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Uma graciosa responsabilidade

Oferta-e-dízimoA corrente crise pela qual passamos em função da pandemia de COVID-19 tem nos feito deparar com uma série de graves e necessárias restrições na nossa jornada como discípulos de Cristo. Em nome do bem-estar do rebanho, enfrentam limitações temporárias as celebrações públicas da Santa Missa e do sacramento da Penitência, dentre outras práticas caras ao povo de Deus. Mas nem por isso a vivência de nossa fé tem se esfriado. Este é o momento no qual temos uma divina oportunidade de demonstrar que nosso amor a Deus ultrapassa uma circunstância da semana e envolve o todo de nossas vidas. Temos sido encorajados a assistir missas on-line e televisionadas, a praticar a leitura orante das Escrituras, a rezarmos em família. E a prática da contribuição financeira não é uma exceção.

O Senhor Jesus Cristo nos ensinou que “é maior felicidade dar que receber” (Atos 20:35). E, de fato, as Escrituras não se calam diante de um tema tão importante, antes abordam-no com frequência e clareza. Escrevendo sua segunda carta aos coríntios, o Apóstolo São Paulo apresenta àquela comunidade a oportunidade de eles contribuírem financeiramente com as dioceses da Judeia. Ao lermos esta bela passagem da epístola, somos apresentados a alguns princípios que devem nortear nossas próprias contribuições financeiras.

1. O princípio da GRAÇA – O Apóstolo inicia esta sessão de sua carta dizendo que queria tornar conhecida aos coríntios “a graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia (…) que contribuíram espontaneamente” (2 Coríntios 8, 1-3). Como dito anteriormente, a contribuição financeira é parte vital do nosso amor a Cristo. Mais do que isso, é uma graça. Por vezes pedimos a Deus por suas graças, e é justo que assim o façamos, e nesta passagem aprendemos que uma das graças que Ele nos concede é a oportunidade de contribuir.

2. O princípio da GENEROSIDADE – Neste momento, Paulo aponta para o generoso amor de Cristo que “sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por sua pobreza” (2 Coríntios 8, 9). Aqui somos relembrados de que nossa amizade com Deus deriva da generosidade do Cristo que se doou por nós, e somos instados a imitá-lo.

3. O princípio da PROPORCIONALIDADE – Aqui, o Santo Apóstolo deixa claro que os seus destinatários deveriam contribuir “segundo as vossas posses” (2 Coríntios 8:11). Sabemos que os recursos variam entre os fiéis. Desta forma, faz-se necessário um sincero exame de consciência para que nossa contribuição não esteja aquém nem além de nossas possibilidades.

4. O princípio da VOLUNTARIEDADE – A orientação de São Paulo é inequívoca: “Cada um dê conforme o seu coração, sem constrangimento” (2 Coríntios 9, 7). É verdade que ninguém deve ser constrangido a contribuir, pois não é isso que Deus espera de nós. Mas também é verdade que um coração cheio de amor por Ele é impulsionado a contribuir.

5. O princípio da ALEGRIA – A esta altura, Paulo, que se entregou plenamente a Deus, exulta ao afirmar que “Deus ama o que contribui com alegria” (2 Coríntios 9, 7). De fato, quando compreendemos que tudo o que temos vem das generosas mãos de Deus e que nossas ofertas concorrem para a expansão do Seu Reino, contribuir deixa de ser um fardo e se transforma em uma grande alegria.

6. O princípio da PROVISÃO – o autor inspirado faz aqui uma ousada promessa. Ele afirma que o Deus “que dá a semente ao semeador e o pão para comer, vos dará rica sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça” (2 Coríntios 9, 10). Em outras palavras, doamos em fé de que o Senhor supre as necessidades daqueles que investem em Sua obra. Não se trata de doar visando receber algo. Trata-se de doar porque já temos recebido tanto de nosso Pai Celeste.

Se somos parte de uma família, contribuir para a manutenção do lar não é apenas um privilégio, mas também uma responsabilidade. Na família da fé não é diferente. A Igreja maternalmente nos ensina que para crescermos no amor a Deus e ao próximo, um dos preceitos que nos regem é “prover às necessidades materiais da Igreja consoante as possibilidades de cada um” (CIC §2043).

Não são poucos nossos compromissos financeiros, que procuramos cumprir com sabedoria, fé e lisura. E eles não cessam durante esse momento de pandemia. Tais compromissos envolvem o cuidado digno com nossos párocos, funcionários da diocese e das paróquias, nossas obras sociais e missionárias, manutenção das instalações de nossas igrejas, dentre tantas outras coisas. Diante de tudo isso, começamos a compreender que a contribuição financeira é uma prática genuinamente espiritual. Mais do que isso: trata-se de um privilégio, pois nos permite participar daquilo que o nosso Deus já está fazendo!

*Por Eduardo Faria

O outro lado da moeda: a vida!

Fé“No dia dos bens não te esqueças dos males e no dia dos males não te esqueças dos bens” (Eclesiástico 11,27). Esta passagem bíblica nos convida a reconhecer o valor da vida diante das provações e das adversidades. Por causa da ameaça invisível de uma enfermidade, vivemos momentos incertos e difíceis, mas a fé nos dá a certeza de que Deus não permitiria o mal se do próprio mal não tirasse o bem, por caminhos que só conheceremos plenamente na vida eterna. Contudo, “a eternidade já alegra o tempo” (dizia um antigo teólogo) e assim a fé nos faz degustar como por antecipação a felicidade plena e eterna para a qual fomos criados. Portanto, nos momentos difíceis devemos lembrar de tudo o que há de bom e de verdadeiro neste mundo criado por Deus em estado de caminhada.

Agora que estamos mais caseiros, surgem novas e interessantes oportunidades para ampliarmos o diálogo com os mais frágeis. Podemos agora estar mais próximos dos idosos que oferecem sabedoria e serenidade, das crianças que oferecem alegria e inocência. Podemos também contemplar por mais tempo uma flor que desabrocha, um pássaro que canta, uma bela joaninha e tantas outras maravilhas que a mãe natureza nos oferece. A vida mede-se pelo amor: amor a Deus, amor ao próximo. Neste momento, o comodismo pode aparecer como uma tentação que nos arrasta para a inércia. Mas isolamento social não é sinônimo de imobilidade e, portanto, precisamos buscar criatividade para agirmos em favor dos mais carentes através de apoio espiritual, psicológico e material. Afinal, quem não vive para servir, não serve para viver.

Obedecer às diretrizes médicas e seguir as conclusões científicas é sinal de civilidade e de responsabilidade diante do bem comum. Mas o medo não é salutar. Percebo que muitas pessoas permanecem escravas dos dramas, das notícias catastróficas, às vezes sensacionalistas, das intrigas políticas em torno do problema do vírus e de outros desequilíbrios. Creio que podemos tomar conhecimento das notícias boas ou más com a devida serenidade e com o cuidado para não cairmos na hipocondria que é um medo mórbido de doença.

Vejamos também as notícias positivas, tantas vezes escondidas. Exemplos: neste momento em que escrevo, a importante universidade americana Johns Hopkins afirma que no mundo 692 mil pessoas se recuperaram do coronavírus. Este número é cerca de quatro vezes maior que o número atual de mortes. Na atingida Itália, todos os dias nascem mais de mil crianças, segundo estimativa feita há dois anos. São informações interessantes porque revelam que apesar das ameaças concretas deste vírus, a vida continua brilhando como inestimável dom de Deus.

O que dizer então para tantas pessoas que perderam amigos e familiares por causa desta pandemia? A resposta é que não somos proprietários, mas apenas administradores da vida que Deus nos oferece dentro de um espaço de tempo que Ele mesmo determina contando com nossa colaboração. “Ninguém pode escolher arbitrariamente viver ou morrer; efetivamente, senhor absoluto de tal decisão é apenas o Criador, aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos (Atos dos Apóstolos 17, 28)” (Papa São João Paulo II).

“Eu não morro, entro na vida”! Estas são palavras de Santa Teresinha de Lisieux que permanecem oportunas para lembrarmos da perpetuidade de pessoas boas que edificaram nossas vidas e cujo destino eterno é assegurado por Jesus ao dizer que os justos alcançarão a vida eterna (Mateus 25,46; João 11,25).

Por fim, lembremo-nos que é fonte de felicidade e paz ter confiança em Deus, em todas as circunstâncias, mesmo na adversidade. Uma oração de Santa Teresa de Ávila exprime admiravelmente tal atitude:


«Nada te perturbe / Nada te espante
Tudo passa / Deus não muda
A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem
nada lhe falta / Só Deus basta» .


*Por Luís Eugênio Sanábio e Souza – Escritor

A Páscoa no ano em que o mundo parou

DSC 0347Nesta situação tão especial do mundo hodierno, marcado pela pandemia do novo coronavírus, a celebração da Páscoa representa um hálito de esperança, uma força que anima, sentimento que traz paz, no meio das lutas e apreensões dos médicos, das autoridades públicas e de toda a população.

Depois da paixão e morte de Jesus, sobre as quais meditamos e celebramos nos 40 dias da Quaresma e na Semana Santa, de forma on-line, ao chegar a Vigília Pascal pudemos proclamar jubilosos, com as palavras de São Paulo aos Romanos: “Cristo Ressuscitou dos mortos e não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele” (Rom 6, 3-11).

O Senhor apareceu ressuscitado várias vezes a seus discípulos e discípulas: comeu com eles, na reunião daquele primeiro domingo, no cenáculo (Lc 24, 36-49; Jo 20, 19-23), se alimentou de peixe, à beira do lago de Genesaré (Jo 21, 1- 13), partiu o pão aos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) e foi visto em outras ocasiões. É o próprio Mateus, autor do evangelho lido no Sábado Santo, que, por fim, traduzirá a última palavra de Jesus Ressuscitado aos discípulos, após todas as aparições: “Eis que estarei convosco até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).

Nós cremos e podemos nos alegrar com a ressurreição do Senhor, pois nela estamos inseridos pelo nosso Batismo, como ouvimos de São Paulo na Carta aos Romanos: “Pelo Batismo, na sua morte, fomos sepultados com Ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova” (Rom 6,4). Isto nos dá a certeza de que, pelo Batismo, não somos apenas purificados de nossos pecados, nem apenas passamos a pertencer à Igreja, mas também, por ele, nos tornamos coparticipantes de Seus sofrimentos e de Sua ressurreição. As três imersões, e três emersões, simbolizadas também no Batismo por intenção, representam esta realidade correspondente à escuridão dos sofrimentos e à invencível luz da vida que ressuscita, pela força de Deus que nos criou e por Seu Filho, que nos salvou.

Alimentados pela Eucaristia e pela Palavra, somos sempre renovados e recobramos nova vida, até que um dia sejamos acolhidos por Ele no banquete da eternidade, onde o perigo, a incerteza, a dor, a tristeza e todas as preocupações desaparecerão para dar lugar à alegria de viver, livres e felizes, para sempre.

Os fiéis que participaram da Semana Santa em suas casas, neste ano de isolamento social, puderam apenas fazer sua comunhão espiritual e foram privados, pelas circunstâncias, de receberem a Sagrada Eucaristia de forma sacramental. Aguardando, avidamente, o momento de irem à igreja para Comungar o Corpo de Cristo, conviverem com os irmãos na comunidade e fazerem a sua Páscoa de forma completa, os cristãos rezaram, dos santuários de seus lares, pedindo o fim da pandemia, a volta à normalidade das relações humanas, porém purificada, renovada, convertida.

Imerso nos sentimentos do Senhor, desejei ardentemente celebrar esta Páscoa em união espiritual, sobretudo com os médicos e médicas, enfermeiros e enfermeiras, e ainda com todos os demais profissionais da saúde. Penso nos funcionários dos laboratórios, nos que fazem a limpeza dos hospitais, nos que cuidam do lixo, nos que transportam enfermos e tantos outros que estão se desdobrando, se dedicando para salvar vidas neste momento pandêmico e, muitas vezes, arriscando as suas próprias em favor da subsistência dos demais. Eles participam, de alguma forma, da força renovadora que vem de Jesus Ressuscitado, para vencer o mal e a morte.

Que de Cristo venham a luz e as graças para que logo se descubra o medicamento certo para o tratamento e a vacina própria para a prevenção. Páscoa é passagem para uma vida nova.

Aos médicos e demais servidores da saúde, dou meu abraço virtual, dizendo-lhes: força e confiança. Também a você, leitor, desejo, de coração, uma feliz e santa Páscoa com os seus familiares. Tenhamos todos saúde, força para o trabalho e paz. Podemos, por ora, juntos proclamar: tudo passará e então nos abraçaremos e, plenamente juntos, celebraremos as alegrias pascais. Aí repetiremos, com mais ardor e cheios de festa: Jesus Ressuscitou! A vida venceu a morte! Fomos salvos para sempre!


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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