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O Deus da Aliança

aliança-com-deus-familia-em-crsito-alinyNo Antigo Testamento, Deus fez aliança com Abraão, Noé, Moisés. Através da paixão, morte e ressurreição de Jesus, Deus estabeleceu uma eterna aliança com seu povo, o Povo de Deus, a Igreja. Jesus foi o mediador dessa aliança, o grande pontífice que, através de um único sacrifício, se tornou o mediador para nos reconciliar, definitivamente, com Deus. Somos, pois, o povo da aliança, a Igreja que, nas palavras do Papa Francisco, deve ser uma Igreja em saída a levar a Palavra de Deus aos confins da terra. O Sacramento da Crisma nos impôs a dignidade de sermos profetas do Reino, missionários chamados a anunciar Jesus em todos os ambientes da sociedade, recristianizar o mundo no lugar que Deus pôs cada um de nós: na rua, na escola, no trabalho, nos hospitais, no comércio, no ônibus e, principalmente em casa. Esse pacto de Jesus conosco só o faremos na medida em que estejamos abertos ao seu chamado.

Pe. Antônio Pereira Gaio
Vigário paroquial da Catedral

“Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24, 48)

bible-videos-jesus-resurrected-1426709-printEntre os testemunhos da ressurreição de Cristo, um dos mais belos é o dos discípulos de Emaús. O fato está registrado no capítulo 24 de São Lucas. Narra que dois discípulos, cheios de tristeza, desilusão e totalmente desanimados, estavam voltando para sua casa, que ficava na zona rural, a 11 km de Jerusalém. No caminho, Jesus se une a eles, fala-lhes ao coração e, por fim, se dá a conhecer ao partir o pão.

O evangelho do 3º Domingo da Páscoa narra a volta desses discípulos para Jerusalém, para encontrarem os demais e anunciar que Cristo ressuscitou e esteve com eles. O estado de alma deles neste caminho de volta é justamente o oposto da realidade anterior. Estão alegres, felizes e animados.

Ao encontrarem os apóstolos, estes, a princípio, mostram-se cheios de dúvidas e preocupações. Ainda estavam escutando o que diziam os discípulos de Emaús quando o próprio Jesus se apresenta, outra vez, no meio deles e lhes mostra as cicatrizes de Suas chagas nas mãos e nos pés. À semelhança do que fez com São Tomé, Ele os convida a tocarem n’Ele, para que tenham certeza de que não se tratava de um fantasma. Para dar ainda mais uma prova de Sua ressurreição, come com eles um peixe, comida comum dos apóstolos, pois vários deles eram pescadores. A alegria e o ânimo dos discípulos de Emaús contagia agora todo o grupo.

O trecho do evangelho termina com uma ordem de Jesus: Vós sereis testemunhas de tudo isso (Lc 24, 48). Esse testemunho está bem explícito no livro dos Atos dos Apóstolos que lemos todos os domingos do Tempo Pascal como primeira leitura. Os apóstolos, antes medrosos e tímidos, desanimados e tristes, agora renovados pelas várias experiências de convivência com Cristo ressuscitado, vão dar testemunhos corajosos diante do povo e das autoridades. São Pedro, dirigindo-se aos judeus, proclama: Vós matastes o Senhor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas (At 3, 15). Em conformidade com as expressões de Jesus no cenáculo, afirma: Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer (At 3, 18). O anúncio dos Apóstolos, contudo, não é uma denúncia pública simplesmente, mas um convite amoroso à conversão: sei que agistes por ignorância… arrependei-vos e convertei-vos para que vossos pecados sejam perdoados (cf. At 3, 17-19).

O relato da ressurreição do Senhor traz luz e graça, força e consolo para todos nós, no mundo inteiro, neste momento em que enfrentamos a pandemia. Depois de um ano de doenças, contágio, mortes; depois de um ano de medidas tão restritivas, de uso de máscaras, de isolamento, de limitações em nossos afetos; depois de um ano com dramáticas normas de não podermos estar presentes nas igrejas para as nossas consoladoras celebrações; depois de, pela segunda vez, não podermos celebrar exuberantemente nossa Semana Santa e nossa Páscoa, encontramo-nos em um estado da mesma apreensão dos apóstolos a caminho de Emaús, ou daqueles fechados no cenáculo por medo. Tudo isso são como noites escuras, muitas vezes gerando desânimo.

O fato da ressurreição de Cristo, a luz que vem de suas aparições aos apóstolos, não como um fantasma, mas com um corpo real, redivivo, glorioso, ou seja, revestido de imortalidade, apresentando os mesmos sinais anteriores, até mesmo as cicatrizes das chagas, são a força para nós nestes momentos. Assumamos em nossos corações as experiências dos apóstolos: não desanimar nunca. Tudo suportar com fé e esperança, pois, quando pensamos que tudo está perdido, tudo se renovará. Nem os sofrimentos e nem a morte têm poder perante Deus.

A ressurreição de Cristo, real e verdadeira, é a nossa força, nossa luz. Por isso, todos nós que cremos e amamos a Deus seguimos sendo testemunhas da vitória de Cristo que é também nossa vitória.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

A Páscoa nos põe de pé

PáscoaDepois de celebrar com Cristo a penitência da Quaresma, Sua paixão e morte na Semana Santa, recordaremos, nos próximos 50 dias, a Páscoa da Ressurreição. O Senhor não permaneceu na morte, mas ressuscitou, ressuscitou de verdade, não morre mais. Com Ele todo o orbe se alegra, se refaz.

É a vida criada por Deus que rejubilou inteira na hora em que o inesperado se realizou, o inédito se compôs, o que parecia impossível se tornou visível e palpável. Aquela noite santa apontou para a aurora antes mesmo que o sol brilhasse, a luz espantasse a noite, a escuridão desse lugar às claridades que enchem de tranquilidade, paz e bem-estar todos os corações.

A beleza da liturgia da Vigília Pascal trouxe para o altar, para o ambiente sagrado, todas as forças naturais: o fogo, a água, o ar e a terra. Entre os elementos que compuseram a festa pascal, destaca-se a água.

Diz o livro do Gêneses que, “No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1, 1-2). No livro do Êxodo, que narra a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito, encontramos o episódio da travessia do Mar Vermelho, onde as águas volumosas se abriram para salvar o povo da perseguição do Faraó. As mesmas águas serviram de proteção para os peregrinos, quando os inimigos, embrenhando-se no mesmo caminho aberto, foram submergidos por elas (Cf. Ex 14, 15-30). O episódio inesperado, mas realizado, encheu o coração de Moisés e de Maria, sua irmã, que compuseram um cântico que todos cantaram “Cantai ao Senhor Deus, pois estupenda foi sua vitória, cavalo e cavaleiro ele precipitou no mar. Minha força e meu canto é o Senhor; Ele foi para mim a salvação” (Ex 15, 1-2). Quando, no deserto de Rafidim, o povo teve sede, o Senhor mandou e Moisés feriu a rocha duas vezes e jorrou água em abundância que o povo pode beber e se reanimar (Cf. Ex 17, 6 e Num 20, 11).

Quando Jesus, cansado da viagem, sob o sol de meio-dia, sentou-se à beira do Poço de Jacó, disse à Samaritana: “Se conhecesses o dom de Deus e soubesses quem é que te diz: dá-me de beber, tu mesma lhe pediria e ele te daria água viva” (Jo 4, 10). Vemos que Jesus, aqui, já emprega sentido simbólico ao elemento natural que é a água. O Dom de Deus é o Espírito Santo, é a graça divina, é algo sobrenatural que vem em socorro da fragilidade humana.

No deserto da Judeia, João batizava com água. Era um batismo de penitência, um convite à conversão, um banho de regeneração. Na última ceia, Jesus usa a água para lavar os pés dos discípulos e diz a Pedro: “Se eu não lhe lavar os pés, não terás parte comigo”. Ao que Pedro, receoso de se ver separado do Senhor, mais que depressa responde: “Senhor, então não me lave apenas os pés, mas as mãos e a cabeça” (Jo 13, 8-9).

No alto da cruz, quando o Senhor se entrega totalmente por nós, diz São João, que ali estava presente, que “Um soldado golpeou -lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19, 33). A Igreja sempre viu neste fato, acontecido no Gólgota, a imagem da Eucaristia no elemento sangue e o Batismo no elemento água. São João Crisóstomo, no século 4, ensinava: “O evangelho lembra que, quando Cristo estava morto, mas ainda pendendo da Cruz, um soldado veio e transpassou o seu lado com uma lança e, imediatamente, saíram sangue e água. Então a água foi um símbolo do batismo, e o sangue, da santa Eucaristia. O soldado transpassou o lado do Senhor, rompeu o muro do templo sagrado, e eu encontrei o tesouro e apossei-me dele”. Esses dois sacramentos constituem a Igreja.

Por fim, Jesus Ressuscitado, antes de voltar para o seio da Trindade, no momento da Ascensão, ordena aos discípulos: “Ide por todo o mundo; fazei discípulos meus em todas as nações, e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a observar tudo o que vos ensinei. Eis que estarei conosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20).

Neste tempo difícil de pandemia em que estamos vivendo, recobremos o ânimo, pois a Páscoa nos põe de pé. Nossa condição de batizados, de vivos em Cristo, lavados e dessedentados pela água regeneradora, ressuscitados que somos e que seremos em plenitude depois de nossa pascoa definitiva, ou seja, de nossa morte, peçamos ao Pai que nos dê o fim da pandemia, mas peçamos também força e confiança enquanto ela durar, certos de que o Senhor esteve conosco, continua conosco e continuará conosco até o fim os tempos.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano

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