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Enviai o vosso Espírito e renovareis a face da Terra!

PentecostesDurante as duas últimas semanas do Tempo Pascal, lemos, na liturgia, o grande diálogo de Jesus com os Apóstolos, nas vésperas de sua paixão, registrado por São João nos capítulos de 13 a 17 de seu evangelho. Tudo tem caráter de despedida que traz para os discípulos, ainda frágeis na compreensão dos mistérios de Cristo, um ar de tristeza, de medo, de preocupações.

Na última semana, até o 7º sábado, a Igreja nos apresenta textos finais das escrituras do Novo Testamento, encerrando todo o rito pascal com o último capítulo do evangelho joanino, onde o Senhor Ressuscitado dialoga com Pedro sobre o amor e seu rebanho, e com João sobre a parusia. Também a primeira leitura daquele dia apresenta a conclusão literária dos Atos dos Apóstolos, com a ação missionária de Paulo, mesmo acorrentado, em prisão domiciliar na cidade de Roma.

Porém, no dia de Pentecostes, tudo se dá, em certo sentido, ao contrário. As leituras nos falam de um tempo novo, feliz, vitorioso, alegre. O medo dá lugar à coragem, a tibieza ao ânimo, a fraqueza a uma inexplicável força interior. Esplêndida luz vem do alto, o fogo do amor de Deus lhes penetra a alma, um vento impetuoso lhes traz refrigério e os impulsiona com sua força. É o Espírito Santo que lhes preenche o ser. As portas do cenáculo se abrem, os discípulos saem exultando de alegria e anunciam, destemidamente, a boa nova do Evangelho, o kerigma, diante das autoridades que haviam condenado a Cristo: aquele que conduz à vida, vós o matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas! (Atos 3, 15). É o grande anúncio dos tempos novos, onde as forças da morte perdem sua potência, e a vida vence.

Nasce a Igreja missionária. Com ela está Maria, aquela que esteve com o Senhor desde o momento da encarnação, na vida pública, na paixão, e agora não poderia deixar de estar na ressurreição e em Pentecostes. Ela sabe bem quem é o Espírito Santo, pois Ele a tomara por esposa (Cf. Lc 1,35).

Estamos, neste ano, vivendo no mundo inteiro um tempo de preocupações, de cuidados extraordinários, nunca antes experimentados por nós. Medo e sofrimento por tantas perdas de vidas e por perigo de inesperada contaminação são experimentados por toda parte.

Porém, uma nova luz já se levanta. A pandemia vai sendo vencida e em muitas partes do mundo ela já deu lugar à liberdade, ao menos parcial, como na Itália, onde as igrejas já estão abertas e as liturgias presenciais já iniciaram seu curso, embora ainda com muitas restrições.

Também, entre nós, isso acontecerá em breve, pela graça e força do Espírito Santo que celebramos. Nosso coração já se inflama como o dos discípulos de Emaús e já se alegra como o dos Apóstolos, fechados ainda no cenáculo naquela hora terça, da manhã de Pentecostes, na expectativa do momento exato da missão.

À semelhança deles, temos que aguardar o momento, em nosso Brasil, pois ainda corremos perigo, e o que nos salva são o isolamento social, a higiene frequentíssima das mãos, o álcool gel e as máscaras. Mas a hora da graça já se aproxima. Aguardemos o instante da alegria, pois não tardará. Nossos olhos estão fixos no céu, e cremos em tempos novos. Por isso, rezamos com convicção: Enviai o vosso Espírito, Senhor, e renovareis a face da Terra!

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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