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As Igrejas que compõem a unidade Católica

cupula-sao-pedro-1Quando Cristo rezou prevendo sua morte, pediu ao Pai, por três vezes, a unidade de seus seguidores. Tal oração encontra-se no evangelho de São João, onde se pode ler: “Pai, que todos sejam um, como eu e Tu, para que o mundo creia” (cf Jo. 17, 21). Na força desta oração, tem origem o termo Católico, cuja raiz está na língua grega (Katolikòs) que significa universal, totalidade, unidade de um povo.

Quando nos referimos ao termo Católico, normalmente pensamos na Igreja latina, sem nos recordarmos que, além do rito romano, há muitas outros que compõem a catolicidade da Igreja. Na verdade, existem hoje 24 igrejas sui iuris, ou seja, com organização própria tanto no seu ordenamento jurídico como na liturgia, mas todas unidas na comunhão romana, com a mesma doutrina, e reconhecendo o Papa como legítimo Sucessor de Pedro, prestando-lhe obediência.

De fato, a Igreja do rito latino, ou romano, é a maior em número, abrangendo todo o Ocidente e algumas áreas orientais. Muitas outras, porém, existem com certa autonomia em suas expressões e em sua organização interna. As mais conhecidas, no Brasil, são as dos ritos melquita, ucraniano, ortodoxo católico, além da Igreja Maronita, a Igreja Armênica.

O Concilio E. Vaticano II publicou o Decreto Orientalium Ecclesiarum com normativas para as Igrejas Orientais e diz em sua introdução: “A Igreja Católica aprecia as instituições, os ritos litúrgicos, as tradições eclesiásticas e a disciplina cristã das Igrejas Orientais. Com efeito, ilustres em razão da sua veneranda antiguidade, nelas brilha aquela tradição que vem dos Apóstolos através dos Padres e que constitui parte do patrimônio divinamente revelado e indiviso da Igreja universal”.

Porém, o termo Sui Iuris não foi usado pelo Concílio, que se refere às Igrejas Orientais como Ritos e teve certo cuidado ao usar o termo Igrejas Particulares referindo-se a elas, reconhecendo nelas algo específico em relação às dioceses do rito latino. As Igrejas sui iuris, agindo em comunhão plena com o Bispo de Roma, reconhecem nele não só símbolo, mas garantidor e responsável pela unidade entre os cristãos, pela autoridade que lhe cabe tanto nas áreas administrativas quanto teológicas.

No Codex Iuris Canonici Ecclesiae Orientalis, promulgado a 8 de outubro de 1990, pelo Papa João Paulo II, o termo aparece para designar tais grupos de cristãos organizados no Oriente de fortíssima tradição histórica, cujas bases se encontram na primitiva organização eclesial dos cinco patriarcados – Roma, Constantinopla (ou Bizâncio), Jerusalém, Antioquia e Alexandria – que já reconheciam o primado da Igreja de Roma.

Unidos como autênticos irmãos de várias tradições, vivendo em paz e harmonia com o Sucessor de Pedro, os cristãos reunidos numa única Igreja Católica, prosseguem seu caminho rumo à Igreja celeste, onde prevalece a mais perfeita unidade, na comunhão perpétua dos santos, regida pela Trindade Santíssima.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Arte que comunica e evangeliza

Muro-da-CúriaNos últimos meses, a Arquidiocese de Juiz de Fora tem se esforçado para reformar o muro que divide a chamada “Colina da Fé” da Avenida Rio Branco, principal via de Juiz de Fora. Para quem não conhece, o terreno, que abriga o Seminário Santo Antônio, tem hoje, ao seu lado, uma nova construção, muita sólida e bonita de quatro andares, onde nós localizamos não só a Cúria, mas todo o Centro Administrativo de nossa Igreja Particular, o Centro Pastoral João Paulo II, o Arquivo, o setor de Comunicação e o Tribunal Eclesiástico. A este grande prédio demos o nome de “Lumen Gentium”, em homenagem ao Concílio Vaticano II. Pretendemos colocar ali ainda um Museu Arquidiocesano e a Rádio Catedral, que está em um outro local e será transferida futuramente para este que foi construído a partir de 2011 e inaugurado em 2013.

O grande muro era apenas chapiscado e estava muito feio, com lodo, além de danificado em parte da estrutura. Após a sua restauração, veio a dúvida: como pintá-lo? Como evitar as pichações? Então, eu tive a ideia de tirar partido deste grande painel – são mais de 60 metros de muro – para comunicar o evangelho às pessoas que passam na avenida principal da cidade. Afinal, o muro que divide pode unir. A ideia é traduzir nele, de forma artística, a mensagem de tudo aquilo que está dentro da “Colina da Fé”: levar Jesus para os outros e trazer os outros para Cristo.

E, para isso, nós escolhemos cenas bíblicas para pintar ao estilo de graffiti, que hoje também é muito usual nas cidades. As pinturas são compostas, em primeiro lugar, por figuras que representam as contemplações dos mistérios do Terço de Nossa Senhora. A segunda seção, por sua vez, retrata uma breve história da Igreja: seu início, com os pilares São Pedro e São Paulo e o mártir Santo Estevão; a Idade Média, representada por São Bento no século VI, São Francisco no século XIII, e Santa Teresa no século XVI; e o tempo contemporâneo, tendo o Concílio Vaticano II como marco principal, através das figuras de São João XXIII e de São Paulo VI, além de suas quatro constituições principais – Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium, Dei Verbum e a Gaudium et Spes. Já a Igreja local é representada pela Catedral Metropolitana.

Tal iniciativa obedece aos preceitos da Igreja, que sempre utilizou a arte para cumprir a sua missão de evangelizar. A arte é uma expressão da beleza e toda beleza comunica e motiva. Quem está diante de algo bonito não fica inerte e alguma mensagem vai ao seu coração, ainda que seja subliminarmente. A beleza é reflexo de Deus, Ele é a beleza suprema. Devemos utilizar todos os meios que pudermos para transmitir o evangelho, em vista da salvação de todos.

A pintura do muro também vai em direção ao que é proposto nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora para o próximo quadriênio (2019 a 2023), aprovadas na última Assembleia da CNBB e que estão centradas na evangelização do mundo urbano. Em nosso particular, na Arquidiocese de Juiz de Fora, mesmo antes das DGAE, nós estávamos muito preocupados com o tema. Já tínhamos programado e já estávamos construindo o II Sínodo Arquidiocesano, que tem como tema a evangelização da cidade.

A realidade da nossa Arquidiocese é um pouco particular: nós temos uma grande cidade de 600 mil habitantes, que é Juiz de Fora, e depois mais 36 municípios menores, sabendo que o segundo em população é Santos Dumont, com 50 mil habitantes. Então, nós dividimos o Sínodo em duas partes: uma que vai tratar apenas da grande cidade de Juiz de Fora, com suas características muito atuais, essencialmente urbanas. O segundo momento do Sínodo será o interior, as outras cidades que, como sabemos, também estão marcadas fortemente pela característica de urbanismo.

E, por isso, este painel agora grafitado tem tudo a ver com as DGAE da CNBB para todo o Brasil e com a proposta do nosso Sínodo Arquidiocesano, cujo lema será “Proclamai o Evangelho pelas ruas e sobre os telhados” (Mt 10,27).


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Diáconos: servos do altar e dos pobres

São-LourençoO modelo do diácono na Igreja é Cristo, o eterno Diácono do Pai. Todo Ministério Ordenado é como a atualização do ministério do Filho de Deus, nosso Salvador. Quanto ao termo, diácono significa servidor, tendo origem etimológica no idioma grego.

O ministério diaconal foi instituído pelos Apóstolos, quando, tendo aumentado muito o número dos adeptos da fé em Cristo, se viram super atarefados com o serviço aos pobres, não lhes sobrando tempo para rezar e para a pregação da Palavra (cf. Atos 6). Escolheram sete homens de comprovada virtude, cheios do Espírito Santo, entre os quais, Estêvão, que foi depois o primeiro mártir do cristianismo (cf. Atos 7). Entre estes, havia também um que não era judeu de nascimento, cujo nome era Nicolau, o que demonstra a abertura da fé cristã para todos os povos. Nestes primeiros sete, os diáconos se espelham para viverem seu ministério.

Muitos diáconos se santificaram na história. No dia 6 de agosto do ano de 258, o Papa Sisto II foi martirizado com quatro diáconos da Diocese de Roma, pela perseguição do Imperador Valeriano. Quatro dias depois, ou seja, no dia 10, foi também sentenciado, com pena de morte, o Diácono Lourenço, que era ecônomo da comunidade. O Imperador não o executou junto aos demais, porque ambicionava usurpar o dinheiro da Igreja; porém Lourenço já havia repartido todo o patrimônio com os pobres. Ao ser intimado pelos juízes do Imperador a entregar os bens eclesiásticos, apresentou os pobres dizendo: “Eis a riqueza da Igreja”. Foi esta a palavra decisiva para que o Imperador, cheio de ódio, o mandasse sacrificar em uma grelha incandescente, colocada sobre um braseiro. Conta-se que Lourenço suportou com tanta fé, amor a Deus e união a Cristo, que teria conservado até mesmo o humor, dizendo a certo momento aos algozes: “Pode me virar, pois desse lado já está assado”.

Este sábado, 10 de agosto de 2019, dia litúrgico de São Lourenço, Diácono e Mártir, é um dia especial para a nossa Igreja Particular de Juiz de Fora e para nossa caminhada preparatória rumo ao 2º Sínodo Arquidiocesano, a iniciar-se em outubro próximo. A oferta dos ministérios de Leitor e Acólito que a Igreja faz a vinte e cinco candidatos ao Diaconado Permanente, depois de terem se preparado em um curso filosófico/teológico de quase quatro anos, representa significativo aumento dos servidores do Povo de Deus.

Como Leitores, passarão a assimilar mais a Palavra de Deus para comunicá-la com incontestável autenticidade; como Acólitos, alimentar-se-ão, com crescente santidade, do mistério do altar para repartir o Pão Eucarístico aos fiéis com dignidade e unção. Nestas funções litúrgicas, está intrinsecamente presente o serviço aos pobres e sofredores que caracteriza o ministério diaconal.

Às vésperas da Semana da Família, tenho imensa alegria de conferir a estes vinte e cinco senhores, esposos e pais de comprovada fé, tais Ministérios sagrados. Saúdo com afeto paternal e fraternal os ministrandos, suas dignas esposas, seus queridos filhos e a toda nossa Arquidiocese juiz-forana, uma Igreja sempre em missão, pronta para pregar pelas ruas e sobre os telhados, a santa Palavra de Deus.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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