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Cristo Rei do Universo e a Conclusão do II Sínodo Juiz-forano

paul-zoetemeijer-fqa7yvnx280-unsplash-1-scaledCom grande alegria, nos reunimos no domingo (20), na Catedral Metropolitana de Juiz de Fora, como comunidade arquidiocesana, vinda das 37 cidades e 91 paróquias, presencialmente, virtualmente ou ainda espiritualmente, para celebrar, com a Igreja espalhada em todo o mundo, a Solenidade de Cristo Rei do Universo.

Recordemos que essa festa foi instituída pelo Papa Pio XI (1922-1939), em 1925, por estar o mundo naquela época em situação política muito conturbada, com tendências a regimes ateus ou agressivos à fé cristã e dominado por guerras e conflitos. Quis o Sucessor de Pedro recordar que Cristo não é apenas uma devoção pessoal, mas é Senhor de todas as nações e de todos os que governam, ainda que não creiam. Todos estão sob o Senhorio de Cristo que tem uma proposta inequívoca e invencível para um reino ideal.

O estabelecimento de governos que excluam Deus em sua forma de administrar, extremistas em seus conceitos de laicidade do Estado, não só ofendem ao Criador, mas acabam por estabelecer desordem social e prejudicam as verdadeiras relações de justiça e de paz. Observamos que a situação mundial não mudou muito, pois ainda hoje encontramos guerras, polarizações políticas de ambos os lados, ataques mútuos, desavenças, agendas morais e sociais que não são sinais do Reino. Por isso, é importante continuar celebrando a Solenidade de Cristo Rei do Universo, anunciando o seu Reino de Amor e de Paz.

A partir das leituras deste último domingo do Ano Litúrgico, podemos observar que o Reino de Cristo não é, de fato, um reino comum, mas totalmente diferente das organizações políticas cheias de imperfeições que o mundo tem. No Evangelho, o Senhor se apresenta como verdadeiro rei, oferecendo-se inteiramente por seus súditos. Sua coroa é de espinhos; seu trono é a cruz; suas vestes não são suntuosas, pois está despido; suas mãos estão presas, mas sua alma está livre; sua palavra é ouvida, seu amor é perfeito, uma vez que a única lei de seu Reino é o Amor a Deus e ao próximo.

Nesta grande festa de Cristo Rei, trouxemos para a liturgia a conclusão de nosso II Sínodo Arquidiocesano, que durou três anos, entre 7 de dezembro de 2019 e 20 de novembro de 2022, e nos fez experimentar realidades novas e tirar conclusões muito especiais para nossa vida eclesial. Nessa celebração, que também marcou o início do Ano Vocacional no Brasil, acolhemos nossos irmãos seminaristas Jadaí Leandro Alves e Milton César de Assis para os ministérios de Leitor e Acólito.

A Igreja é o Sacramento e a construtora do Reino. Cristo é a sua cabeça, como afirma Paulo na Carta aos Colossenses, e nós somos seus membros. Assim, nossa Igreja arquidiocesana realizou o seu II Sínodo, com a certeza dessa verdade.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Poder, Justiça e Paz

artigo 0311Os cristãos sabem que o exercício do poder somente tem sentido autêntico, coerente com a sua fé, na medida em que representa um serviço ao bem comum. Jesus, Mestre e Senhor, ajuda a humanidade a alcançar a compreensão de que poder e serviço são indissociáveis quando proclama que veio para servir – e não ser servido. O adequado exercício do poder não se relaciona à conquista de espaços para obter favorecimentos de qualquer tipo. Menos ainda quando esses favorecimentos levam à manipulação de interesses que comprometem os direitos de todos, prejudicando, especialmente, os mais pobres. Assim, compreende-se que uma grande tarefa dos cristãos na contemporaneidade é capacitar-se sempre, e cada vez mais, para a experiência da reconciliação, compreendendo o poder como serviço, e não motivo para disputas insanas. Não se orientar, simplesmente, por ideologias e interesses, pois muitos estão na contramão do respeito à vida plena, em todas as suas etapas. E não basta defender uma parte dos valores cristãos. É dever missionário defender todo o conjunto de princípios que se alicerçam nos ensinamentos de Jesus. Isto se faz em fidelidade a Cristo Mestre e Senhor, aquele que não pode ser substituído, em hipótese alguma, por outra pessoa qualquer.

Preocupante nesse sentido é o crescimento de um cristianismo torto no Brasil, apontando graves comprometimentos civilizatórios. É preciso estar atento às crescentes estratégias de manipulação que promovem a mistura entre fé, política e religião, obscurecendo e confundindo mentes, esvaziando as possibilidades reais de uma nova configuração social que favoreça a justiça e a paz. Nessa direção, deve-se refletir e ponderar sabiamente, para ter clareza de que seres humanos, no exercício do poder, não são deuses, para se evitar a idolatria de indivíduos. Ao invés disso, se reconheça a responsabilidade conjunta de todos os cidadãos na (re)construção da sociedade, nos trilhos da justiça e da paz. As eleições são importantes, essenciais na configuração da democracia, mas não esgotam a responsabilidade de cada cidadão. Todos precisam seguir irmanados na permanente tarefa de edificar uma sociedade melhor, o que inclui promover todo o conjunto dos valores cristãos.

Precisam, pois, ser enfrentadas, com reações cabíveis, sobretudo com a força de autênticos testemunhos cristãos, as manipulações da fé, para que o Evangelho, com a sua força transformadora, inspire a promoção da justiça e da paz. Não se pode “esvaziar” a espiritualidade cristã e o seu testemunho, sob o risco de escolhas e posturas que não dão conta de configurar um qualificado tecido social. Não se deve, pois, seguir apenas alguns valores e princípios cristãos, mas pautar-se por todo o conjunto de valores e princípios sustentados pelo Evangelho. O amplo respeito a esse conjunto precisa, especialmente, ser vivido pelos cristãos, que caminham no horizonte do Reino de Deus, conscientes de que aqui não há uma cidade permanente – todos buscam aquela cidade que há de vir, cumprindo a insubstituível tarefa de fermentar o mundo com o sabor do Evangelho. Essa consciência não permite aos discípulos e discípulas, nos processos políticos de definição sobre o exercício do poder, se enjaularem na parcialidade que prejudica a justiça e a paz.

É preciso cuidado para evitar escolhas que atrasem os processos de desenvolvimento integral impondo pesados fardos sobre os mais pobres. Ajuda nesse cuidado meditar sobre a lúcida observação do Papa emérito Bento XVI, em reflexão sobre a procura da paz. Bento XVI, ao focalizar o Estado de direito, alerta sobre o risco de um poder exercido pela força da destruição dos próprios direitos. Isto significa, conforme explica o Papa emérito, uma perversão enraizada nas instituições que deveriam servir à justiça, mas que, simultaneamente, consolidam o domínio da iniquidade, propriamente o domínio da mentira, com força de obscurecer as consciências. Observe-se a importância desta tarefa missionária dos cristãos: ter lucidez necessária para escolher, no seu direito cidadão, a partir do voto, não simplesmente um indivíduo para o exercício do poder, mas um conjunto de pautas com força civilizatória competente na efetivação da justiça e da paz.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

Segundo Turno

segundo-turno-band-tvDentro do legítimo processo democrático, o Brasil convoca os cidadãos para mais um exercício e prática de sua cidadania. Assim aconteceu no Primeiro Turno das Eleições, dia 2 de outubro, elegendo os Senadores, Deputados, Governadores, levando para o Segundo Turno, Bolsonaro e Lula. Em 30 de outubro, pelo voto, que deve ser livre e responsável, será eleito o próximo Presidente da República.

Com essas Eleições de Segundo Turno encerramos um período de profundas polarizações, uma verdadeira testagem de força entre o candidato e seus aliados de um lado e de outro. As Eleições do Primeiro Turno transcorreram de forma tranquila, todos indo às urnas, sempre prevendo qual seria o resultado final. Foi confirmação da maturidade cidadã e compromisso com um país melhor.

Agora torcemos pela mesma serenidade do Segundo Turno. Essa serenidade precisa acontecer também no reconhecimento da identidade de quem for eleito. É fundamental saber perder e saber ganhar, sempre com a mente votada para a prosperidade social e econômica da Nação. O bom cidadão é quem soma forças, mesmo perdendo nas urnas. O país é maior do que os interesses pessoais.

Mesmo com atitudes extremistas, notícias falsas, agressões, “inimizades” políticas, podemos dizer que os momentos eleitorais são excelentes espaços de democracia. Cada cidadão tem liberdade para realizar suas manifestações e sentimentos partidários e torcer pelos seus candidatos. Sinto que as pessoas se deixam levar por força das ideologias, de interesses que estão acima do próprio candidato.

Hoje se fala em direita e esquerda. Essas palavras passaram a ser o que define a ideologia de muitos cidadãos, passando inclusive acima da identidade e do perfil de honestidade de um candidato. Não importa se é bom ou ruim candidato. Importa que ele seja do meu lado, de direita ou de esquerda. É uma realidade que pode ajudar, mas pode também prejudicar uma melhor viabilidade do país.

Enfim, a história do Brasil vai prosseguindo nos rumos que são tomados. Um ditado popular diz que “o povo tem o governo que merece”. Se é fruto do sufrágio popular, certamente o ditado tem um sentido correto, mas é importante cada cidadão agir e votar com total responsabilidade, sabendo que seu voto implica consequências para um país melhor ou não. Que Deus abençoe estas Eleições!


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

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