm usado o escapulário. Todos os papas do século XX, a saber, Pio X (1903-1914), Bento XV (1914-1922), Pio XI (1922-1939), Pio XII (1939-1958), João XXIII (1958-1963), Paulo VI (1963-1978), João Paulo I (1978) e João Paulo II (1978-2005) o trouxeram piedosamente sobre seus ombros, como símbolo de sua confiança plena na proteção de Deus e no amor maternal de Maria. São muitos os santos que tiveram devoção ao escapulário, e basta citar os grandes místicos da família carmelitana, como Santa Teresa D’Ávila, São João da Cruz, Santa Teresinha, e a grande filósofa fenomenologista, Edite Stein, convertida do judaísmo ao cristianismo, se fazendo monja carmelita com o nome de Irmã Benedita da Cruz.

São João Paulo II, escrevendo ao Prior da Ordem do Carmo, em 2001, nas celebrações dos 750 anos da visão de São Simão Stock, declarou: “Também eu trago sobre o meu coração, desde há muito tempo, o Escapulário do Carmo! No sinal do Escapulário evidencia-se uma síntese eficaz da espiritualidade mariana, que alimenta a devoção dos crentes, tornando-os sensíveis à presença amorosa da Virgem Mãe nas suas vidas. O Escapulário é essencialmente um ‘hábito'”.

Na legislação emitida por vários papas, como São Pio X e Pio XII, registra-se que o escapulário não é um objeto mágico, nem um amuleto ou talismã, mas um verdadeiro sacramental que não produz efeito em si mesmo, porém age como forte expressão de pertença, de amor e de confiança na ação protetora de Deus, pelas mãos de Maria, a quem confiou a missão de Mãe de seu Filho e, por consequência, sua protetora na ordem natural.

Ao celebrar a Santa Eucaristia do dia 16 de julho, pode-se deliciar na alma com o canto latino, Flos Carmeli, bela poesia cuja tradução é: “Ó Maria, flor do Carmelo, vinha florida, esplendor do céu, Virgem fecunda e singular, Mãe bondosa e intacta, aos carmelitas dai privilégios, Estrela do mar!”

Seja usando de forma visível, seja humildemente oculto sob as vestes, o escapulário é símbolo forte do amor de Deus que nos protege, no calor do coração materno de Maria que nos aquece a fé.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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