Maria, A Virgem de Nazaré, Mulher Orante (Parte 1)
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- Segunda, 10 Dezembro 2018 10:50
O livro dos Atos do Apóstolos diz que os primeiros cristãos, depois que o Senhor subiu para o céu, permaneciam unidos e não deixavam nunca de rezar. Com eles estava Maria, a Mãe do Senhor: “Todos perseveravam na oração em comum, junto com algumas mulheres, entre elas, Maria, a mãe de Jesus e com os parentes dele” (At 1, 14). Mais adiante, relata o mesmo livro bíblico que os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar quando desceu sobre eles o Espírito Santo (cf At 2, 12).
Vemos que, para a vinda do Espírito Santo, o ambiente propício estava preparado. Na abertura para Deus o Espírito se manifesta. A vida de oração era um legado preciosíssimo que os apóstolos herdaram de Jesus. Certo dia, eles mesmos pediram ao Senhor: “Ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1). Deus já havia colocado no coração do povo judeu aguçado espírito de oração. Foi este povo que o pai escolheu para enviar seu Filho à humanidade. E foi através de Maria, íntegra na observância dos princípios da fé de Abraão, que se realizou a encarnação do Verbo. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Comtemplemos Abraão, Moisés, todos os patriarcas, reis e profetas. Todos são inspiradores de oração, mostrando que sem esta prática é impossível estar em sintonia com Deus.
Maria, mulher hebreia de convicções plenas, filha de Joaquim e Ana, família observadora das Leis sagradas, tinha em sua alma a predileção pelas coisas do alto. Como toda mulher de Israel, começa seu dia bendizendo a Deus com a “Beraká”: “Bendito sejais, Vós, Senhor que me criastes segundo a vossa vontade”. Como todo hebreu fiel, tinha à sua disposição a pequena sinagoga de Nazaré, onde podia ir todos os dias ouvir a “Shemá Israel” (Escuta Israel) (Dt 6), lida em voz alta por algum Rabino que explicava o sentido da Palavra de Deus. Aberta ao alto, como sempre acontecia com jovens amorosos de Javé, aprendiam de cor salmos, cânticos e outros trechos da Torá, ou seja, o conjunto dos primeiros 5 livros da Bíblia Sagrada. Assim é que entendemos que, ao ser anunciada pelo Arcanjo Gabriel, ela saiu apressadamente para encontrar sua prima Isabel, que residia sobre o monte Arim Karem, nos arredores de Jerusalém, há cerca de 100 km de Nazaré. Foi lá que, no diálogo com outra mulher orante, já idosa, esposa de Zacarias, que Maria cantou o seu Magnificat com termos muito parecidos com o cântico de Ana, presente no livro mais antigo das Escrituras, 1º livro de Samuel (Sam 2, 1 ss).
Antes disso, contudo, como costume de toda família judaica, Joaquim e Ana a levavam a Jerusalém três vezes ao ano, para visitar o único templo dos israelitas que se localizava em Jerusalém, a cidade da Paz, a capital religiosa do povo de Israel, e celebrar os grandes feitos do Senhor. Iam para a festa das cabanas, conhecida como “Sukkot”, no início do ano hebraico, chamado “Rosh Hashaná”. As cabanas representavam as tendas do deserto quando o povo estava em marcha para a Terra Prometida, sob a liderança de Moisés que o tirou da escravidão do Egito.
Nas festas de Pentecostes, as mulheres se reuniam no ‘pátio das mulheres’ e podiam oferecer aos sacerdotes as primícias de suas colheitas. Iam, por fim, para a grande festa da Peshà, a Páscoa, com a qual celebravam o principal fato de sua história que foi a libertação total da escravidão no Egito e a entrada na Terra Prometida.
As informações sobre a vida cotidiana da família de Nazaré podem ser encontradas, com muita beleza, no precioso livro “Maria, Mãe da Humanidade”, de autoria de Frei Bruno Varriano – OFM, frade brasileiro que vive hoje em Nazaré, como guardião e reitor da Basílica da Anunciação, da Custódia da Terra Santa.
Prosseguiremos semana que vem com estas reflexões.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Pobres sempre os tereis entre vós
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- Sexta, 30 Novembro 2018 12:33
Faz dois anos que o Papa Francisco criou o DIA MUNDIAL DOS POBRES. Deve ser celebrado todos os anos na Igreja, no Domingo que precede o final do calendário litúrgico que se dá quase sempre no final de novembro. A decisão é justa, pois vivemos num mundo em que as desigualdades sociais clamam por solução.
Certamente há diferenças inofensivas entre nós. Raças diferentes, cores diferentes, línguas diferentes, origens diferentes, opções diferentes, humores diferentes, dons diferentes e tantas outras dessemelhanças formam o poliedro natural da raça humana. Buscar a igualdade em tudo é tarefa inútil e desnecessária. Que mal há em nascerem diferentes as etnias humanas?
Porém, quando se entra no campo social as coisas se complicam, pois comparecem os critérios éticos e morais, onde a questão não é apenas a realidade das origens e condições físicas, mas a dignidade humana e as opções individuais egotistas.
Na verdade, as diferenças naturais não colocam em risco os direitos de cada um. Mas as criadas pelas pessoas humanas, quando fruto do pecado, são danosas; o pecado gera seus descendentes injustos. A ganância, a luxúria, a inveja e todos os vícios capitais são filhos do grande pecado que é o egoísmo, condição oposta ao amor ao próximo. Surgem então as diferenças negativas. Uma delas é a questão da gritante distância entre os que detêm riquezas fabulosas e pobres que não têm o que comer.
Aqui é preciso prevenir: nem toda riqueza é fruto do pecado e nem toda pobreza é resultado das injustiças sociais. A propriedade adquirida por meios honestos, lícitos e procedente do esforço de gente que, pelo trabalho, progride, é justa, garante a Doutrina Social da Igreja. Mas é pecado ser rico quando o acúmulo de bens materiais nasce da corrupção, da ganância, do ter pelo ter, do grande engano de colocar o lucro pessoal ou do grupo ou do partido político acima das condições humanas de vida a que todos têm direitos iguais. Ninguém foi criado para morrer de fome ou para viver doente sem condições de tratamento. Ninguém foi criado para sofrer sem moradia, escola, segurança, trabalho. Essas diferenças devem ser vencidas, pois não são naturais e nem benéficas. Mas como? Com que meio?
Eis a crucialidade da questão. Quando Jesus afirma que “pobres sempre os tereis entre vós“, certamente não se referiu à inércia diante da injustiça social que faz alguns terem total condições de acesso aos mencionados meios e outros padecerem condições inóspitas com desnecessários e cruéis sacrifícios.
Onde está a solução? Certamente a primeira responsabilidade cabe ao Estado, que tem o dever de encontrar meios para garantir a todos vida digna e acesso igual aos meios para isso. Mas também cabe à opção de cada pessoa.
A palavra de Cristo sobre a existência contínua de pobres entre nós pode significar que será inevitável haver alguma diferença entre a raça humana, não fruto do pecado social, mas da condição natural, pois Deus proporcionou dons diferentes para cada um de seus filhos. Um terá mais aptidão para certos trabalhos, outra mais facilidade natural para solução de problemas, não causando isso rivalidade e opressão. Esta distinção se esclarece quando pensamos: nem todos são músicos, alguns são gênios na arte das artes, mas isso não humilha e nem causa problemas para quem não tem estes dons. Pelo contrário, ao ouvir peças de Bach, Vivaldi, Divòrack, Vila Lobos, Vinicius ou Pixinguinha, ninguém se irrita por não ter seus carismas geniais, mas agradece por eles terem existido. A minha pobreza de não ser como eles não é má.
No campo dos bens materiais, porém, as coisas não são tão simples. Se por um lado sempre haverá certas diferenças não pecaminosas na posse de bens materiais, a palavra de Cristo vai a campo mais profundo. Padre Kongings-sj, admirável no conhecimento bíblico e na exegese dos textos, explica que o termo usado por Jesus não nos leva ao conformismo pecaminoso, mas indica que o melhor é que não houvesse pobreza para ninguém, mas em havendo, a pessoa humana não seja injusta e não deixe de esforçar-se para que as diferenças diminuam e se chegue a um ponto onde não falte nada a ninguém para viver com dignidade. De fato, após a ressurreição de Cristo, sua ascensão e sua ausência física, os “cristãos tinham tudo em comum, e entre eles não havia indigentes” (cf Atos dos Apóstolos 4, 34-36).
Na abertura da Conferência de Puebla, em 1979, o Papa São João Paulo II afirmou: “Sob toda propriedade particular, pesa uma hipoteca social”. Isso significa que a Igreja não condena a propriedade privada, mas ensina que todo prioritário tem que ter a consciência de que o que temos não pertence inteiramente a nós, mas também àqueles que nada tem ou que tenham o insuficiente para viver.
Eis aí tarefa para todos na família, na escola ou em qualquer outro lugar: educar para a solidariedade, o altruísmo, a partilha e amor a Deus e ao próximo.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Os Eleitos e o Brasil sob Materna Proteção
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- Segunda, 05 Novembro 2018 12:35
O coração da maioria dos brasileiros confia na intercessão de Maria, a Mãe do Senhor. Afinal, foi a Virgem de Nazaré que socorreu a família de Caná da Galileia, quando esteve em apuros. Dirigindo-se a Jesus, sua prece de intercessão foi atendida de imediato. A única recomendação dada por ela foi essa: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Assim, segundo as Escrituras, se deu o primeiro milagre de Cristo.
Nesta hora de novas esperanças para o Brasil e os Estados da Federação, quem crê nessa verdade não deixará de invocar sua proteção, suplicando que ampare os recém-eleitos, bem como as famílias, a vida, a dignidade humana, a paz social e a democracia. Debaixo do manto de Nossa Senhora e Nossa Rainha, os fiéis brasileiros colocam as crianças para que não sejam maculadas com ideologias agressivas à moralidade e à ciência, depositam os 14 milhões de desempregados gerados pela crise dos últimos anos, introduzem a falta de segurança diante do crescimento assustador de crimes, suicídios e violência.
Também esperam soluções viáveis para as questões trabalhistas, o uso ou não de armas, a reforma do sistema carcerário que hoje não consegue restaurar a vida dos apenados. Outros pontos preocupantes, para governantes e o povo, são como vencer a desumanidade dos abortistas, a incompreensível proposta de socialização das drogas ilícitas, a corrupção política, as questões ecológicas, o insuficiente saneamento básico e a educação distorcida para crianças entregues ao Estado em tempo integral, com mínimo de participação dos pais. Muitos outros problemas estarão na pauta dos novos governantes e na esperança dos brasileiros.
Quanto ao aborto, o Papa Francisco, na catequese que fez dia 10 de outubro passado, afirmou: “Interromper uma gravidez é o mesmo que eliminar alguém. É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? (…) É justo contratar um matador de aluguel para resolver um problema? Não, isso não é justo”. Em junho passado, o Papa Francisco havia comentado com severidade comparando o aborto feito em caso de malformação do feto como programa de “eugenia da era nazista”.
Alimentemos nossa esperança. Confiamos na intercessão de nossa Mãe e Padroeira que pedirá ao Pai e ao Filho que enviem o Espírito Santo para iluminar os eleitos nos Poderes Executivo e Legislativo, e também sobre o Judiciário para que a vida seja defendida em sua integralidade.
Sobre a devoção dos brasileiros a Nossa Senhora Aparecida, o Papa Francisco escreveu aos Bispos reunidos na 36ª Assembleia da Conferência Episcopal Latino Americana, em maio de 2015, afirmando: “Em Aparecida, encontramos a dinâmica do povo fiel que se confessa pecador e salvo (…), um povo consciente de que suas redes, sua vida, está cheia de uma presença que o anima a não perder a esperança; uma presença que se esconde no cotidiano do lugar e das famílias, nestes silenciosos espaços em que o Espírito Santo continua apontando ao nosso Continente. Tudo isto nos apresenta o formoso ícone que a nós pastores convida a contemplar”.
O atual Sucessor de Pedro já havia valorizado a celebração e o amor do povo brasileiro a Nossa Senhora com outros expressivos gestos. Concedeu indulgência plenária, durante o Ano Mariano, aos peregrinos do Santuário Nacional e das Paróquias a ela dedicadas, mandou edificar, nos jardins do Vaticano, monumento à “Padroeira do Brasil”, enviou mensagens, escreveu oração, mandou seu Legado para as celebrações dos trezentos anos do encontro da imagem em 2017, por fim, ofereceu a Rosa de Ouro ao Santuário de Aparecida, prêmio raro e singular que a Santa Sé reserva para ocasiões muito especiais, tendo afirmado anteriormente, que “Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe”.
Ela acompanhe passo a passo e abençoe o novo Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, o Governador de Minas, Sr. Romeu Zema Neto, e todos os demais eleitos. Todos estamos, com fé em Deus e a proteção materna de Maria, torcendo pelo Brasil.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora