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A Palavra de Deus Revelada e Explicada

dom gilDurante todo o mês de setembro, os católicos reverenciam, estudam mais profundamente e desenvolvem várias atividades de valorização da Bíblia Sagrada. É o mês da Bíblia. Os círculos bíblicos em família, as reflexões e orações nas paróquias e comunidades, os cursos nos seminários, as semanas bíblico-catequéticas, os simpósios são alguns dos movimentos promovidos nesta ocasião.

A Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura ocupa lugar central na vida dos que creem em Cristo, pois a Igreja crê e ensina que “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”, na expressão de São Jerônimo (340-420).

Porém a Igreja crê também na Sagrada Tradição e se serve do Magistério Eclesial para crer por inteiro, pois se tudo o que está na Bíblia é verdade, nem toda a verdade está explícita na Bíblia. A Bíblia, a Tradição e o Magistério são três instâncias fontes da fé que não andam separadas, mas intimamente unidas, podendo-se afirmar que uma não pode existir sem as outras.

Diz a Dei Verbum, um dos documentos do Concílio Vaticano II, que “A Sagrada Tradição e a Escritura estão, portanto, entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois promanam da mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e tendem para o mesmo fim. Com efeito, a Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto redigida sob a moção do Espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos...”.

Afirma ainda o mesmo Documento e também o Catecismo da Igreja Católica que “não é somente pela Sagrada Escritura que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado. Por isso ambas, Escritura e Tradição, devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência” (DV 9), (CIC 82).

O Magistério é um serviço indispensável, uma vez que é legítima a pesquisa teológica, mas esta não pode ter, por si só, autoridade sobre a verdade, dependendo, portanto, da definição do Sucessor de Pedro ou dos Bispos em comunhão com ele. Sobre isto afirma a Dei Verbum: “Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, a eles transmitindo o seu próprio encargo de Magistério” (DV 7).

A Tradição antecede a própria Bíblia, tanto no Antigo Testamento, quanto no Novo, pois os textos sagrados somente foram redigidos depois de vivenciados pelas comunidades. No caso do Novo Testamento, os primeiros escritos somente apareceram cerca de 20 anos após a morte e ressurreição de Cristo, sendo, segundo as atuais pesquisas, a 1ª carta de Paulo aos Tessalonicenses o texto mais antigo, escrito não antes do ano 51. Os quatro evangelhos se formaram depois do ano 70, segundo a maioria dos exegetas. Até formar o corpus neotestamentário passaram-se anos, o que indica, com certeza, que as primeiras comunidades cristãs, até o fim do primeiro século, viveram da Tradição Apostólica. Assim, pode-se afirmar, sem receios, que a organização da Igreja fundada por Cristo, nasceu da Tradição e não das Escrituras neotestamentárias.

Não temos uma ‘religião do livro’, mas uma ‘religião da Palavra’, e a Palavra não é uma letra, é uma pessoa, Cristo, segundo afirma João: “A Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo.1, 14).

As próprias Escrituras confirmam o valor da Tradição transmitida pelos Discípulos, antes mesmo que houvessem escritos, como por exemplo, o texto da 2ª carta a Timóteo: “Toma por modelo os ensinamentos salutares que recebeste de mim sobre a fé e amor a Jesus Cristo. Guarda o precioso depósito pela virtude do Espírito Santo que habita em nós” (2Tm 1,13-14).

Os Apóstolos transmitiram aquilo que eles receberam (cf. I Cor 11,23; 15,3), exortam os fiéis a manter as tradições que aprenderam seja oralmente, seja por carta (cf. II Tess. 2,15), e a combater pela fé uma vez transmitida aos santos (cf. Jd 3).


Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

 

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