chamada blog

Quaresma e CF sobre a fome

DSCN2146Com o sagrado Rito das Cinzas, iniciamos a Quaresma. Ouvimos do Ministro: “Lembra-te que és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19). Recordar a fragilidade da vida humana impele a reconhecer que o apego material será sempre um contrassenso e a falta de partilha do que se tem com o que nada tem ou pouco possui será, no mínimo, sinal de desajuste. Para esses e para todos, a outra forma da imposição das cinzas é um forte convite: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

A preocupação com os pobres e os que não têm o que comer é um dever de quem acredita em Cristo, que ensinou a amar ao próximo e asseverou que só entrarão no céu os que dão de comer a quem tem fome (cf. Mt 25, 35) e cumprirem as demais obras de misericórdia elencadas a seguir.

A Igreja ensina à sociedade e aos governantes que a pobreza é um problema real e uma situação séria que deve ser resolvida. A Igreja não trata os problemas sociais da mesma forma que os políticos ou as ONGs. Ela tem seu método próprio, pois parte da fé, da Palavra de Deus e não simplesmente de frios dados sociológicos.

Saibamos separar política, fanatismo político e reais problemas das pessoas sofredoras. A Doutrina Social da Igreja não é um programa político ou ideológico, mas uma forma cristã de analisar as relações humanas a partir da Palavra de Deus, da pessoa e dos ensinamentos de Cristo. Ela não só faz caridade aos pequeninos, mas ajuda a sociedade a descobrir as causas da fome, procurando, pelos meios pacíficos e eficazes, a solucionar essas graves questões.

Há aqueles que não acreditam que haja fome e há aqueles que instrumentalizam a fome para interesses pessoais ou políticos. À parte certos abusos na manipulação dos dados por motivos ideológicos, a fome existe para muita gente. Só não acreditam que haja fome aqueles que têm o que comer todos os dias para si e sua família.

O combate à desnutrição vem sendo feito exemplarmente pelos cristãos desde o começo do cristianismo e muitas mudanças na história da humanidade foram provocadas pelo exemplo profético dos fiéis seguidores de Cristo. Neste presente ano, depois de duas outras campanhas sobre o mesmo tema, em 1975 e 1985, a Campanha da Fraternidade nos propõe, outra vez, o grave problema da fome, indicando como lema a palavra de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Certamente não será a última vez. Oxalá fosse!

Porém, a CF não esgota o sentido amplo da Quaresma. É preciso mergulhar por inteiro na vida de oração e na prática sincera da penitência, tendo em vista a Semana Santa e a Páscoa que se aproximam. A Quaresma é um tempo santo que nos põe na presença de Deus e do próximo, sobretudo dos que dependem de nossa esmola, de nosso socorro fraternal. É um itinerário com Jesus que viveu pobremente, nos ensinou a amar e servir e, nos quarenta dias de deserto, nos possibilitou saber o valor do jejum, da penitência e da oração.

Vivamos bem esse tempo forte, procurando nos converter a cada dia, a perdoar a quem nos ofende, para que, purificados, celebremos bem os Santos Mistérios da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Boa e santa Quaresma.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Deus sacia a nossa fome

pao da vida-820Se Deus é o Ser que faz ser todos os entes, ele está sempre criando, constituindo e sustentando tudo o que existe. Deus está se doando sempre porque está constantemente comunicando o ser às criaturas. Só o Ser pode comunicar o ser que os entes recebem. Se essa comunicação cessasse, o universo criado se reduziria ao nada.

Traz grande luz e alegria espiritual a compreensão – que não esgota o Mistério – de que somos a partir do Ser. Compreender isso é redescobrir que a raiz mais profunda da nossa existência é a gratuidade ou o dom; é redescobrir que estamos ligados à Luz e à Bem-aventurança do Ser que nos doa ser. A religião (de re-ligare) é a retomada consciente e amorosa desta ligação que nunca deixou de existir.

O Ser doa ser a cada ente de acordo com a capacidade de receber de cada um. O que define essa capacidade de receber é a essência. A essência/ideia de árvore só recebe o ser de árvore. Uma vez recebido o ser delimitado por sua essência, a árvore poderá ter suas operações como árvore, como nutrir-se, crescer, produzir frutos; mas não poderá ter as operações próprias de outra essência ou outro ente. Já o homem, por ser espírito, tem a essência muito menos limitada do que a essência de árvore ou de qualquer outra essência não espiritual. Aliás, a dimensão espiritual que nos constitui é abertura infinita. O ser que recebemos de acordo com nossa essência espiritual, com as suas operações espirituais de inteligência e vontade, é capaz de voltar-se para o próprio Ser criador e deixar-se tocar por ele. O homem é capaz de receber e amar o próprio Ser que doa o ser que o homem recebe!

O que poderíamos querer de mais precioso? Poder conhecer a Luz originária e mergulhar na Bem-aventurança sem limites é o Pão que Deus se dispõe a nos dar. Ele sacia a nossa fome, como diz o salmista: “Abre a boca e eu a encherei (Sl 81/80,11). Saciados, tornamo-nos instrumentos nas mãos do grande Alimento para ajudar a saciar a fome que ainda existe no mundo – fome de pão e fome do Pão.


Padre Elílio Júnior
Vigário Paroquial da Catedral

O Ser é Luz e Amor

shutterstock 145918109-752x440O ser humano traz uma luz dentro de si, que lhe permite conhecer, discernir e orientar-se. É o reflexo da Luz incriada no seu interior. Ela brilha e aquece, e quer dissipar as trevas da mente e a frieza do coração. O principal obstáculo a ser vencido pela Luz é o egoísmo. Por ele, nós nos fechamos em nosso pequeno mundo, fantasioso e inconsistente; deixamos de olhar para a Fonte, que é Deus. Fechamo-nos em nossas trevas e em nossa frieza. Sofremos porque nos afastamos da Luz e ocultamos a sua luz em nós.

Deus é o Ser originário e incriado. É o Infinito do qual sentimos saudades. Ele nos criou para que o busquemos livremente, cada vez mais, com a ajuda indispensável da sua graça e do seu amparo, a fim de participarmos de sua vida luminosa e amorosa – vida feliz! Todo o universo criado é resposta pequena demais para o espaço infinito que constitui o nosso espírito. Desejamos, consciente ou inconscientemente, a Realidade verdadeira. Só Deus e nossa transformação em Deus podem saciar-nos.

O Ser originário, que é Deus, afirma-se três vezes, sem divisão nem cisão. Evidentemente, ele se afirma como Ser originário. Mas ele não é um ser originário opaco; por isso, afirma-se como Ser que se conhece (e em si conhece todos os entes criados). Ele não é nem mesmo um ser indiferente; por isso afirma-se como Ser que se ama (e em si ama todos os entes criados). Eis a Trindade em Deus: a expressão eterna do conhecer de Deus é o Verbo ou Filho; a expressão eterna do amar de Deus é o Espírito Santo; a origem eterna das duas expressões é o Pai! Deus é (cf. Ex 3,14) luz (cf. 1Jo 1,5) e amor (cf. 1Jo 4,16)! Podemos dizer que o é está para o Pai, a luz para o Verbo e o amor para o Espírito Santo.

O ser humano se diminui quando se fecha ao Ser originário, Uno e Trino. Esse fechamento é a queda, com todas as suas consequências de dor e sofrimento. Ao contrário, o ser humano engradece-se quando se abre ao Ser originário, Uno e Trino. Essa abertura permite que o Ser originário o preencha com sua Imensidade, acenda em nele a sua Luz e derrame sobre ele o seu Amor. Assim, Deus nos levanta, transforma e dá-nos a sua Vida feliz, já agora!


Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Vigário paroquial da Catedral

Arquivos

Tags

  1. Facebook
  2. Twitter
  3. Instagram
  4. Video