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Rezar pelo Brasil, vale?

oração-pelo-brasil-1Não subestimemos a fé. Ela tem força. Diante de um Brasil com sua história de problemas, mas também de superações, cremos no poder da oração, na graça divina que vem em auxílio daquele que crê.

Ao se aproximarem as eleições, celebrando a Semana da Pátria, a Igreja Católica em Juiz de Fora, através de sua Pastoral de Fé e Política, promove Grande Vigília de Oração na Catedral, a ser celebrada dia 5 de setembro, de 19h às 21h30, iniciando com a Celebração Eucarística.

Será um momento de súplica fervorosa a Deus em favor da vida ameaçada pela cultura da morte, e para que o Espírito Santo ilumine os eleitores, na hora de votar, a fim de que as paixões políticas ou os fanatismos partidários não perturbem as consciências na busca do bem comum. Não haverá espaço para propagandas políticas, nem para citação de nomes de candidatos, nem de referências a partidos. Será momento de estar respeitosamente diante de Deus, com confiança e com gratidão, pois Deus não falha quando o procuramos com fé.

A Bíblia, seja no Antigo Testamento seja no Novo, está cheia de referências ao poder da oração. As palavras de Cristo, registradas pelos evangelistas, bastam para uma consistente confiança no diálogo com Deus. No Evangelho de João, Jesus afirma: “Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vos será concedido” (Jo 16, 23). Em Mateus, assegura: “Pedi e recebereis, procurai e achareis, batei e a porta vos será aberta” (Mt 7, 7). Jesus tem tanta confiança na oração que, após amaldiçoar uma figueira inútil, chegou a proclamar: “Se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que fiz com a figueira, mas também se disserdes a uma montanha: ‘arranca-te e joga-te no mar, acontecerá’. Tudo o que, na oração, pedirdes com fé, vós o recebereis” (Mt 21, 21-22). Em Marcos, ele afirma: “Tudo o que pedirdes na oração, crede que já o recebestes e vos será concedido” (Mc 11, 24). Para ensinar a perseverança na oração, em Lucas, Jesus, comparando ao pedido insistente de um amigo que vai, fora de hora, pedir pão, diz: “Se não se levantar por ser seu amigo, ao menos vai levantar-se por causa da insistência do pedido e lhe dará o que for necessário” (Lc 11, 8).

No correr da história da Igreja, encontramos abundantes ensinamentos, páginas belas e testemunhos eloquentes de oração. Na Patrística, na Teologia, na Tradição e no Magistério da Igreja há milhares de referências ao ato de rezar em suas diversas formas. Para resumi-las em um só exemplo, recordemos o que diz o Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate (19.03.2018): “A súplica é expressão do coração que confia em Deus, pois sabe que sozinho não consegue. Na vida do povo fiel de Deus, encontramos muitas súplicas cheias de ternura crente e de profunda confiança. Não desvalorizemos a oração de petição que tantas vezes nos tranquiliza o coração e ajuda a continuar a lutar com esperança” (GE 154).

É a esperança que nos move a nos unirmos nesta hora desafiadora de nosso país, para estar livremente diante de Deus e pedir proteção à vida, pois é sagrada, e não haja leis abortistas a macular nossa Constituição, mas que os seres humanos que ainda se encontram no ventre das mães sejam respeitados integralmente. A ninguém cabe o direito de tirar a vida do outro, como ensinou o Papa Francisco há poucos dias, eliminando do Catecismo da Igreja Católica toda e qualquer concessão à pena de morte.

Rezaremos pelo Brasil para que, no próximo pleito, sejam eleitos os melhores para conduzir nosso País, a fim de que as questões mais sérias sejam resolvidas em favor do Povo Brasileiro, sobretudo dos mais sofridos ou mais humilhados.

Rezaremos para que prevaleçam a paz, a concórdia, a honestidade, a digna moralidade nas famílias, nas escolas e na sociedade, tudo colocando sob o olhar maternal de Nossa Senhora Aparecida, a quem o Brasil venera como sua Rainha e Padroeira, a Mãe de Jesus que, nas Bodas de Caná, fez súplica em favor de uma família em apuros e foi imediatamente atendida.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Vitórias da Vida

VidaNa semana que findou, o mundo teve boas notícias sobre a vida humana. Dia 9 de agosto, o Papa Francisco, depois de uma longa reflexão já dos tempos de São João Paulo II (1978-2005) e de Bento XVI (2005-2013), modificou para melhor o Catecismo da Igreja Católica que, no artigo 2267, trata sobre a pena de morte. Na evolução da humanidade, sobretudo a respeito da dignidade da pessoa humana e inviolabilidade da vida, o novo texto torna inadmissível qualquer tipo de pena capital aos seres humanos. Reconhece que, por pior que fosse um criminoso, sempre lhe restaria um pouco de dignidade e a possibilidade de conversão. Sendo o Pontífice forte defensor da vida, afirma: “A Igreja ensina, à luz do Evangelho, que a pena de morte é inadmissível e se compromete com determinação por sua abolição em todo o mundo”.

Na mesma ocasião, o Senado da Argentina desaprovou a inclusão de leis abortistas em sua Constituição, o que traz novas esperanças para que o mundo reconheça que a vida humana é inviolável. Mais uma vez, a vida venceu a morte. A corretíssima decisão do Senado Argentino vem ao encontro das palavras do Papa, na Páscoa passada, quando proclamou na bênção Urbi et Orbi, falando da ressurreição de Cristo: “… a vida venceu a morte, a luz afugentou as trevas!”.

A vida é o dom mais precioso que a natureza nos oferece. É básico para todos os demais dons. Olhando pelo prisma da fé, verificamos que o Senhor nos criou para viver. Cristo, ao assumir a vida humana, afirmou: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Morrer é uma contingência natural, embora cause dor aos que permanecem. Porém, a existência da vida eterna, após a experiência traumática da morte terrena, conforta a mente humana e lhe dá o completo entendimento das palavras de Cristo acima citadas.

Tirar a própria vida é sinal de desespero e constitui algo não aceitável pela natureza. O bom senso ensina que a vida humana deve ser sempre protegida desde a fecundação até o seu fim natural. Independente do sentido religioso, uma sã consciência reconheceria a dignidade própria da existência humana e a sua inviolabilidade.

Nestes dias em que no Brasil estão sendo tratados assuntos relacionados ao pretenso direito de abortar, a vitória da vida proclamada nos dois fatos acima citados torna-se sinal de ânimo para os defensores das crianças ainda acomodadas no seio materno, esperando o momento exato para nascer.

Os argumentos favoráveis à vida são racionais, incontestáveis e infinitamente mais fortes que os contrários. Porém, há pessoas abalizadas que, curiosamente, também defendem a legalização do aborto. Frente aos aplausos que o Papa recebeu de todas as partes do mundo quando anunciou a inadmissibilidade da pena de morte, chega-se a perguntar: o que há neste mundo que faz acontecer estas contradições?

À coerência dos dois acontecimentos da semana que passou, conclui-se que ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de tirar a vida de um ser humano. Nem mesmo os que governam, ou os que detém o poder judiciário, nem mesmo a decisão de um plebiscito, têm tal poder, pois trata-se de uma causa moral inalterável.

A verdade é que a progressão do mundo nem sempre anda igual para todos, sobretudo nas questões morais. Há, porém, os mais evoluídos que caminham à frente e garantem a vitória dos valores inalienáveis já criados pela natureza e que não podem ser destruídos nem mesmo pela opção humana.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Escapulário, objeto santo, mas não mágico (Parte 2)

Prosseguindo nosso artigo da semana passada, reflitamos hoje sobre mais alguns aspectos a respeito da devoção e o uso do escapulário de Nossa Senhora do Carmo.

Quanto ao termo “escapulário”, a etimologia nos remete ao conceito de proteção, sendo uma peça do vestuário destinada a cobrir o peito e as costas, partindo dos ombros. O vocábulo vem do latim scapula-arum, que significa ombro, costas, espaldas.

Desde aqueles anos do século XIII, quando São Simão Stock teve sua experiência mística, o uso do escapulário veio crescendo, havendo outras ordens e congregações religiosas que também o adotaram para os seus hábitos. Para uso dos leigos, em confrarias, ordens terceiras e irmandades se tornou amplo o uso desta santa veste, sobretudo nos momentos litúrgicos e procissões. Para o dia a dia, foi permitido, por bulas papais e concessões monásticas, a utilização dos chamados “bentinhos”, como verdadeiros escapulários de pequena dimensão, em forma de um cordão contendo duas medalhas, de tecido ou de metais, permitindo sua posição, uma sobre o peito e a outra sobre as costas, contendo a figura de Jesus em uma e a de Maria em outra.

O escapulário entregue a São Simão Stock evoca o manto de Elias que, ao ser arrebatado aos céus em carro de fogo, caiu de seus ombros, deixando-o como herança mística ao seu fiel discípulo e sucessor Eliseu (Cf 2 Reis 12-14).

Muitos papas, teólogos e outros membros da hierarquia, bem como grande número de fiéis, têm usado o escapulário. Todos os papas do século XX, a saber, Pio X (1903-1914), Bento XV (1914-1922), Pio XI (1922-1939), Pio XII (1939-1958), João XXIII (1958-1963), Paulo VI (1963-1978), João Paulo I (1978) e João Paulo II (1978-2005) o trouxeram piedosamente sobre seus ombros, como símbolo de sua confiança plena na proteção de Deus e no amor maternal de Maria. São muitos os santos que tiveram devoção ao escapulário, e basta citar os grandes místicos da família carmelitana, como Santa Teresa D’Ávila, São João da Cruz, Santa Teresinha, e a grande filósofa fenomenologista, Edite Stein, convertida do judaísmo ao cristianismo, se fazendo monja carmelita com o nome de Irmã Benedita da Cruz.

São João Paulo II, escrevendo ao Prior da Ordem do Carmo, em 2001, nas celebrações dos 750 anos da visão de São Simão Stock, declarou: “Também eu trago sobre o meu coração, desde há muito tempo, o Escapulário do Carmo! No sinal do Escapulário evidencia-se uma síntese eficaz da espiritualidade mariana, que alimenta a devoção dos crentes, tornando-os sensíveis à presença amorosa da Virgem Mãe nas suas vidas. O Escapulário é essencialmente um ‘hábito'”.

Na legislação emitida por vários papas, como São Pio X e Pio XII, registra-se que o escapulário não é um objeto mágico, nem um amuleto ou talismã, mas um verdadeiro sacramental que não produz efeito em si mesmo, porém age como forte expressão de pertença, de amor e de confiança na ação protetora de Deus, pelas mãos de Maria, a quem confiou a missão de Mãe de seu Filho e, por consequência, sua protetora na ordem natural.

Ao celebrar a Santa Eucaristia do dia 16 de julho, pode-se deliciar na alma com o canto latino, Flos Carmeli, bela poesia cuja tradução é: “Ó Maria, flor do Carmelo, vinha florida, esplendor do céu, Virgem fecunda e singular, Mãe bondosa e intacta, aos carmelitas dai privilégios, Estrela do mar!”

Seja usando de forma visível, seja humildemente oculto sob as vestes, o escapulário é símbolo forte do amor de Deus que nos protege, no calor do coração materno de Maria que nos aquece a fé.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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