A crise no Brasil
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- Quarta, 27 Abril 2016 08:44
O povo brasileiro está vivendo um dos momentos mais intensos de sua história, com esperanças, mas também com sofrimentos e perigos. Na esteira da democracia, muitas tendências emergem, graças a Deus, sem violência, algumas muito positivas e promissoras, outras preocupantes, nos seus termos e nos seus métodos. Democracia é assim mesmo. É oportunidade de todos manifestarem suas opiniões e provarem suas teses. Por esse meio, o povo vai conhecendo melhor os seus governantes, como também os métodos justos ou injustos presentes na vida da política do País. É ocasião de rever, de corrigir, de propor, de decidir. O critério da maioria é uma característica da democracia, por isso as regras têm que obedecer aos princípios. Não se pode pensar em democracia se, para se eleger, seja necessário o emprego desordenado do dinheiro ou de inverdades e enganos propositais. Isso seria pseudo-democracia.
O núcleo da atual crise está na corrupção que se tornou endêmica no país, chegando, nos últimos tempos, a níveis insuportáveis.
Sobre a presença da Igreja nesta hora brasileira, gostaria de propor ao caro leitor, trechos do Magistério Eclesiástico, algumas já citadas também por nosso irmão no episcopado, Dom Fernando Rifan, Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, em seu interessante artigo ‘Momento Político’.
É importante recordar o que ensinou Bento XVI em sua encíclica Deus Caritas Est: “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política... não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça... não poderá firmar-se nem prosperar” (Deus Caritas Est, 28). Também o Papa Francisco tem ensinado que “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a se preocupar com a construção de um mundo melhor” (Evangelium Gaudium183).
A Igreja não deseja que os seus ministros ordenados se candidatem a cargos políticos e nem se filiem a partidos, para, inclusive, não correrem o risco de macularem a pregação da Palavra, uma vez que facilmente os púlpitos poderiam se transformar direta ou indiretamente em palanques eleitoreiros. Ela tem princípios, mas não faz opções partidárias. Tem o direito, como qualquer grupo ou qualquer cidadão, de analisar os programas de cada partido e indicar a seus fiéis o que é compatível com a fé cristã e o que não o é, assim como também tem o dever de esclarecer sobre a oportunidade ou não de eleger certos candidatos que não merecem sua confiança, sobretudo os que têm sua “ficha suja”.
Se a Igreja não deseja que seus padres ou bispos se candidatem, ela orienta aos fiéis leigos que o façam com dignidade e determinação, como ensinou São João Paulo II: “Os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política, ou seja, da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum.” (Christifidelis Laici, 42).
Sobre o impeachment da Presidente, a 54ª. Assembléia da CNBB afirmou que “a crise atual evidencia a necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que assegure efetiva participação popular, favoreça a autonomia dos poderes da República, restaure a credibilidade das instituições e garanta a governabilidade”. Também ficou claro que a Igreja não deseja emitir juízo jurídico ou político, certa de que tal procedimento não cabe a ela, mas às instâncias competentes do Estado.
Para evitar certas interpretações não condizentes com a Doutrina Social da Igreja, recordemos o que afirmou Paulo VI: “Há cristãos, hoje em dia, que se sentem atraídos pelas correntes socialistas e pelas suas diversas evoluções. Eles procuram descobrir aí certo número de aspirações, que acalentam em si mesmos, em nome da sua fé..., contudo, tal corrente foi e continua a ser, em muitos casos, inspirada por ideologias incompatíveis com a fé cristã... (Octogesima Adveniens, 31).
As confusões aludidas por Paulo VI perduram ainda hoje, porém cada vez em menor número, seja por ter havido amadurecimento na análise dos fatos históricos que revelaram o insucesso de teorias marxistas em vários lugares, seja por aprofundamento na reflexão sobre a relação da fé cristã com teorias sociais. Já houve quem dissesse que entre cristianismo e marxismo pode haver alguma coisa em comum, pois ambos desejam tratamento igualitário para os seres humanos, porém há uma diferença fundamental: enquanto Marx diz: “o que teu é meu”, Cristo diz: “o que é meu é teu”. Isto muda tudo na compreensão dos fatos e nos métodos.
Nesta hora brasileira, o mais importante é a esperança, a luta fiel contra a corrupção esteja ela onde estiver. Que tudo se realize em paz, sem violência, na busca de uma comunidade nacional justa, fraterna, progressista, respeitadora dos legítimos direitos da pessoa humana, inclusive o de professar livremente a fé.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz e Fora
Preparando a Páscoa
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- Quarta, 24 Fevereiro 2016 10:46
A Campanha da Fraternidade, deste ano, é ecumênica, tendo como objetivo debater as questões relativas ao saneamento básico, desenvolvimento social, saúde integral e qualidade de vida dos cidadãos. O tema escolhido para a Campanha é “Casa comum, nossa responsabilidade”, e o lema, “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24). A proposta está em sintonia com a Encíclica do Papa Francisco, “Laudato Si”.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) será coordenada pelo CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs) e todas as igrejas que integram este Conselho. Integram o CONIC a seguintes igrejas: Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), Igreja Presbiteriana Unida (IPU), Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia (ISOA). Tem, também, a participação da Aliança de Batistas do Brasil e da Visão Mundial, que é uma organização internacional que reúne pessoas ligadas a diferentes igrejas evangélicas que não fazem parte do CONIC. Também participa o CESEEP: Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular que é um dos membros fraternos do CONIC.
É importante destacar que a IV Campanha da Fraternidade Ecumênica terá uma dimensão internacional, pois a Misereor, organização alemã ligada aos Bispos católicos daquele país realizará a sua Campanha de Quaresma em parceria com o CONIC, abordando, o mesmo tema que será refletido em nosso país. Essa será uma Campanha que irá transcender fronteiras.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica é uma iniciativa que vem acontecendo de cinco em cinco anos, tendo a participação de muitas Igrejas cristãs, sempre de forma ecumênica, reconhecendo a beleza de cada Igreja na vivência do Evangelho. A primeira CFE foi organizada no ano 2000, e teve como tema “Dignidade humana e paz”, e o lema escolhido foi: “Novo milênio sem exclusões”. A segunda edição, em 2005, refletindo a “Solidariedade e paz”, com o lema: “Felizes os que promovem a paz”. Em 2010, o tema foi “Economia e Vida”, com o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”.
O Ecumenismo nasce da convicção de nossa fé, da doutrina na qual acreditamos. Para ser ecumênico é preciso reconhecer que a crença dos outros, ainda que seja diferente da nossa, tem seu valor. Deste modo, reconhecer a fé do outro não diminui a importância de nossa fé. Ser ecumênico significa caminhar juntos para a construção de uma sociedade justa e solidária a caminho do Reino definitivo.
O tema e o lema da Campanha abordam duas dimensões fundamentais para a vida: o cuidado com a criação e a luta pela justiça. A Campanha da Fraternidade Ecumênica busca gerar e contribuir para a reflexão crítica das atuais estruturas de desenvolvimento que orienta as políticas públicas e econômicas do país. Desta maneira, analisa o meio ambiente, de modo pontual, os serviços de Saneamento Básico em nossa nação.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), desde 1964, através das Campanhas da Fraternidade, sempre convida a sociedade brasileira a refletir no Tempo da Quaresma assuntos relevantes que marcam a vida da sociedade. Enfim, a Quaresma é tempo forte de conversão, de mudança interior, de graça e de salvação. Preparamo-nos para viver, de maneira livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico e da história da salvação: a Páscoa. Que todos vocês, queridos paroquianos, tenham uma abençoada Quaresma e uma feliz Páscoa.
Pe. Welington Nascimento de Souza
Vigário paroquial
Eis o Tempo de Conversão
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- Sexta, 05 Fevereiro 2016 20:08
A quaresma é um tempo de renovação espiritual para a nossa Igreja, tempo de conversão e de fidelidade, tornando-a mais profundamente Povo do Senhor. Tempo de preparação para a celebração da Páscoa: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus. Precisamos tomar a sério a advertência do Apóstolo Paulo: “Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação” (2Cor 6,2).
A Quaresma é, para a Igreja, um momento de verdade, de se assumir como povo que o Senhor escolheu e conduz. É tempo para assumirmos corajosamente a nossa diferença, no mundo em que vivemos: diferença na fé, nas motivações e nos critérios. É tempo de penetrar no desígnio de Deus a nosso respeito, de percebermos que Ele tem uma vontade para o Seu Povo, em que revela os caminhos da vida e que nos fortalece com o seu Espírito, para que possamos caminhar na fé, na esperança e na caridade. Tomemos consciência de que a Quaresma tem de ser, para nós, tempo de discernimento e de fidelidade.
A primeira interpelação da Quaresma é a da conversão. É o grito, em tom dramático, do Profeta Joel: “Convertei-vos a Mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. Rasgai o vosso coração, não os vossos vestidos. Convertei-vos ao Senhor vosso Deus” (Jl. 2,12-13). E São Paulo, em tom igualmente sério, escreve aos Coríntios: “Nós vos pedimos, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5,20).
A Quaresma é um tempo em que somos chamados a viver ao ritmo da graça, recorrendo a todas as ajudas que, para isso, Deus nos dá, por Jesus Cristo, através da força sacramental da Igreja. Não tenhamos ilusões: muitas das fragilidades dos cristãos devem-se ao fato de reduzirem a sua vida à ordem da natureza, esquecendo que a retidão natural, mesmo que se consiga, não é ainda a santidade.
A Quaresma contém uma forte interpelação à conversão, o que significa aceitar os nossos pecados e a confiança na misericórdia transformadora de Deus. A conversão é uma experiência de realismo e de confiança: realismo de quem reconhece o seu pecado, confiança na infinita misericórdia de Deus: “Ele é clemente e compassivo, paciente e misericordioso” (Jl 2,13).
A Campanha da Fraternidade 2016 aborda o tema “Casa comum, nossa responsabilidade”. O lema bíblico para apoiar esta escolha baseia-se em Amós 5,24, que diz: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. A Campanha propõe um olhar mais amoroso para o planeta e para a natureza, criando assim uma consciência fraterna e lembrando que nossos recursos são limitados e precisamos cuidar bem deles para que assim possamos viver bem. A Campanha deste ano é ecumênica, ou seja, realizada em união com as igrejas cristãs pertencentes ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).
Vamos viver com profundidade o tempo da Quaresma à luz da Campanha da Fraternidade como caminho de conversão e de graça. Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação.
Mons. Luiz Carlos de Paula
Pároco da Catedral Metropolitana