Peregrinando nos caminhos do Senhor
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- Quarta, 02 Outubro 2019 09:02
Entre os dias 13 e 27 de setembro, a Arquidiocese de Juiz de Fora esteve em peregrinação à Terra Santa e a alguns santuários italianos. Contando com 55 pessoas, sendo nove de outras (arqui)dioceses, a nossa Igreja Particular promoveu e realizou verdadeiro Exercício Espiritual, nos lugares santos por onde Jesus andou, pregou, morreu, deu a sua vida por nós e ressuscitou.
Na condição de Diretor Espiritual, conduzi as orações, meditações, reflexões bíblicas, e pude ainda dar algumas informações históricas para o grupo, ajudado por quatro sacerdotes: os padres Johnson Ferreira Mury; Sebastião Alves (Arautos do Evangelho); Dione César de Oliveira Goulart, Pároco de São José, de Bicas (MG); e João Luiz Moreira, que é meu irmão de sangue, Pároco de São Bento de Itapecerica (MG).
Fomos direto a Nazaré, onde encontramos a casa descoberta pelas escavações arqueológicas, na qual Maria recebeu o anúncio do Anjo Gabriel. Causa emoção ler na artística pedra de mármore sob o altar: “Hic Verbum caro factum est” (Aqui o Verbo se encarnou). Neste lugar sagrado, nos inclinamos para venerar o momento que mudou toda a história da humanidade: a intervenção direta de Deus para a nossa salvação.
Ali, celebramos solenemente a Oração do Angelus, ao qual eu pude presidir a convite de Frei Bruno Varriano, grande sacerdote Franciscano ítalo-brasileiro que reside, há anos, em Nazaré como Guardião de várias cidades da Galileia. Ele se tornou nosso verdadeiro anjo tutelar na Terra Santa.
Tivemos ainda a oportunidade de celebrar a missa e visitar a casa de São José, onde os arqueólogos encontraram sinais de carpintaria. Depois, visitamos Cafarnaum e as cidades que estão ao redor do Lago de Tiberíades, local em que Jesus viveu durante praticamente três anos.
Vários relatos bíblicos foram lidos ao redor do lago de Genesaré. Para mim, pessoalmente, é um local significativo, porquanto abriga o espaço em que Pedro fez seu último colóquio com Jesus, sobre seu amor para com Ele.
Cristo pergunta, por três vezes, a Pedro: ‘Tu me amas?’; e ele responde: ‘Tu sabes tudo, sabes que eu Te amo’, e Jesus manda-o apascentar as Suas ovelhas. Foi deste diálogo que eu quis tirar o lema do meu episcopado: “Sabes que Te amo”. No mesmo local onde São Pedro fez a profissão de fé que compartilho, eu quis rezar em ação de graças pelos meus 20 anos de bispo, que completo no dia 16 de outubro, antecipadamente.
Nessa romaria arquidiocesana, nós rezamos por muitas outras intenções: pela nossa Arquidiocese, que está preparando o seu II Sínodo; pelo Sínodo da Amazônia, que o Papa vai presidir em outubro, em Roma; rezamos por todas as pessoas que fazem aniversário no meses de setembro e outubro; pelas (arqui)dioceses ali presentes; pela Igreja.
Visitamos muitos outros lugares, mas um lugar significativo foi Jerusalém, onde terminamos a nossa visita. No Santo Sepulcro, túmulo da Ressurreição, tivemos a oportunidade de entrar solenemente e celebrar a missa em latim, com pede o ritual do local. Não há nada lá, a não ser um altar. O corpo de Cristo não está ali; ressuscitou, está no céu. Mas Ele está agora misticamente em cada missa que ali se celebra. Foi um momento emocionante, muito agradável, que nos encheu o coração de amor e fé a Deus, nosso Senhor.
Também visitamos o Cenáculo, a casa da dormição de Maria, o local em que Jesus ensinou o Pai Nosso, o Monte Ain Karin – onde Maria encontrou-se com Santa Isabel -, e muitos outros lugares. Ainda em Jerusalém, terminamos nossa visita com uma Via-Sacra feita no caminho em que Cristo teria passado há dois mil anos, carregando a Sua cruz. E celebramos vitoriosos a Sua ressurreição, porque Ele não permaneceu na cruz, mas ressuscitou e está vivo para sempre.
Da Terra Santa, fomos para a Itália visitar alguns santuários, recordando a expansão do Cristianismo sobretudo através de Pedro e de Paulo, que foram para Roma e, daí, propagaram a fé para muitos outros lugares. Primeiramente, fomos ao Santuário de São Francisco de Assis e Santa Clara, na cidade de Assis. Visitamos a Porciúncula, palavra que significa “pequena porção de terra”, onde há uma igrejinha que São Francisco reconstruiu a pedido de Nosso Senhor, e onde ele esteve com seus primeiros frades. Fomos ainda à Cássia visitar o Santuário de Santa Rita, e a Lanciano, onde se guarda a relíquia do Milagre Eucarístico. Depois, percorremos vários lugares de Roma, sobretudo as suas quatro basílicas: São Pedro, São Paulo Fora dos Muros, Santa Maria Maior e São João de Latrão, na qual celebramos a última missa da viagem.
A peregrinação arquidiocesana de Juiz de Fora à Terra Santa e a alguns santuários italianos representou muito para o nosso grupo. A avaliação foi positiva e o que nós queremos é que nosso Senhor, pela força de Seu sangue derramado, a Sua morte e ressurreição, abençoe a Igreja Particular de Juiz de Fora, para que sejamos cada vez mais capazes de entender a Sua Palavra e entusiastas na sua divulgação.
Que a nossa Arquidiocese seja abençoada sempre! Que brilhe sobre nós a luz da ressurreição, vencendo as trevas do erro e do pecado, dos obstáculos e das dificuldades que se possam colocar neste mundo de hoje contra a palavra de Cristo. Voltamos muito mais fortes, por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
As Igrejas que compõem a unidade Católica
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- Segunda, 09 Setembro 2019 09:56
Quando Cristo rezou prevendo sua morte, pediu ao Pai, por três vezes, a unidade de seus seguidores. Tal oração encontra-se no evangelho de São João, onde se pode ler: “Pai, que todos sejam um, como eu e Tu, para que o mundo creia” (cf Jo. 17, 21). Na força desta oração, tem origem o termo Católico, cuja raiz está na língua grega (Katolikòs) que significa universal, totalidade, unidade de um povo.
Quando nos referimos ao termo Católico, normalmente pensamos na Igreja latina, sem nos recordarmos que, além do rito romano, há muitas outros que compõem a catolicidade da Igreja. Na verdade, existem hoje 24 igrejas sui iuris, ou seja, com organização própria tanto no seu ordenamento jurídico como na liturgia, mas todas unidas na comunhão romana, com a mesma doutrina, e reconhecendo o Papa como legítimo Sucessor de Pedro, prestando-lhe obediência.
De fato, a Igreja do rito latino, ou romano, é a maior em número, abrangendo todo o Ocidente e algumas áreas orientais. Muitas outras, porém, existem com certa autonomia em suas expressões e em sua organização interna. As mais conhecidas, no Brasil, são as dos ritos melquita, ucraniano, ortodoxo católico, além da Igreja Maronita, a Igreja Armênica.
O Concilio E. Vaticano II publicou o Decreto Orientalium Ecclesiarum com normativas para as Igrejas Orientais e diz em sua introdução: “A Igreja Católica aprecia as instituições, os ritos litúrgicos, as tradições eclesiásticas e a disciplina cristã das Igrejas Orientais. Com efeito, ilustres em razão da sua veneranda antiguidade, nelas brilha aquela tradição que vem dos Apóstolos através dos Padres e que constitui parte do patrimônio divinamente revelado e indiviso da Igreja universal”.
Porém, o termo Sui Iuris não foi usado pelo Concílio, que se refere às Igrejas Orientais como Ritos e teve certo cuidado ao usar o termo Igrejas Particulares referindo-se a elas, reconhecendo nelas algo específico em relação às dioceses do rito latino. As Igrejas sui iuris, agindo em comunhão plena com o Bispo de Roma, reconhecem nele não só símbolo, mas garantidor e responsável pela unidade entre os cristãos, pela autoridade que lhe cabe tanto nas áreas administrativas quanto teológicas.
No Codex Iuris Canonici Ecclesiae Orientalis, promulgado a 8 de outubro de 1990, pelo Papa João Paulo II, o termo aparece para designar tais grupos de cristãos organizados no Oriente de fortíssima tradição histórica, cujas bases se encontram na primitiva organização eclesial dos cinco patriarcados – Roma, Constantinopla (ou Bizâncio), Jerusalém, Antioquia e Alexandria – que já reconheciam o primado da Igreja de Roma.
Unidos como autênticos irmãos de várias tradições, vivendo em paz e harmonia com o Sucessor de Pedro, os cristãos reunidos numa única Igreja Católica, prosseguem seu caminho rumo à Igreja celeste, onde prevalece a mais perfeita unidade, na comunhão perpétua dos santos, regida pela Trindade Santíssima.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Arte que comunica e evangeliza
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- Segunda, 02 Setembro 2019 10:53
Nos últimos meses, a Arquidiocese de Juiz de Fora tem se esforçado para reformar o muro que divide a chamada “Colina da Fé” da Avenida Rio Branco, principal via de Juiz de Fora. Para quem não conhece, o terreno, que abriga o Seminário Santo Antônio, tem hoje, ao seu lado, uma nova construção, muita sólida e bonita de quatro andares, onde nós localizamos não só a Cúria, mas todo o Centro Administrativo de nossa Igreja Particular, o Centro Pastoral João Paulo II, o Arquivo, o setor de Comunicação e o Tribunal Eclesiástico. A este grande prédio demos o nome de “Lumen Gentium”, em homenagem ao Concílio Vaticano II. Pretendemos colocar ali ainda um Museu Arquidiocesano e a Rádio Catedral, que está em um outro local e será transferida futuramente para este que foi construído a partir de 2011 e inaugurado em 2013.
O grande muro era apenas chapiscado e estava muito feio, com lodo, além de danificado em parte da estrutura. Após a sua restauração, veio a dúvida: como pintá-lo? Como evitar as pichações? Então, eu tive a ideia de tirar partido deste grande painel – são mais de 60 metros de muro – para comunicar o evangelho às pessoas que passam na avenida principal da cidade. Afinal, o muro que divide pode unir. A ideia é traduzir nele, de forma artística, a mensagem de tudo aquilo que está dentro da “Colina da Fé”: levar Jesus para os outros e trazer os outros para Cristo.
E, para isso, nós escolhemos cenas bíblicas para pintar ao estilo de graffiti, que hoje também é muito usual nas cidades. As pinturas são compostas, em primeiro lugar, por figuras que representam as contemplações dos mistérios do Terço de Nossa Senhora. A segunda seção, por sua vez, retrata uma breve história da Igreja: seu início, com os pilares São Pedro e São Paulo e o mártir Santo Estevão; a Idade Média, representada por São Bento no século VI, São Francisco no século XIII, e Santa Teresa no século XVI; e o tempo contemporâneo, tendo o Concílio Vaticano II como marco principal, através das figuras de São João XXIII e de São Paulo VI, além de suas quatro constituições principais – Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium, Dei Verbum e a Gaudium et Spes. Já a Igreja local é representada pela Catedral Metropolitana.
Tal iniciativa obedece aos preceitos da Igreja, que sempre utilizou a arte para cumprir a sua missão de evangelizar. A arte é uma expressão da beleza e toda beleza comunica e motiva. Quem está diante de algo bonito não fica inerte e alguma mensagem vai ao seu coração, ainda que seja subliminarmente. A beleza é reflexo de Deus, Ele é a beleza suprema. Devemos utilizar todos os meios que pudermos para transmitir o evangelho, em vista da salvação de todos.
A pintura do muro também vai em direção ao que é proposto nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora para o próximo quadriênio (2019 a 2023), aprovadas na última Assembleia da CNBB e que estão centradas na evangelização do mundo urbano. Em nosso particular, na Arquidiocese de Juiz de Fora, mesmo antes das DGAE, nós estávamos muito preocupados com o tema. Já tínhamos programado e já estávamos construindo o II Sínodo Arquidiocesano, que tem como tema a evangelização da cidade.
A realidade da nossa Arquidiocese é um pouco particular: nós temos uma grande cidade de 600 mil habitantes, que é Juiz de Fora, e depois mais 36 municípios menores, sabendo que o segundo em população é Santos Dumont, com 50 mil habitantes. Então, nós dividimos o Sínodo em duas partes: uma que vai tratar apenas da grande cidade de Juiz de Fora, com suas características muito atuais, essencialmente urbanas. O segundo momento do Sínodo será o interior, as outras cidades que, como sabemos, também estão marcadas fortemente pela característica de urbanismo.
E, por isso, este painel agora grafitado tem tudo a ver com as DGAE da CNBB para todo o Brasil e com a proposta do nosso Sínodo Arquidiocesano, cujo lema será “Proclamai o Evangelho pelas ruas e sobre os telhados” (Mt 10,27).
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
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