Presença na ausência
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- Segunda, 16 Maio 2022 12:57
Parece ser contraditório, mas não é, principalmente no tempo de pandemia, quando as tratativas passaram a ser feitas a distância. É o que está sendo chamado de “novo normal”, ancorado na expressão virtual. A Internet permitiu relacionamentos fraternos e comerciais a distância, sem presença física, que podemos chamar de presença na ausência. Ciência colocada a serviço da comunicação.
Esses dados virtuais podem ajudar a entender o significado da Páscoa da Ressureição. Jesus não está mais presente fisicamente no mundo. Na Ascensão refletimos sobre sua volta para a Casa do Pai, mas continua presente de forma espiritual, seja através da Eucaristia ou onde dois ou três estiveram reunidos em seu nome, diz Ele ali estar presente. Portanto, é uma presença na ausência.
Esse fato é comprovado pelo firme e autêntico testemunho dos primeiros cristãos, principalmente por Paulo e Barnabé, grandes anunciadores da Ressurreição do Senhor. Os dois não conviveram fisicamente com Jesus, mas anunciaram, com determinação, tudo o que eles mesmos receberam dos seus contemporâneos, dos que tiveram a oportunidade de acompanhar toda a trajetória de Jesus.
Mesmo não estando presente fisicamente, o mistério da fé conduz a pessoa ao encontro pessoal com Deus, em Jesus Cristo. A fé é o mistério dessa presença na ausência. Como diz Jesus a Tomé no seu momento de incredulidade: Tomé, “Bem-aventurados os que não viram, e creram!” (Jo 20,29). Não é fácil entender a Aliança que faz acontecer o mistério da relação entre o céu e terra em Jesus Cristo.
A promessa bíblica revela claramente a presença de Deus nas pessoas de fé. É aquilo que está contido no seguinte texto: “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Essa presença do ressuscitado já tinha sido prometida por Jesus aos primeiros cristãos, ao dizer: “Vou, mas voltarei a vós!” (Jo, 14,28).
A presença misteriosa de Jesus no mundo, especialmente na vida das pessoas de fé em Deus, revela a identidade do cristão, daquele que está no mundo, mas tem como destino último a vida eterna no Pai. Quem morre não volta mais e só deixa saudade, porque não está mais presente fisicamente, a não ser deixando uma presença de sentimentos, de lembranças e saudade.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Maio, o Mês Mariano
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- Terça, 03 Maio 2022 10:33
Maio é dedicado na Igreja como o mês Mariano, um tempo dedicado à Nossa Senhora tendo algumas festas marcantes — no dia 13 de maio celebramos o dia de Nossa Senhora de Fátima e, no dia 24 do mesmo mês, celebramos Nossa Senhora Auxiliadora. Dessa forma, pedimos nesse mês de maio a proteção de Maria para cada um de nós e para nossa família.
Durante o mês de maio, somos convidados a intensificar as nossas orações à Nossa Senhora, como a reza do terço todos os dias, meditação da Palavra de Deus, além da participação na celebração Eucarística. Aqui em nosso Regional Leste 1 (Estado do Rio de Janeiro) temos o Rosário pela paz rezado cada dia de uma das Dioceses do Estado. É a nossa intercessão pela paz no mundo e em nossas cidades. As paróquias também podem promover durante esse mês, antes das celebrações da missa ou em outro horário, a reza do terço para que possamos, diante dos mistérios do rosário, contemplar a vida de Cristo e de Maria. Através da oração do rosário, oferecemos “rosas” à Nossa Senhora e agradecemos à Ela por tantos bens que nos concede.
Normalmente, no último dia do mês ou no último domingo do mês, ocorre a coroação de Nossa Senhora em nossas comunidades, venerando Nossa Senhora Rainha. Ela é considerada a Rainha do céu e da Terra e intercede por nós junto a Deus. É nossa advogada junto de Deus e não quer ver nenhum de seus filhos se perder. Nossa Senhora recebe vários títulos onde aparece, mas é a mesma Mãe de Jesus. Em maio, recordamos dois títulos de Nossa Senhora, mas durante o ano, recordamos muitos outros.
No segundo domingo do mês de maio recordamos, também, o Dia das Mães. É um momento para agradecermos a Deus por todas as mães e, em especial, por nossas mães. Lembramos de Nossa Senhora, que Ela é um exemplo de mãe para todas as mães e é a mãe de todos nós. Da mesma forma que oferecemos “rosas” à Nossa Senhora, que possamos oferecer para as nossas mães também. Rezemos um terço e participemos da celebração eucarística nesse dia, junto com nossas mães. Antes de dar algum presente para as nossas mães, estejamos junto com elas nesse dia. O maior presente para elas nesse dia é a nossa presença. Se já faleceu, reze a Deus pedindo que junto de Nossa Senhora ela interceda por você.
Por isso, temos muitos motivos para celebrar e nos alegrar durante esse mês de maio, pedindo a proteção de Nossa Senhora. Reserve um tempo do seu dia caso não possa ir até a Igreja para rezar o terço. Pode ser à noite ou pela manhã, no carro ou ônibus, indo ou voltando do trabalho. Nos alegremos e peçamos a proteção de Nossa Senhora para cada um de nós.
Durante esse mês, somos convidados a olhar com sabedoria e fé para figura da mulher humilde escolhida por Deus que, com o seu “sim”, transformou a história da humanidade. Graças ao “sim” de Nossa Senhora, nasceu o nosso salvador Jesus Cristo e Ela se tornou para a humanidade o exemplo e modelo de mãe e esposa. Que os filhos e esposos respeitem as suas mães e esposas e que, a exemplo da Sagrada Família de Nazaré, possam ser felizes.
Peçamos durante esse mês Mariano que todas as mulheres sejam respeitadas em sua dignidade, que tenha menos violência contra as mulheres e que elas tenham mais oportunidade de emprego e o respeito devido na sociedade. Que os filhos respeitem suas mães, que lhes deram a vida, e que possam amá-las e respeitá-las de verdade.
Em Maria, os fiéis encontram refúgio e a doçura de uma boa mãe, que atende os seus filhos em suas necessidades e, assim como nas bodas de Caná da Galileia, leva os pedidos até Jesus e pede que Ele atenda. Por isso, o mês de maio é especial para a reza do terço, orações e louvores à Nossa Senhora. É um mês, sobretudo, para se alcançar as graças que queremos.
A tradição de ter um mês dedicado à Maria surgiu por volta do século XII. Era preciso pedir a proteção da Mãe Maria pelas necessidades da Igreja de seu filho. Até por isso, Nossa Senhora é conhecida como a Mãe da Igreja porque ela intercede constantemente pelas necessidades da Igreja de seu filho. A devoção Mariana teve origem no Brasil no período da colonização, com a evangelização promovida pelos padres Jesuítas que, aos poucos, foi ganhando força até como conhecemos hoje.
Celebremos com fé e piedade este mês Mariano, pedindo a intercessão de Nossa Senhora por cada um de nós e de modo especial por nossas mães. Que Nossa Senhora abençoe também aquelas que desejam ser mães ou aquelas que estão grávidas, para que possam ser mães amorosas a exemplo de Maria. Façamos o esforço de rezarmos o terço durante esse mês, participando das celebrações eucarísticas, sempre pedindo a intercessão de Nossa Senhora.
Podemos, ainda, separar um lugar especial para Nossa Senhora em nossa casa durante esse mês. Colocar a imagem de Nossa Senhora que você tiver em sua casa em destaque, com um terço e uma vela juntos e sempre rezar diante dessa imagem, pedindo paz e proteção. Ela é a mãe de todos nós e vai abençoar todos que entrarem e saírem de nossa casa.
Nas comunidades paroquiais, também, podemos colocar a imagem de Nossa Senhora em destaque e, durante o mês, rezar diante dessa imagem, colocando junto um arranjo de flor e velas. Ao final do mês, coroar essa imagem de Nossa Senhora e guardá-la num lugar especial.
Que Nossa Senhora de Fátima nos proteja e Nossa Senhora Auxiliadora nos auxilie em nossas decisões. Que Nossa Senhora reine em nossas casas e em nossas vidas. Que, do céu, Ela derrame muitas graças sobre todos nós.
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
O MISSIONÁRIO AMA A JESUS E DÁ TESTEMUNHO DO AMOR DIVINO!
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- Sexta, 29 Abril 2022 18:20
A liturgia deste 3º Domingo do Tempo Pascal recorda-nos que a comunidade cristã tem por missão testemunhar e concretizar o projeto libertador que Jesus iniciou; e que Jesus, vivo e ressuscitado, acompanhará sempre a sua Igreja em missão, vivificando-a com a sua presença e orientando-a com a sua Palavra.
A primeira leitura (At 5,27b-32.40b-41) apresenta-nos o testemunho que a comunidade de Jerusalém dá de Jesus ressuscitado. Embora o mundo se oponha ao projeto libertador de Jesus testemunhado pelos discípulos, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos homens. Os apóstolos, mesmos proibidos, continuam a pregar a doutrina do Mestre. Ao serem açoitados e perseguidos, reconhecem estar no caminho certo, desafiando as autoridades opressoras, que mataram o Mestre da Galiléia.
A segunda leitura(Ap 5,11-14) apresenta Jesus, o “cordeiro” imolado que venceu a morte e que trouxe aos homens a libertação definitiva; em contexto litúrgico, o autor põe a criação inteira a manifestar diante do “cordeiro” vitorioso a sua alegria e o seu louvor. Esta leitura contempla a multidão dos seres vivos e anciãos que proclamam os atributos do Cordeiro, imagem muito comum no Apocalipse para se referir a Jesus crucificado e ressuscitado. Ele é a cabeça da humanidade e o Senhor da História, aquele que guia o rebanho.
O Evangelho(Jo 21,1-19) apresenta os discípulos em missão, continuando o projeto libertador de Jesus; mas avisa que a ação dos discípulos só será coroada de êxito se eles souberem reconhecer o Ressuscitado junto deles e se deixarem guiar pela sua Palavra. Pesca e Pedro. Missão e Pastor. Jesus Ressuscitado se manifesta pela terceira vez em contexto eucarístico, com colorido missionário e vocacional. O Evangelho se abre com os discípulos de Jesus na barca, em sua atividade missionária no “mar do mundo”. A aparição se dá a sete discípulos, a totalidade da comunidade-discípula, exercendo sua tarefa em meio à totalidade dos povos. Quando surge a luz do dia, Jesus aparece. Brilhou a luz da Ressurreição sobre a comunidade. Sob a ordem de Jesus, os discípulos lançam a rede. Obedecendo, sem saber que era Jesus, percebem a maravilha da nova pescaria. A barca e a rede, sinais da unidade da Igreja, não se afundam nem se rompem. Com Jesus Ressuscitado, presente e seguindo sua ordem, a missão será sempre bem-sucedida. Depois de comerem a refeição eucarística, Pedro é reabilitado como Apóstolo e confirmado como Pastor. Simao, filho de João, antes conduzido a Jesus para que se tornasse Pedro (Jo 1,42), além disso se torna agora Cefas – Pedra. Confessa três vezes sua amizade e seu amor ao senhor, é feito Pastor e chamado a seguir a Jesus, Pastor Eterno, até à morte. Depois de longo itinerário, Simão está pronto! Em todo Evangelho de João, somente aqui, Jesus se dirige a Pedro, dizendo: “Segue-me”. Pedro converteu-se, endireitou-se, encontrou-se consigo mesmo, amou, seguiu e testemunhou Jesus até o derramamento de seu sangue. Hoje, se Pedro é Francisco, nós todos somos Simão, filho de João. Sejamos revestidos do Ressuscitados e zelosos na missão!
A Igreja terá sucesso na missão se se deixar conduzir pelas palavras do Ressuscitado. Jesus os convida a saborear um gostoso peixe, fruto da pesca abundante que realizaram. No segundo momento, o Evangelho narra a vocação de Pedro para ser guia da comunidade. Para seguir Jesus devemos amá-lo. Por isso Jesus insiste com Pedro para saber se ele o amava. Sem amar o Mestre, não conseguiremos ser fiéis nem a Ele e nem à missão. O amor é o que dá sentido à nova vida e nos impulsiona à missão!
O missionário ama a Jesus e dá testemunho do amor divino! Continuemos doando a nossa vida por amor a Cristo e que sejamos missionários que ajudemos a saciar a fome da humanidade, o que celebramos em cada Eucaristia. Jesus – ainda hoje – continua nos interrogando: Vocês me amam? Amamos Jesus à medida que amamos nossos irmãos e irmãs, especialmente, os mais fragilizados e esquecidos.
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)