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O Advento: o início de um novo Tempo Litúrgico

adventoO advento é o início de um novo tempo na vida litúrgica da Igreja do Senhor. Ele é permeado de muita alegria e amor, porque ele aponta para o santo Natal, para o nascimento de Jesus Cristo na realidade humana. “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). O advento é palavra proveniente do latim: adventus-us, chegada, chegar, esperar pelo advento é dado por um período de paz; são quatro semanas de preparação ao Natal. Vivamos bem este período significativo na vida familiar, eclesial e social. A seguir vejamos como a Igreja antiga fez a sua preparação em relação ao Natal, pelo tempo do advento.

A preparação para o nascimento do menino Jesus

A Igreja antiga convocava os fieis para se preparar para a vinda do menino Jesus ao mundo. Com a fixação da festa da Páscoa, um tempo mais tarde ocorreu com o Natal, a comunidade eclesial fixou um tempo de preparação para a vinda do Senhor, o advento que iniciou nas províncias da Gália, da Espanha, de, pois em Roma e também no Oriente. No Ordo Romanus XV, do século VIII, espécie de resumo de prescrições litúrgicas, ressaltou-se que o tempo do advento deveria iniciar nos primeiros dias dezembro, em preparação para o santo natal.

A Igreja antiga ressaltava a importância da vida que Deus trouxe à humanidade através de seu Filho Jesus Cristo. Maria foi percebida como a mulher que colaborou com o plano salvífico do Pai, em vista da salvação da humanidade assumida pelo Senhor Jesus Cristo. O advento se constituiu como o tempo propício de louvor e de esperança pela vinda do Messias ao mundo, mensagem evangélica para todos os tempos.

A realidade do nascimento do Messias

As representações antigas encontradas nas catacumbas e outros lugares, em vista do nascimento de Jesus colocaram a pobreza no recém-nascido, a realeza do Senhor. Os autores cristãos percebiam nas profecias do AT a alusão à encarnação do Verbo, ao nascimento do Messias, por uma Virgem, de modo que tudo isso aludiam à encarnação do Verbo, sublinhando à realidade do seu itinerário terreno e o anúncio do advento do Messias aos pastores, isto é junto ao povo hebreu.

Maria, José e o Menino Jesus

Nessas representações da Igreja antiga apareciam também as figuras de Maria, José e o menino Jesus. Em outras figuras apareciam na natividade em preparação ao santo Natal, o menino em faixas na manjedoura, o boi, o burro, apresentações lembradas na profecia de Isaias(cfr. Is 1,3). Com o tempo, as pessoas colocaram também nessas imagens a adoração dos reis magos. As apresentações deram-se em relação à Maria e a José, ajoelhados junto ao menino Jesus na manjedoura. Todas essas coisas foram importantes no tempo do advento para os fiéis prepararem o mistério da salvação, assumido pelo Filho de Deus, Jesus Cristo na realidade humana.

O tempo de espera no Senhor.

São Leão Magno, Papa do século V ressaltou num sermão de Natal o tempo da espera do Senhor, que foi o tempo do advento, e a qual se concretizou no Natal. Os tempos pré-ordenados se cumpriram para a redenção dos seres humanos, Jesus Cristo, Filho de Deus, o qual penetrou na realidade humana, descendo da morada celeste, sem deixar a glória do Pai, vindo ao mundo por um novo nascimento. O Senhor Deus impassível, não se julgou indigno assumir a humanidade passível, imortal, mas ele submeteu-se às leis da morte para salvar a todos.

A vinda do Senhor

São Cirilo de Jerusalém, bispo do século IV afirmou a alegria pela vinda de Cristo, não apenas a primeira, mas também a segunda, a gloriosa, pois se a primeira foi revestida do ponto de vista de sofrimento, pela humanidade, a segunda manifestará a coroa da realeza divina. Se a primeira vinda ele foi envolto em faixas, e reclinado num presépio, na segunda será revestida pela luz. Se a primeira ele teve que suportar a cruz, na segunda virá cheio de glória, cercado pelos anjos. Desta forma a advento nos ajuda a viver a dimensão da vinda do Senhor que se fez carne para a nossa salvação.

A Palavra do Pai se fez pessoa humana

São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV afirmou que o Filho de Deus, que existe desde toda a eternidade, incorpóreo, a luz nascida da luz, a fonte da vida e da imortalidade, a Palavra do Pai veio em ajuda à criatura feita à sua imagem e por amor do ser humano se fez pessoa humana, gente, homem. Ele assumiu tudo o que é humano, exceto o pecado. O bispo também ressaltava que o Senhor que enriqueceu os outros, tornou-se pobre, aceitando a pobreza da condição humana para que a mesma recebesse os tesouros de sua divindade. Aquele no qual possui tudo em plenitude aniquilou-se a si mesmo; despojou-se de sua glória por um tempo para que as pessoas participassem de sua plenitude.

A necessidade de vigiar

Santo Efrém, Diácono do século IV colocou a necessidade, no tempo da espera, no caso do advento, de vigiar, do latim vigilare, cujo significado é alerta, estar atento, fazer muita atenção, porque este tempo é especial e exige a vigilância. Diante da interrogação dos discípulos para saber a hora de sua vinda, o Senhor ocultou a todos a hora, para que todos os seus seguidores ficassem vigilantes. O Diácono também afirmou que se o Senhor tivesse revelado o tempo de sua vinda, esta deixaria de ter interesse e poderia não mais ser desejada pelos povos das épocas em quem se manifestará. Se o Senhor disse que viria, no entanto ele não declarou o momento de modo que as gerações e todos os séculos o esperam de uma forma ardente e alegre.

O advento é um tempo especial que nos ajuda a preparar bem a vinda do Messias, Jesus Cristo em nossa realidade. Ele já veio de uma forma humana e agora Ele vem sempre em nosso meio para nos encorajar para sermos discípulos, missionários em saída, para torná-lo conhecido e amado pelos povos. O advento é tempo de alegria, pois o nascimento de Cristo trará vida nova para toda a humanidade, pois o Filho de Deus se tornou gente, carne e veio habitar no meio de nós (cfr. Jo 1,14). Nós somos chamados a viver o advento como tempo de aumento de nossa fé, esperança e caridade.


Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá (PA)

Novos tempos na Arquidiocese de Juiz de Fora

Pintura-CatedralCom grande alegria, celebramos, no dia 31 de outubro, a Santa Eucaristia como marco especial, em nossa Igreja Particular juiz-forana, agradecendo a Deus pela primeira etapa de nosso II Sínodo Arquidiocesano, iniciado a 7 de dezembro de 2019, que durou praticamente dois anos, marcado fortemente pela inesperada pandemia da Covid-19. Neste mesmo momento, com muita alegria e esperança, abrimos a Segunda Fase Sinodal, empreendendo caminhos novos neste tempo que já se abre para a superação da pandemia.

Nesta ocasião marcante de nossa história arquidiocesana, quando caminhamos também para celebrar o centenário diocesano, tivemos a satisfação de escolher e chamar ao Diaconato nossos caros filhos, Rafael Coelho do Nascimento e Robert César Teixeira. A ordenação diaconal desses irmãos representa muito para todos nós, pois, além de serem dois novos servidores de Deus que chegam para se somarem ao clero na construção do Reino, também representam, nesta nova fase sinodal, a marca da atenção aos pobres e à reforma da vida pastoral, dois elementos eminentemente diaconais. Foi para isso que os Apóstolos instituíram a ordem dos diáconos na Igreja, como lemos no Atos dos Apóstolos 6, 1-7. É significativo o lema que eles escolheram: “Ungiu-nos, selou-nos e pôs em nosso coração o Espírito como penhor”, da 2ª Carta aos Coríntios, 1, 22. O serviço na Igreja é sopro do Espírito que nos unge e nos envia e eles serão força nova nesta missão.

Que queremos, em nossa Arquidiocese, com todos estes fatos, senão colocar em prática, da melhor maneira possível, o grande mandamento que Jesus ensinou? O que queremos com nosso Sínodo, senão caminhar juntos, praticando concretamente o amor? O que pretendem nossos jovens irmãos, ao se consagrarem perpetuamente a Deus, senão servir desinteressadamente, como fez o Senhor somente por amor? À base de nossos sínodos, com a proposta de caminharmos sempre juntos, está o mandamento maior: amar a Deus e amar o próximo. Aqui se unem liturgia e ação caritativa, solidária, misericordiosa, sobretudo com os mais vulneráveis.

A nova fase sinodal se organiza com dois olhares especiais provocados pelo período pandêmico. O primeiro é para os que foram mais atingidos pela pandemia: os pobres, os vulneráveis, os doentes com suas sequelas, as famílias mais atingidas pelas mortes. Quanto a isso, nos ajudam as palavras do Papa Francisco, sobretudo duas que ele tem repetido frequentemente: compaixão e esperança. O segundo olhar será para nós mesmos, para revisarmos nossos esquemas pastorais a fim de torná-los cada vez mais eficazes. Os pronunciamentos do Papa Francisco nos ajudarão, sobretudo a encíclica Fratelli Tutti, lançada há um ano, a 3 de outubro de 2020, sobre a fraternidade e a amizade social.

Eis os grandes desafios colocados pela nossa fé nesta nova etapa de nossa caminhada sinodal arquidiocesana. Unidos todos, com coragem e ânimo, movidos pelo Espírito do Senhor, com disposição e amor, vamos juntos caminhar neste novo tempo, certos de que estamos realizando o grande preceito do Senhor: amar a Deus com todo nosso coração, com toda a nossa mente, com todo nosso entendimento e com toda a nossa força, e ao próximo como a nós mesmos.

Que Maria Santíssima, a quem queremos escolher como Mãe amorosa protetora de nossa Arquidiocese, nesta caminhada rumo ao centenário diocesano, juntamente com Santo Antônio, nosso Padroeiro, nos abençoem como fiéis intercessores diante da Trindade Santíssima, a eterna comunidade de amor.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Dia Mundial dos Pobres

dia mundial pobresCertamente já é do nosso conhecimento que o penúltimo domingo do Tempo Comum foi instituído, há cinco anos, como Dia Mundial dos Pobres. Na mensagem de 2021, o Papa Francisco faz uma veemente exortação aos cristãos, com o objetivo de evitar toda indiferença ou desprezo em relação aos mais abandonados da sociedade, especialmente neste tempo da pandemia, quando seu número cresce assustadoramente. O Pontífice chega a advertir: “Os que não reconhecem os pobres, atraiçoam o ensinamento de Jesus e não podem ser seus discípulos” (Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres – 2021, n. 1). No Evangelho, o próprio Jesus se identifica com os pobres. Por isso a mensagem acentua: “Toda a obra de Jesus afirma que a pobreza não é fruto duma fatalidade, mas sinal concreto da sua presença no nosso meio. Não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver” (Idem, n. 2). O texto papal nos desafia a descobrir Cristo nos pobres e não só emprestar-lhes a voz nas suas causas, mas também ser seus amigos, escutá-los, compreendê-los e acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. Por isso não bastam ações ou programas de promoção e assistência, mas uma atenção prestada ao outro, considerando-o como ‘um conosco’. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e o desejo de procurar o seu bem. Por isso o Papa continua: “Os pobres não são pessoas ‘externas’ à comunidade, mas irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social” (Idem, n. 3). Esta partilha é mais que a esmola ocasional, pois leva à fraternidade duradoura. Em nosso tempo de pandemia, com certeza, a graça de Deus está em ação no coração de muitas pessoas que, com ou sem visibilidade, se gastam concretamente partilhando a sorte dos mais pobres.

Voltar-se para os pobres, exige de nós uma verdadeira conversão de vida para abrir o coração e reconhecer as múltiplas expressões de pobreza e abraçar um estilo de vida, coerente com a fé que professamos. Seguir Jesus implica em acolher o desafio da partilha e a opção de não acumular tesouros, poder mundano e vanglória na terra. Neste sentido, o Papa Francisco coloca o dedo numa ferida dolorosa: “Parece ganhar terreno a concepção segundo a qual os pobres não só são responsáveis pela sua condição, mas constituem também um peso intolerável para um sistema econômico que coloca no centro o interesse dalgumas categorias privilegiadas. Um mercado que ignora ou discrimina os princípios éticos cria condições desumanas que se abatem sobre pessoas que já vivem em condições precárias” (Idem, n. 5). O Pontífice volta a firmar que a pobreza não é fruto do destino, mas consequência do egoísmo. Por isso convida a todos para dar vida a processos de desenvolvimento onde se valorizem a capacidade de todos.

O Papa Francisco, no final de sua mensagem, conclama a todos: “Faço votos de que o Dia Mundial dos Pobres, chegado já à sua quinta celebração, possa radicar-se cada vez mais nas nossas Igrejas locais e abrir-se a um movimento de evangelização que, em primeira instância, encontre os pobres lá onde estão”. E termina dizendo: “Os pobres estão no meio de nós. Como seria evangélico, se pudéssemos dizer com toda a verdade: também nós somos pobres, porque só assim conseguiríamos realmente reconhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento de salvação” (Idem, n. 9).


Dom Aloísio Alberto Dilli

Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

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