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Páscoa: força que vence o desânimo

Ressurreicao

A palavra ‘Páscoa’ significa passagem, pesach em hebraico. Relembra a passagem do anjo exterminador no Egito, quando o povo hebreu estava para sair da escravidão e seus primogênitos foram poupados da morte, por intervenção divina (Cf. Ex 11,7). Também recorda a travessia do Mar Vermelho, que se abriu para que aquele povo de Deus pudesse cruzar para o outro lado a pé enxuto, ficando livres da perseguição dos inimigos que vinham atrás (Cf. Ex 14, 21-22).

A Páscoa tem seu cume em Jesus que, morrendo na cruz, não fica preso aos laços da morte, mas ressuscita para a vida que nunca será destruída (Cf. Jo 20,19-21). Páscoa é passagem da vida de pecado para o estado de graça. Para aqueles que morrem em Cristo, Páscoa é libertação. A morte não tem poder, pois se torna apenas uma passagem desta para a outra vida na casa do Pai, eterna e feliz. Páscoa significa confiança em dias melhores que, pela força de Deus, virão, pois Ele, do alto, no extremo do amor, foi capaz de mandar Seu Filho amado para morrer por nós. A morte de Cristo é nossa vitória em todos os momentos desafiadores.

Páscoa significa movimentação da alma do fiel cristão que, durante a vida, vai crescendo em estatura, sabedoria e graça, imitando o que viveu Jesus como verdadeiro Homem e Deus (Cf. Lc 2, 51). Na caminhada pascal, o cristão vai vencendo o pecado e abraçando continuamente o amor de Deus, deixando o egoísmo para trás, libertando-se do apego das coisas materiais para valorizar as atitudes humanitárias, as virtudes espirituais, pois são eternas.

Páscoa significa nunca desanimar diante dos problemas, dos ataques, das incompreensões, das traições e até das perseguições. É um verdadeiro abraço a Cristo dia por dia, progredindo na fé, no amor a Deus e ao próximo, buscando construir um mundo cada vez melhor, mais justo, mais fraterno. No mundo de hoje, dominado pela pandemia que parece não acabar, pelo contrário, parece estar em pior estado, muita gente pode ter a tentação do desânimo, mas a Páscoa vem trazer alento, vem dizer que nesta vida tudo passa.

Os hebreus, quando estavam no Egito, escravos, poderiam ter temido o fim de sua cultura e até de sua religião. Porém, de repente, aparecem-lhes circunstâncias novas que os libertam e tudo renasce. Após conquistarem a Terra da Promissão, constroem Jerusalém e edificam magnífico templo. Mais tarde, Nabucodonosor, em 586 a.C., invade a cidade, destrói o templo, fura os olhos do Rei Zedequias e leva prisioneiro o povo para ser seu escravo na Babilônia. A sensação era de que a religião da raça de Abraão havia sido destruída. Mas a perseverança daquela gente nos caminhos de Deus prevalecerá, pois todo reino terreno tem sua decadência e Nabucodonosor também experimentou seu fim, morrendo completamente louco. O povo retorna, reconstrói Jerusalém e os seus muros, reedifica seu templo e tudo volta a ser melhor que antes.

No tempo de Jesus, também os apóstolos, quando o Mestre morre na cruz, amedrontam-se e fogem. Mas um pequeno grupo permanece fiel. Maria, João Evangelista e algumas mulheres estavam no alto do Calvário, corajosos e confiantes. Mesmo diante da morte, teimavam em crer em Deus e na força da vida e não ficarão decepcionados, pois, no domingo, Jesus ressuscita para a vida que não mais acabará. Aqueles que estavam desanimados e derrotados na sexta-feira voltam agora e começam a espalhar o amor de Deus, a mensagem de Cristo para o mundo inteiro.

Dois mil anos depois, podemos celebrar, com fé e grande ânimo, a ressurreição do Senhor. A Páscoa nos dá força e nos diz que tudo passa. A morte nos desafia, mas a ressurreição nos levanta, nos põe de pé e nos garante que a vida vence sempre. A Mãe Igreja, no correr da história, vai proclamando sua certeza de que a vida supera sempre a morte e o medo. Pôde assim proclamar, com Santa Tereza D’Ávila, no século XVI: Nada te perturbe, nada te amedronte. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta! (Das máximas de Santa Teresa d’Avila).

Fica aqui o incentivo para que todos acompanhem as celebrações da Semana Santa e da Páscoa, bem como os domingos e festas posteriores, através dos meios de comunicação social. Hoje, infelizmente o povo não pode ir em massa às igrejas, conforme o desejo de cada um de nós. Isto passará, mas, enquanto durar, seja na Semana Santa, na Páscoa, ou no tempo depois da Páscoa, o jeito que temos de aproximar-nos de Deus é seguir pelas mídias sociais as programações. Não deixe de participar. Reserve uma, duas horas para Deus diante dos seus aparelhos eletrônicos, para rezar, ouvir a Palavra, fazer a sua Comunhão espiritual. Deus está conosco. Faça da sua casa uma verdadeira Igreja doméstica.

Envio a todos os meus votos de uma Feliz e Santa Páscoa, sobretudo àqueles que estão sofrendo com os rigores desta pandemia. Os que estão nos hospitais, os que perderam algum ente querido, os que estão lutando contra o contágio; também os médicos e demais profissionais da saúde.

Para que saibamos que tudo isso passará, recordemos que o sofrimento que vivemos é parte do sofrimento de Jesus Cristo na cruz. Ele não foi derrotado e nós também não o seremos. Tudo passará, pois nem o Calvário e nem o túmulo do Gólgota são residências, mas circunstâncias.

Feliz Páscoa!


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Perdão, ato de amor

perdaoQuando foi perguntado a Jesus quantas vezes se deve perdoar, Ele foi muito claro em dizer: SEMPRE. O perdão é uma atitude humana porém santificada pois o Mestre mandou perdoar até os inimigos e rezar por eles.

Muita gente gosta de afirmar que o perdão é muito difícil de se dar. Escrevi acima que o perdão é uma atitude humana. Pois bem: Jesus, homem, não se cansou de perdoar: deu o perdão a Pedro, seu amigo, a Judas, seu traidor, ao ladrão que estava com Ele na cruz do Calvário, à mulher pecadora que o povo queria apedrejá-la. Se Jesus o fez por que você não? A mágoa, a ira, o ódio são atitudes, diria, irracionais, frutos de uma ação maldosa. Quando você se convence de que não vale a pena trazer no coração uma ferida que pode ser curada porque, se ama a Deus, ame também seu irmão. É assim que Jesus agia. Tire do seu coração esses males. Se você ama, perdoa. No seu coração não deve haver lugar para miséria, para tristeza. Abra seu coração para o perdão como o fez São João Paulo II quando sofreu um atentado no Vaticano. Foi até a prisão onde estava o rapaz e lá lhe perdoou. Gesto humano e santificador. Abra seu coração ao amor. Isso lhe trará alegria e paz. Viva a alegria de exercer o perdão. Na oração de São Francisco canta-se ou reza-se: “onde houver ódio que eu leve o perdão, onde houver ofensa que eu leve alegria.” Faça isso e sentirá quão grande é o seu coração.


Pe. Antônio Pereira Gaio
Vigário paroquial da Catedral

Mulher servidora

Nossa-Senhora-das-DoresIniciando a quinta semana da caminhada quaresmal, somos chamados a olhar especialmente para Maria, a mulher que o Pai escolheu para ser a mãe do Salvador. Como tal, ela não só gera o Filho, mas O acompanha em toda a Sua trajetória vital, assumindo com Ele os momentos de alegria, mas, sobretudo, os momentos de dor, como fazem as autênticas mães com seus filhos, num exemplo eloquente de serviço desinteressado.

Nesta que é chamada Semana das Dores, temos oportunidade de olhar para a Virgem de Nazaré, como mulher forte, fiel e oferente, na qual o ideal de servir não é apenas um ato da generosidade humana, mas um verdadeiro compromisso que nasce da fé. De fato, a fé em Maria se traduz em servir, sabendo que assim pode-se cumprir a vontade do Pai. Disse ela ao Anjo quando foi anunciada: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a Tua palavra” (Lc 1, 38).

Falar de Maria como servidora nos remete também ao Dia da Mulher, celebrado no dia 8 de março, propondo reflexão sobre o valor e a dignidade do elemento feminino, seu papel inalienável na vida social, comunitária e familiar. Em Maria encontra-se o olhar de Deus sobre a presença da mulher, criatura Sua, no mistério da salvação, obedecendo à mística do serviço, da forma proposta por Cristo.

Na verdade, Jesus indica o serviço como condição para se tornar parte no projeto de Deus, que quer o mundo como uma família bem constituída, onde reine a paz, a felicidade e a coragem para enfrentar serenamente os problemas e as dores inevitáveis nas condições desta vida terrena, na estrada que leva ao Reino Definitivo, onde tudo é perfeito. Por este ideal de família é que Deus, ao enviar Seu Filho ao mundo, não quis fazê-lo sem passar pela realidade doméstica, escolhendo uma mulher como porta principal de sua vinda, ao lado de um homem, José, que lhe garante a condição de esposa e a protege na condição de mãe, pois, sendo ele, homem justo, a livra de perigos impostos por interpretações legalistas numa sociedade com marcas machistas. Ambos estão imersos na fé inarredável de um Deus que, em lugar de ser servido, quer pôr-se a servir à pessoa humana, usando de sua infinita misericórdia: “Eu vim para servir e não para ser servido” (Mc 10,45).

Em Maria, tudo se relaciona a Cristo, centro de sua vida e de sua missão. Portanto, antes mesmo que seu Filho pregasse aos discípulos o serviço como expressão concreta do amor a Deus e ao próximo, Nossa Senhora, no início de sua gravidez, sai em longínqua viagem de Nazaré a uma cidade de Judá para servir à sua prima Isabel que na velhice concebera um filho e com ela permanece três meses servindo-a (Cf. Lc 1, 39-56). Antes que Jesus se inclinasse diante de cada apóstolo para lavar-lhes os pés, Maria, numa relação delicada do amor materno, já lavara os pés de seu Filho quando criança, dele cuidando afetuosamente para servir ao plano salvífico de Deus em favor da humanidade.

Na ordem humana, podemos afirmar que foi no lar de Nazaré que Jesus vivenciou a lição do serviço, com José e Maria, servidores do Pai e o Espírito Santo. Na Exortação Apostólica Marialis Cultus (02.02.1974), o Papa Paulo VI já recordava esse espírito de serviço presente na vida de Nossa Senhora, sobretudo em relação à Igreja, família de Deus, onde ela é “como em qualquer lar doméstico, a figura de uma mulher, que, escondidamente e em espírito de serviço, vela pelo bem e benignamente protege, na sua caminhada em direção à Pátria, até que chegue o dia glorioso do Senhor”.

Entre Maria e Jesus há uma terna sintonia que vai se verificar de forma plena no mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Afirma Paulo VI no citado Documento: “Esta união da Mãe com o Filho na obra da Redenção (LG 57) alcança o ponto culminante no Calvário, onde Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha (Hb 9,14) e onde Maria esteve de pé, junto à cruz (cf. Jo 19,25), sofrendo profundamente com seu Unigênito e associando-se com ânimo maternal ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que ela havia gerado“ (LG 58), e oferecendo-a também ela ao Eterno Pai.

A fim de se celebrar bem a Semana Maior que culmina com a ressurreição do Senhor, a Páscoa, certamente a palavra de Santo Ambrósio, em sua Exposição do evangelho segundo Lucas, nos ajudará: “Que em cada um de vós haja a alma de Maria para bendizer o Senhor; e em cada um de vós esteja o seu espírito, para exultar em Deus”.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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