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Semana Santa ainda serve para o Século XXI?

semana-santa-cleofasA Semana Santa é a semana mais importante para o mundo cristão. É quando celebramos a Páscoa da Ressurreição e, para isso, meditamos sobre a forma com que isto aconteceu na vida de Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus. Não é somente um homem, não é apenas um mestre, mas é homem e Deus verdadeiros. Como homem, assumiu todas as dores e sofrimentos da humanidade. Como Deus, foi capaz de vencer a morte e ressuscitar. E esta grande graça é transmitida a todos nós, todos aqueles que n’Ele acreditam. Nós também vamos morrer, mas vamos ressuscitar com Ele, pela força d’Ele.

A Semana Santa celebra esses mistérios e, por isso, passa pela reflexão da dor, dos sofrimentos, das injustiças. Cristo sofreu em três aspectos. O aspecto físico – torturas, crucifixão e morte; o aspecto moral – humilhação e desprezo; e o aspecto espiritual – mesmo na cruz sentiu o abandono espiritual. ‘Meu Pai, meu Pai, por que me abandonaste?’ (cf. Mc 15,34). Mas, na verdade, não era o abandono do Pai, era assumir, em sua vida, aquilo que pode acontecer com muitas pessoas, o estado de abandono.

O homem atual precisa olhar para Cristo, cuja mensagem principal é o amor. ‘Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelo seu irmão’ (cf. Jo 15,13). Muitas vezes vivemos uma cultura de ódio, de vingança, de disputa. A cultura de Cristo é a cultura do amor. Por isso, saber sofrer, morrer e viver com amor é uma das mensagens mais importantes que o homem do século XXI deve aprender. A dor e o sofrimento são realidades da vida, ninguém pode delas escapar. E, por isso, quando nós vemos Cristo sofrer da forma que sofreu, e da maneira com que assumiu o sofrimento e a morte, nós aprendemos com Ele a lição mais importante para a vida.

Celebrar a Semana Santa tem um grande significado para a humanidade no século XXI ou em qualquer outro tempo em que possamos viver: a humanidade tem fases, e em todas essas fases históricas a mensagem de Cristo tem um sentido não só importante, mas indispensável. Se o homem não aprender a lição de Cristo, nunca será homem verdadeiro. O homem que exclui a Deus não é homem inteiro. Por isso, celebrar esses mistérios, os mais importantes da nossa fé, tem uma grande importância, de fato, para todos nós que vivemos nessa época de progressos tão significativos e às vezes de lacunas tão dolorosas na nossa vida humana, na nossa relação com o próximo e com Deus.

A Páscoa é a passagem. Passagem da morte para a vida, passagem de uma situação negativa para uma situação positiva, passagem de uma vida de pecado para uma vida na graça de Deus.

Celebrar os mistérios da Semana Santa, da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, significa apresentar Jesus como Deus que continua nos salvando. O ato salvador de Cristo não está preso a um determinado momento da história. Ele é perpétuo, por isso ele vai tendo efeitos nos vários momentos históricos da vida da humanidade.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

 

*Imagem: Cleófas

ACORDE - Escola de Música Arquidiocesana

DSC 0103Era um sonho nosso. As crianças do Instituto Padre João Emilio não poderiam ficar desamparadas em sua adolescência. Terminando sua participação no projeto de reforço escolar, turno e contraturno, aos onze anos, deveriam se desligar da casa que as acolhe com carinho. Idealizamos, então, a Escola Arquidiocesana de Música, como ação social com o nome de “Projeto Acorde”, cuja inauguração se deu na última quinta-feira, dia 28 de março de 2019.

O primeiro objetivo é oferecer, sobretudo a tais jovens, em situação de vulnerabilidade social, uma oportunidade de fazer um caminho formativo que poderá ajudá-los a cultivar valores humanos e abrir possibilidades profissionais para o futuro. Oferecer-lhes experiências que os edifique pela força harmonizadora da música é crer que os elementos desta arte têm muito o que ensinar para a vida. Ela tem o condão de encantar, de empolgar, além de ocupar o tempo com suas naturais exigências, ajudando os que a escolhem a estar em lugar seguro, sem os perigos da violência, da degeneração moral, e de outros problemas próprios da ociosidade ou das organizações criminosas hoje existentes. A volta das crianças para um meio tão vulnerável poderia representar um risco para o trabalho realizado.

“Acorde” é um nome sugestivo de muitos significados. É, inicialmente, um conjunto de notas musicais que unidas resultam numa beleza que individualmente nem de longe alcançariam. Cada umas das notas sede seu pequeno som à outra como que se escondendo para que, unidas, alcancem algo infinitamente melhor. O acorde perfeito maior, Dó, Mi, Sol, Dó funciona como lição de vida para quem participa de projeto como este. “Acorde” é também um tempo verbal. Quer despertar para um problema grave à sociedade que é a marginalidade, a pobreza, a carência que, às vezes, leva à delinquência. “Acorde”, em latim, sugere “ao coração”, lugar principal da obra de nosso Instituto e de nossa Arquidiocese.

O projeto vem também como ação litúrgica, onde se dá a Deus o culto mais elevado do coração humano. Já havíamos fundado o Coral Benedictus em 2011 e este está em pleno sucesso. Com o atual projeto, esperamos oferecer à Igreja da Região a formação de uma boa orquestra que cultive a arte que enleva e tem o poder de criar a paz.


Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Conversão: Ato que Liberta

Sarça-ardente-e-MoisésUm dos movimentos da alma humana na Quaresma deve ser a revisão de vida. Por ela se enxerga o que de bom já se realizou e percebe-se o que existe ainda de omissão ou de erros que precisam ser corrigidos. Ao fiel, resta a confiança em Deus, para empreender, com humildade, o caminho da conversão, não obstante cruzes que isso possa significar.

Na experiência do povo de Israel, segundo as narrativas bíblicas, encontram-se fatos e reações importantes que ajudarão no processo de transformação interior. No Monte Horeb, Moisés experimentou a bondade e a beleza de Deus. Na solidão das alturas geográficas, vê uma sarça que arde em fogo, mas não se destrói. Ouve uma voz que lhe diz: “Não te aproximes. Tira as sandálias, pois o chão que tu pisas é sagrado”. Com coração palpitante, diante do inaudito, ouve a revelação: “Eu sou o Deus de teus pais, de Abraão, de Isaac e de Jacó” (Ex 3, 6). Sentiu em si o mesmo que dizer: ‘sou Deus fiel que não se esquece de seus amigos do passado nem do bem realizado. Sou perene, perpétuo e pronto para fortalecer aquele que segue os meus mandamentos’.

Por este episódio, descobre-se que há um solo sagrado a ser pisado pelos pés humanos, tão frágeis, marcados pelos descaminhos do pecado, pelas infidelidades contra o boníssimo Deus. Aprende-se que há distância entre a frágil criatura e a fortaleza eterna do Criador, porém que não impede a misericórdia e a bênção regeneradora. Tirar as sandálias significa desfazer-se de suas coisas terrenas, rever por onde seus pés andaram e voltar a pisar em solo seguro. Converter-se significa aproximar-se do sobrenatural até o ponto que seja permitido pela natureza das coisas e as diferenças dos seres, e sentir o calor luminoso de Deus, que queima, mas não destrói. Exige, mas não derrota.

A conversão toma contornos de perfeição quando Deus se aproxima dos seres humanos, enviando Seu Filho para indicar a estrada da verdade. Ele morrerá na cruz em lugar dos pecadores, mas exigirá conversão, como afirma, exemplificando com desastres que causaram mortes de inocentes: “Se não vos converterdes, morrereis todos do mesmo modo” (Lc 13, 1-3).

Cristo apresenta ao pecador um Deus paciente que é capaz de aguardar três anos e mais um para que a figueira dê frutos (cf. Lc 13, 8). Porém, o processo de conversão requer ato de decisão, pois sua misericórdia não pode ser confundida com licenciosidade, como ensina a Sagrada Escritura: “Não digas: ‘Pequei: o que me aconteceu?’ porque o Senhor é paciente. Não sejas tão seguro do perdão para acumular pecado sobre pecado. Não digas: ‘Sua misericórdia é grande para perdoar meus inúmeros pecados’, porque há nele misericórdia e cólera e sua ira pousará sobre os pecadores. Não demores em voltar para o Senhor e não adies de um dia para o outro, porque, de repente, a cólera do Senhor virá e no dia do castigo perecerás” (Eclo 5,4-7).

Chiara Lubich escreveu: “O perdão não é esquecimento (…), não é fraqueza (…), não consiste em afirmar que não tem importância aquilo que é grave, ou bom aquilo que é mau (…), não é indiferente” (C. Lubich, Costruire sulla Roccia, Città Nuova, Roma 1994. Citada em Palavra de Vida- Março 2019).

Converter-se é tomar novo caminho, subir a montanha da superação, é corajosamente renunciar ao erro e abraçar a salvação. Deus espera o retorno do contrito e lhe falará amorosamente na sarça ardente do solo sagrado. Afinal, “há mais alegria no céu por um só pecador que se converta, que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15, 7).

Converter-se é o mesmo que libertar-se.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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