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“Para onde iremos, Senhor? Só tu tens palavra de Vida Eterna” (Jo 6, 68)

tu-tens-palavras-de-vida-eternaNas últimas cinco semanas nós lemos o sexto capítulo do Evangelho de São João, o chamado capítulo do Pão da Vida, do pão partilhado, o capítulo eucarístico.

Na Eucaristia, Jesus se dá a nós como alimento espiritual que nos sustenta na caminhada rumo ao céu, nos garante sua permanência dia a dia conosco e nos fortalece para viver suas palavras enquanto estamos na Terra tentando construir um mundo baseado na vivência do amor a Deus e no amor ao próximo. Por isso, a Eucaristia está intimamente ligada à caridade que praticamos, repartindo o que temos com aqueles que têm menos ou que nada têm.

No trecho do evangelho do último domingo, o 21º do Tempo Comum, a palavra de Jesus está centrada na interpretação correta a respeito do Pão Eucarístico, ou seja, o que significam suas expressões, repetidas várias vezes: “Eu sou o pão que desceu do céu, quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne entregue pela vida do mundo. […] Em verdade eu vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós […] Pois minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Quem se alimenta com minha carne e bebe de meu sangue permanece em mim e eu nele” (Cf. Jo 6, 31-56).

Depois de Jesus ter dito essas coisas na sinagoga de Cafarnaum, muitos começaram a murmurar contra Ele: “Como ele pode nos dar a carne para comer?” Entre os discípulos, outros disseram: “Essa palavra é dura; quem a consegue escutar?” O texto também diz que, a partir destas palavras, muitos discípulos já não andavam com Ele. Foi quando disse, com clareza e determinação: “Vós também não quereis ir embora?”

Observemos que o Senhor não muda o discurso nem dá novas explicações. Em outras ocasiões, Jesus vai dar esclarecimentos sobre palavras não compreendidas pelos seus discípulos, como no caso da parábola do Semeador, mas aqui Ele não dá qualquer explicação e nem muda qualquer de seus termos. Por isso, São Pedro, representando os discípulos que permaneceram fiéis, vai dizer: “Para onde iremos, Senhor? Só tu tens palavra de Vida Eterna” (Jo 6, 68).

Qual seria, então, a verdadeira interpretação da palavra do Senhor a respeito do Pão Eucarístico? Ele estaria falando de um símbolo ou de uma realidade mística e sacramental?

Jesus anunciava neste discurso o que realizaria, mais tarde, na ceia pascal do cenáculo em Jerusalém, na véspera de sua morte, de seu sacrifício na cruz. Lá, Ele tomou o pão e disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo que será entregue por vós”; depois tomou o cálice e disse: “este é cálice de meu sangue que será derramado por vós… tomai e bebei” (Cf. Mt 26, 26-28).

Portanto, Jesus não estava contando uma parábola ou criando um símbolo, mas instituindo uma realidade sacramental: a Eucaristia, onde Ele está realmente presente em corpo e sangue, alma e divindade. Ele, instituindo a Eucaristia, nos dá oportunidade de participar da sua Santa Ceia, da mesma forma que os Apóstolos participaram. Para que tivéssemos esta graça inestimável, Jesus, com seu poder divino, Se dá a nós como alimento e, por amor, permanece perpetuamente com seus discípulos de toda e qualquer geração. Ele é alimento místico para a sua Igreja que, unida, também forma o corpo do Senhor, na expressão de São Paulo sobre o Corpo Místico, onde Cristo é a cabeça e nós somos os membros (Cf. I Cor 12, 12-14).

Ao concluir a leitura e meditação do capítulo 6 de São João, resta-nos agradecer a Jesus por seu imenso amor de poder comungar, recebê-Lo no Santo Sacramento da Eucaristia e fazer-se um com Ele e Ele conosco, para que sua Igreja seja una, unida e forte na missão de espalhar o amor de Deus e ter forças na caminhada para enfrentar as oposições, as ideologias contrárias à fé e à moral, a incredulidade de tantos que abandonam a sua Palavra. Jesus Eucarístico nos conduza para o banquete da eternidade, a nunca errar o caminho, rezando sempre com Pedro e toda a Igreja: “Para onde iremos, Senhor? Só tu tens palavra de Vida Eterna” (Jo 6, 68).


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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