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O Senhor é meu Pastor; nada me faltará!

DSCN0969O 4º Domingo da Páscoa é destacado pela Igreja como solenidade pascal do Bom Pastor. Lemos nesse dia o capítulo décimo do evangelho de São João, que mostra a parábola/comparação que Jesus usou para se apresentar como único e verdadeiro guia, verdadeiro salvador da humanidade e sua relação com os que n’Ele creem. A parábola é extensa e, por isso, é dividida em três partes, cada uma lida em um ano da atual organização litúrgica dominical, que é estruturada nos anos A, B e C. Em 2021, que é o Ano B, lemos a segunda parte (Jo 10, 11-18), em que Jesus se apresenta como o Bom Pastor que dá sua vida pelas suas ovelhas e expressa claramente seu desejo de unidade do rebanho.

A imagem do pastor é muito frequente no Antigo Testamento e era usada para destacar reis, sacerdotes e outros líderes. A Sagrada Escritura faz questão de dizer que Davi era pastor e depois se tornou Rei de Israel. A imagem era utilizada inclusive para Deus, como no belo salmo 23: O Senhor é meu Pastor, nada me faltará. Mas a Palavra de Deus mostra também que muitos pastores não foram bons, como nos demonstra Ezequiel 34, quando Deus repreende os maus pastores e Ele mesmo toma para si o cuidado do rebanho.

No evangelho de São João, Jesus se apresenta como Bom Pastor. Ele não é como os mercenários que trabalham por dinheiro, mas, pelo contrário, ama suas ovelhas de forma gratuita. Por isso diz: Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem (Jo 10, 14). Lembremo-nos que o termo “conhecer” na Bíblia não tem sentido apenas de uma compreensão intelectual, ou formal, mas vai além do intelecto e da formalidade para ser muito mais pessoal, ou seja, quem conhece ama e o amor mútuo é a perfeição do conhecimento. Não é um conhecimento racional, acadêmico, científico. É muito mais que isso. O conhecimento que Jesus tem de suas ovelhas é vivencial e integral, como uma inabitação. Nós seremos ovelhas de seu rebanho se O amarmos com o mesmo amor com que nos ama.

Nesta parábola, Jesus também revela seu desejo de que todos sejam unidos e não consintam em separações, quando diz: Tenho ainda outras ovelhas que não estão neste aprisco, e haverá um só rebanho e um só Pastor (Jo 10, 16). Esse mesmo desejo Ele expressa na longa oração registrada por São João no seu capítulo 17: Que todos sejam um, ó Pai, como eu e tu somos um (Jo 17, 21). A unidade do rebanho de Cristo é uma meta que não podemos perder de vista. Todos devemos estar humilde e corajosamente dispostos a unirmo-nos num único e indiviso rebanho.

Além disso, todos os anos a Igreja nos convoca para, neste dia, rezar especialmente pelas vocações, para que sempre haja maior número de pastores e que esses sejam bons e santos, para continuarem a obra de Jesus, o Bom Pastor das ovelhas. Os Papas, símbolos e construtores da unidade da Igreja, têm mandado nos últimos anos uma mensagem especial para esse dia.

A mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas de 2021, ano Josefino, refere-se a São José como modelo de resposta ao chamado de Deus. Homem bom e justo, ele pode ser apresentado como alguém que assimilou em sua vida as características de seu Filho Adotivo, Jesus de Nazaré, o Bom Pastor. O Papa, recordando os quatro sonhos de São José, narrados no evangelho de São Mateus, ainda destaca que toda vocação é um sonho: deve ser iluminada pela luz do alto, para se dispor inteiramente ao serviço do Bom Pastor e de seu redil.

Ouçamos o Bom Pastor, como nos indica São Gregório Magno, com corações ao alto. O Bom Pastor seja nosso guia, para que estejamos sempre alegremente unidos no seu único rebanho, para que nos conduza sempre por verdes pastagens e águas tranquilas.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

O Deus da Aliança

aliança-com-deus-familia-em-crsito-alinyNo Antigo Testamento, Deus fez aliança com Abraão, Noé, Moisés. Através da paixão, morte e ressurreição de Jesus, Deus estabeleceu uma eterna aliança com seu povo, o Povo de Deus, a Igreja. Jesus foi o mediador dessa aliança, o grande pontífice que, através de um único sacrifício, se tornou o mediador para nos reconciliar, definitivamente, com Deus. Somos, pois, o povo da aliança, a Igreja que, nas palavras do Papa Francisco, deve ser uma Igreja em saída a levar a Palavra de Deus aos confins da terra. O Sacramento da Crisma nos impôs a dignidade de sermos profetas do Reino, missionários chamados a anunciar Jesus em todos os ambientes da sociedade, recristianizar o mundo no lugar que Deus pôs cada um de nós: na rua, na escola, no trabalho, nos hospitais, no comércio, no ônibus e, principalmente em casa. Esse pacto de Jesus conosco só o faremos na medida em que estejamos abertos ao seu chamado.

Pe. Antônio Pereira Gaio
Vigário paroquial da Catedral

“Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24, 48)

bible-videos-jesus-resurrected-1426709-printEntre os testemunhos da ressurreição de Cristo, um dos mais belos é o dos discípulos de Emaús. O fato está registrado no capítulo 24 de São Lucas. Narra que dois discípulos, cheios de tristeza, desilusão e totalmente desanimados, estavam voltando para sua casa, que ficava na zona rural, a 11 km de Jerusalém. No caminho, Jesus se une a eles, fala-lhes ao coração e, por fim, se dá a conhecer ao partir o pão.

O evangelho do 3º Domingo da Páscoa narra a volta desses discípulos para Jerusalém, para encontrarem os demais e anunciar que Cristo ressuscitou e esteve com eles. O estado de alma deles neste caminho de volta é justamente o oposto da realidade anterior. Estão alegres, felizes e animados.

Ao encontrarem os apóstolos, estes, a princípio, mostram-se cheios de dúvidas e preocupações. Ainda estavam escutando o que diziam os discípulos de Emaús quando o próprio Jesus se apresenta, outra vez, no meio deles e lhes mostra as cicatrizes de Suas chagas nas mãos e nos pés. À semelhança do que fez com São Tomé, Ele os convida a tocarem n’Ele, para que tenham certeza de que não se tratava de um fantasma. Para dar ainda mais uma prova de Sua ressurreição, come com eles um peixe, comida comum dos apóstolos, pois vários deles eram pescadores. A alegria e o ânimo dos discípulos de Emaús contagia agora todo o grupo.

O trecho do evangelho termina com uma ordem de Jesus: Vós sereis testemunhas de tudo isso (Lc 24, 48). Esse testemunho está bem explícito no livro dos Atos dos Apóstolos que lemos todos os domingos do Tempo Pascal como primeira leitura. Os apóstolos, antes medrosos e tímidos, desanimados e tristes, agora renovados pelas várias experiências de convivência com Cristo ressuscitado, vão dar testemunhos corajosos diante do povo e das autoridades. São Pedro, dirigindo-se aos judeus, proclama: Vós matastes o Senhor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas (At 3, 15). Em conformidade com as expressões de Jesus no cenáculo, afirma: Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer (At 3, 18). O anúncio dos Apóstolos, contudo, não é uma denúncia pública simplesmente, mas um convite amoroso à conversão: sei que agistes por ignorância… arrependei-vos e convertei-vos para que vossos pecados sejam perdoados (cf. At 3, 17-19).

O relato da ressurreição do Senhor traz luz e graça, força e consolo para todos nós, no mundo inteiro, neste momento em que enfrentamos a pandemia. Depois de um ano de doenças, contágio, mortes; depois de um ano de medidas tão restritivas, de uso de máscaras, de isolamento, de limitações em nossos afetos; depois de um ano com dramáticas normas de não podermos estar presentes nas igrejas para as nossas consoladoras celebrações; depois de, pela segunda vez, não podermos celebrar exuberantemente nossa Semana Santa e nossa Páscoa, encontramo-nos em um estado da mesma apreensão dos apóstolos a caminho de Emaús, ou daqueles fechados no cenáculo por medo. Tudo isso são como noites escuras, muitas vezes gerando desânimo.

O fato da ressurreição de Cristo, a luz que vem de suas aparições aos apóstolos, não como um fantasma, mas com um corpo real, redivivo, glorioso, ou seja, revestido de imortalidade, apresentando os mesmos sinais anteriores, até mesmo as cicatrizes das chagas, são a força para nós nestes momentos. Assumamos em nossos corações as experiências dos apóstolos: não desanimar nunca. Tudo suportar com fé e esperança, pois, quando pensamos que tudo está perdido, tudo se renovará. Nem os sofrimentos e nem a morte têm poder perante Deus.

A ressurreição de Cristo, real e verdadeira, é a nossa força, nossa luz. Por isso, todos nós que cremos e amamos a Deus seguimos sendo testemunhas da vitória de Cristo que é também nossa vitória.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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