Ataques infundados ao Papa Francisco
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- Segunda, 08 Julho 2019 09:26
No dia 29 de junho, a Igreja Católica celebra a Festa de São Pedro e São Paulo. Nos lugares onde não é mais feriado esse dia, a celebração é sempre realizada no domingo seguinte, como no Brasil. A solenidade, importante no calendário litúrgico da Igreja, é muito antiga. As orações da Missa foram compostas nos primeiros anos do cristianismo, talvez no século III. Basta dizer que, na história da Igreja, o estabelecimento da festa foi até anterior à designação do dia do Natal do Senhor Jesus.
A data nos recorda a grande confiança de Cristo na Igreja e o grande amor d’Ele para com todos os fiéis. Pedro foi escolhido por Cristo para ser o primeiro coordenador dos apóstolos. Mais tarde, este cargo que ele exerceu em Roma, como apóstolo dos apóstolos e símbolo da unidade da Igreja, vai ter o carinhoso nome de Papa, ou seja, “papai”.
O Santo Padre é o símbolo visível do Pai invisível da Igreja. Assim como o pai na família é o símbolo do amor, da unidade entre os filhos e a esposa, também o Papa representa esta unidade na Igreja. Portanto, a função de Pedro é muito importante. É uma decisão do próprio Senhor Jesus. Daí decorre todo o nosso respeito e amor ao seu sucessor, que hoje se chama Francisco.
A festa do dia 29 de junho é também de São Paulo e nós podemos associar a sua missão à de Pedro. Este enfrentou grandes dificuldades para ser apóstolo e o primeiro Papa, mas perseverou até o fim e a sua vida foi selada com martírio igual ao de seu Mestre. Já Paulo foi o grande missionário da primeira hora. Viajou, sofreu, enfrentou problemas com as autoridades, com os intelectuais em Atenas, com muitas comunidades e até internamente.
Olhando as dificuldades de ambos, e também dos demais apóstolos e dos primeiros cristãos – quantos foram incompreendidos e morreram martirizados -, nós podemos compreender os ataques a um Papa. Todos sofrem com críticas, enquanto estão vivos e, às vezes, até depois da morte. No caso atual, nós encontramos o Papa Francisco, que tem sido motivo de polêmica.
Por uma parte, até fora da Igreja e do Cristianismo, é aplaudido imensamente. Mas, ao mesmo tempo, padece de sofrimentos e incompreensões, às vezes internas, outras externas. Não nos assustemos com isso. São partes da cruz de Cristo que permanecem na vida da Igreja. Aliás, Jesus disse: Quem quiser ser meu discípulo, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e me siga (cf. Mt 16,24).
Pois bem, o Papa Francisco tem consciência desse mistério da cruz, que é o misterium santitatis (mistério da santidade). Ele é resultado, inclusive, do misterium iniquitatis (mistério da iniquidade), que desafia todo aquele que quer anunciar, seguir e servir a Cristo.
O Dia de São Pedro e São Paulo é já reconhecido tradicionalmente na Igreja como o dia de oração pelo Papa e nós o fazemos com muito espírito de fé e alegria no coração, demonstrando a nossa fidelidade incondicional àquele a quem Deus chamou para suceder, na Cátedra de Pedro, a coordenação, a chefia, o governo, a unidade da Igreja em todo o mundo.
Seja feliz, Papa Francisco! Conte com a nossa fidelidade, a nossa comunhão, a nossa unidade!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Folha Missionária Número 100
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- Quarta, 12 Junho 2019 15:59
O número 100 é sempre especial. Os centenários das cidades, dos eventos, das datas mais significativas, em geral, são celebrados com festas. Têm aumentado nos dias atuais as comemorações centenárias de pessoas longevas que, atingindo tal idade, reúnem familiares e amigos para brindes.
Ao atingir o número 100 de suas edições, a Folha Missionária quer elevar ações de graças a Deus e comemorar com seus leitores. Por cem vezes, este periódico, inaugurado em novembro de 2010, na Festa de Cristo Rei, visitou casas, frequentou paróquias, grupos, pastorais, movimentos, associações e esteve nas mãos de centenas de leitores. Certamente espalhou o bem, informando acontecimentos, ajudando a refletir sobre temas bíblicos, catequéticos e humanitários, convocou pessoas, editou biografias, afinal, buscou fazer jus ao seu título Folha Missionária. Nestas cem edições, levou aos fiéis variadas matérias, procurando realizar os ideais do 1º Sínodo Arquidiocesano, celebrado de 2009 a 2011, cuja primeira fase foi concluída com a criação deste jornal.
O periódico age no intuito de fazer comunhão com as paróquias, movimentos, novas comunidades, associações, estruturas de Igreja e todas as demais forças vivas da Arquidiocese, possibilitando a efetivação de uma Igreja Sinodal, onde o método de ação seja a realização do desejo de Cristo: “Que todos sejam um, ó Pai, como eu e Tu somos um” (Jo 17,21), e a consequente experiência dos primeiros cristãos cuja “multidão era um só coração e uma só alma” (At 4,32).
Tal vocação se estende também para outras Igrejas, na consciência de que toda comunidade diocesana, juntamente com seu bispo, deve vivenciar a solicitude por todas as Igrejas, publicando, em cada número, na última página, a biografia de um dos bispos de nosso País. Com estes textos, chega aos corações levando dados da vida e atuação evangelizadora dos Pastores que o Espírito escolheu para suceder os Apóstolos na condução das Igrejas Particulares. As biografias episcopais têm sido editadas obedecendo critérios diversificados, tais como, bispos falecidos na região, bispos oriundos do clero juiz-forano, bispos eleitos recentemente, bispos com funções na CNBB e outros grupos.
Nestas cem edições, podemos comemorar a perseverança ininterrupta de três escritores: Pe. Camilo de Paiva, Leandro Novaes e este Arcebispo que aqui subscreve. De fato, por 100 vezes, publicamos a Palavra do Pastor, reservando-nos oportunidade para levar a todos a mensagem da Igreja local, com temas centrais da vida eclesial ou do meio social que mais auxiliem os leitores na vivência da fé, no espírito de comunhão e na disponibilidade missionária. Cem vezes os editoriais deram a nota dominante das matérias, escritos pelo referido Editor Chefe, Pe. Antônio Camilo de Paiva, Mestre em Comunicação pela Faculdade Salesiana de Roma e Especialista em Comunicação Social pelo SEPAC (Serviço à Pastoral da Comunicação – Paulinas Cursos). Por 100 vezes nosso único redator tem sido o jornalista Leandro Novaes, formado em Comunicação Social pela UNIPAC (Universidade Presidente Antônio Carlos-JF) e pós-graduado em Comunicação Empresarial pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).
Um sem número de pessoas tem sido colaborador com artigos e notícias, somando-se riquíssima e volumosa matéria para a área da comunicação na Arquidiocese, importante para o registro histórico das atividades desta Igreja juiz-forana, indispensável para a formação de uma grei que escolheu para si o lema Arquidiocese de Juiz de Fora, uma Igreja sempre em missão.
Ao atingirmos o número 100 destas publicações mensais, erguemos ao Altíssimo nossa voz com a prece do Salmo 100: Eu quero cantar o amor e a justiça, cantar meus hinos a vós, ó Senhor!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
As Comunicações Sociais, valores e perigos
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- Terça, 28 Maio 2019 10:54
Para celebrar o 53º Dia Mundial das Cominações Socais, que se dá, todos os anos, na Festa Pascal da Ascensão do Senhor, o Papa Francisco envia interessante mensagem aos cristãos e às pessoas de boa vontade. Neste texto, ele vai propor reflexão sobre uma antropologia centrada na pessoa como um ser-em-relação, não destinada a uma solidão isolacionista.
Na verdade, os meios de comunicação hoje são extremamente invasivos de forma tal que já fazem parte integral da vida humana, impondo um modus vivendi quase impossível sem eles. A criação da internet possibilita extraordinário intercâmbio de informações, marcado pela velocidade, com elementos cada vez mais surpreendentes, impondo um novo comportamento humano que marca sensíveis diferenças entre gerações. Invertendo uma ordem que parecia natural, as crianças hoje passam a ensinar aos adultos e, sobretudo aos mais idosos, o manuseio dos novos aparelhos e recursos, e utilizam de uma nova linguagem, antes nunca vista.
Podemos verificar como os recursos da internet, ao mesmo tempo que podem servir para rápida e ampla divulgação da verdade, podem também servir, e muitas vezes o fazem, para disseminar inverdades ou mentiras perigosas.
Contudo, a Palavra de Deus que rege a vida dos que creem, como é o nosso caso, nos ensina pela Carta de São Paulo aos Efésios: “Por isso, despi-vos da mentira e diga cada um a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros” (Ef 4, 25). A citação é feita também por Papa Francisco na sua referida mensagem.
O mal-uso e a falta de uma melhor legislação sobre o tema põem em perigo a cultura do encontro, da solidariedade, da interajuda, da paz, afinal de um mundo que seja regido pela fraternidade, pelo amor ao próximo. A esse respeito, literalmente, diz o Papa: “Na complexidade deste cenário, pode ser útil voltar a refletir sobre a metáfora da rede, colocada inicialmente como fundamento da internet para ajudar a descobrir as suas potencialidades positivas. A figura da rede convida-nos a refletir sobre a multiplicidade de percursos e nós que, na falta de um centro, uma estrutura de tipo hierárquico, uma organização de tipo vertical, asseguram a sua consistência”.
A sociedade só terá contornos humanitários se for organizada nas bases destes valorares inalienáveis, pois são intrínsecos à natureza humana. As pessoas humanas, dotadas de razão e abertas ao infinito, são seres inevitavelmente relacionais. Sobre isso, Francisco vai dizer em sua mensagem: “Reconduzida à dimensão antropológica, a metáfora da rede lembra outra figura densa de significados: a comunidade. Uma comunidade é tanto mais forte quando mais for coesa e solidária, animada por sentimentos de confiança e empenhada em objetivos compartilháveis. Como rede solidária, a comunidade requer a escuta recíproca e o diálogo, baseado no uso responsável da linguagem”.
Sente-se hoje que o uso abusivo, indiscriminado, sem contornos éticos dos meios e dos instrumentos de comunicação, alimentam um individualismo pecaminoso e, às vezes, à formação de grupos que pecam pelo isolamento, a exclusão, a marginalização levando a uma sociedade classista, e a um perigoso sistema egoísta e violento. Diz a Mensagem pontifícia: “Além disso, na social web, muitas vezes a identidade funda-se na contraposição ao outro, à pessoa estranha ao grupo: define-se mais a partir daquilo que divide do que daquilo que une, dando espaço à suspeita e à explosão de todo o tipo de preconceito (étnico, sexual, religioso e outros). Esta tendência alimenta grupos que excluem a heterogeneidade, alimentam no próprio ambiente digital um individualismo desenfreado, acabando às vezes por fomentar espirais de ódio. E, assim, aquela que deveria ser uma janela aberta para o mundo, torna-se uma vitrine onde se exibe o próprio narcisismo”.
As comunicações hoje podem ser elementos de construção de um mundo novo, onde germine, cresça e se realize a cultura do encontro, prevalecendo a verdade que liberta e a fraternidade que salva. Sobre isso, o Papa, com seu espírito prático, apresenta a dúvida sobre a autenticidade do recurso e sugere: “Se uma família utiliza a rede para estar mais conectada, para depois se encontrar à mesa e olhar-se olhos nos olhos, então é um recurso. Se uma comunidade eclesial coordena a sua atividade através da rede, para depois celebrar juntos a Eucaristia, então é um recurso. Se a rede é uma oportunidade para me aproximar de casos e experiências de bondade ou de sofrimento distantes fisicamente de mim, para rezar juntos e, juntos, buscar o bem na descoberta daquilo que nos une, então é um recurso”.
Num mundo onde prevaleça o egoísmo e hedonismo, que busca apenas o gosto, o prazer, na chamada cultura “like”, o Pontífice trata da comunicação que parte da proposta de Cristo, indicando outro caminho. Afirma o Papa Francisco, demonstrando a essencialidade da Igreja construída sobre as bases da verdade: “A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos gostos (like), mas na verdade, no ‘Amém’ com que cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros”.
Comunicar é construir laços, modificar relações e indicar um mundo novo melhor para todos.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
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