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As águas das chuvas…

reaproveitamento-da-agua-da-chuvaEntre os fenômenos da natureza, a chuva é um dos mais belos e dos mais fortes. A água, ao cair dos céus, desperta a vida e logo pede passagem. Onde há terra ela penetra para fecundar as sementes e deixar verde a vegetação. Alimenta as nascentes em que os sedentos acorrem para beber da água cristalina. Se o solo está impermeabilizado pelo cimento ou asfalto, ou ocupado com construções, quanto mais intensas e duradouras as chuvas, mais força as águas pluviais ganham e podem se tornar destruidoras. Se há alguma fresta, ela entra gota a gota para fazer goteira nos telhados e nas lajes. Desmorona barrancos, abre crateras, esculpe as pedras. Quase vaidosa, ela desfruta de uma persistência evocada no adágio: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Ela está sempre presente, com grande riqueza de significados, em passagens bíblicas. Exemplo é a evocação da imagem bíblica do dilúvio, para lembrar que as águas podem submergir muitos espaços e pode trazer consigo a morte.

O ser humano dela depende para viver. Os médicos aconselham beber ao menos três litros de água por dia, o que para muitos é um sacrifício. Numa casa ela é moradora de destaque em diversos espaços, especialmente nos lavabos, cozinhas, banheiros e jardins. E quando não se faz presente, quanta reclamação de quem depende dela para banhar-se, alimentar-se e limpar os ambientes. Ela é, indubitavelmente, um produto de primeira necessidade. Pode ser chamada de ouro, pois em muitos lugares é disputada e, pelo que se anuncia, será cada vez mais valiosa. Engarrafada, em vidro ou em pet, quantos na atualidade não adquirem a água para servir à mesa e beber, ou mesmo cozinhar?

Inteligentemente, o ser humano descobriu que as águas podem ser represadas e sua força transformada em energia mecânica. Depois descobriu que daí poderia ter energia elétrica. Para isso é capaz de mudar o curso dos rios e de construir imensas hidrelétricas, que trazem inúmeros benefícios e inúmeros desequilíbrios ambientais e sociais.

As chuvas que neste verão de 2022 castigam algumas regiões do Sudeste e, também, do Norte do país oportunizam, mais uma vez, muitas reflexões. Quero contribuir com duas ponderações que me parecem necessárias e úteis. Ambas partem da pergunta: em relação à água, qual minha posição pessoal e política? Sei que sobre toda ação pessoal há uma espécie de hipoteca social. Boa parte das ações pessoais tem consequências sociais. Daí brota a natureza política das pequenas ações do cotidiano. Então, a primeira ponderação é sobre o modo como pessoalmente lidamos com a água. Reflita: como a utilizo? Há desperdícios? Que interferências minhas colaboram para resultar em desastres maiores? Preservo as árvores? Deixo espaços de solo livres para a água penetrar na terra? Evito deixar lixo no caminho das águas pluviais? Esses pequenos gestos podem parecer inúteis para você. Mas para a Terra que abriga bilhões de habitantes, cada gesto desses tem um impacto impressionante.

A outra ponderação é de ordem política. Lembre-se de que as grandes decisões administrativas confiadas aos governos precisam ser terminantemente acompanhadas e criticadas pelos cidadãos eleitores. Há decisões governamentais que são avassaladoras para o futuro do planeta. Entre elas estão as relacionadas às águas e, consequentemente, à questão energética e à mineração. O cidadão comum, de modo geral, tem pouco interesse nesses debates. Nossa omissão diante dessas decisões tem alto custo, levando ao perecimento de bens e ceifando vidas, sobretudo dos mais pobres.


Dom João Justino de Medeiros Silva
Administrador Apostólico de Montes Claros (MG)

Expectativas de 2022

579919 358750057535856 578226586 nNão é fácil fazer projeção na história de uma nação cheia de contradições, desafios, pandemia, desemprego, fome, diversidade na cultura, na economia, na política, na prática religiosa e crise governamental. Até olhamos para o futuro com certa desconfiança, porque o país vive na condição de ameaçado, com muita destruição da natureza e sacrificado por políticas e políticos desonestos.

Mas a história ainda não acabou. Ela continua e tudo pode ser transformado com o esforço de todos os brasileiros. Há esperança de mudança, de valorização das potencialidades que o Brasil tem em todos os sentidos, principalmente de um povo ordeiro e paciente. Um caminho de esperança passa pela escolha de bons administradores, competentes e honestos nas eleições deste ano.

A Palavra de Deus deve ser referência que toca os corações. O texto das Bodas de Caná (Jo 2,1-11) incentiva nossa esperança de mudança. Numa festa de casamento faltou o vinho, um ingrediente indispensável para aquele momento festivo. Alguém apareceu com espírito de liderança e resolveu o problema com a transformação da água em vinho, sinal de que nas fragilidades é possível mudança.

Diante desta situação do povo brasileiro, é possível escolher líderes capacitados e bem-intencionados para dirigir os destinos da nação. Ninguém tem uma estrela na testa mostrando o nível de sua identidade e compromisso social, mas todos têm uma história de vida com atitudes honestas ou não. Significa que é possível formar um corpo administrativo da forma que o brasileiro precisa.

Há uma insatisfação generalizada do povo em relação às atuais lideranças políticas. Falta neles uma sensibilidade proativa para com a população pobre, a não ser na hora da campanha eleitoral, que vai começar já para as eleições deste ano. Pesa sobre cada eleitor uma pesada carga de responsabilidade na hora da escolha. É desses momentos que podemos falar de expectativas para 2022.

Muitos dons e capacidades podem ser usados para o mal, principalmente quando se tem como motivo a competição, a divisão e o orgulho próprio. É justamente por isso que temos uma realidade muito desequilibrada, desumana e preocupante para a população. Há uma crise de autoridade em todos os setores da sociedade, mas isto pode mudar com a participação consciente dos cidadãos.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

Festa do Batismo do Senhor

batismojesus“Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (cf. Is 42,6-7).

Perpassado as solenidades do Tempo do Natal, celebramos neste domingo a Festa do Batismo do Senhor, onde revela-se a identidade de Jesus Cristo e o início da sua missão para a instauração do Projeto de Salvação de Deus para com toda a humanidade. E é através do Batismo que somos inseridos a comunidade cristã, onde somos mergulhados na água, simbolizando a nossa sepultura e, ao se emergir, somos renascidos para o Cristo como novas criaturas.

A Primeira Leitura, retirada do Livro do Profeta Isaías (Is 42,1-4.6-7), o profeta anuncia a chegada do Servo escolhido por Deus, onde ele será designado a instaurar a justiça por toda a Terra, pois este Servo será manso, justo e humilde de coração. Em que ele não será abaterá enquanto a instauração da justiça seja concretizada. Pois assim diz o Senhor Deus: “Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (cf. Is 42,6-7).

No Evangelho de Lucas (Lc 3,15-16.21-22), concretiza a profecia dada pela de Isaías: Jesus Cristo, o Enviado de Deus inicia sua missão sendo batizado pelo maior de todos os profetas, João Batista. João Batista batiza com água, Jesus Cristo batiza com o Espírito Santo e no fogo, pois ele que se encarnou traz a graça da salvação a todos, assim Deus aclama: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer” (cf. Lc 3,22c).

A Segunda Leitura extraída dos Atos dos Apóstolos (At 10,34-38), Lucas demonstra a exortação de Pedro sobre o início da missão que Jesus Cristo obteve através do seu Batismo, por João Batista, no rio Jordão. Ao relatar o anúncio da Boa Nova, por Jesus Cristo, Pedro deixa implícito que a missão que foi cabida ao Nazareno, estende-se a nós, por primeiro ao sermos conhecedores dos fatos. E, por segundo, como o próprio Cristo nos deu o exemplo de batizar, ou seja, “iniciar a missão”, cada um de nós batizado igualmente temos a missão em anunciar a Boa Nova da Paz, fazendo o bem e curando a todos que Deus coloca em nosso caminho. Afinal, Jesus “andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele” (cf. At 10,38b).

Enfim, que a Festa do Batismo do Senhor sejamos autênticos discípulos-missionários no Anúncio do Evangelho da Salvação; relembrar que através do Batismo do Jesus Cristo “a graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os homens” (cf. Tt 2,11). Logo, jubilosos aclamamos: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande! De majestade e esplendor vos revestis e de luz vos envolveis como num manto” (cf. Sl 103,1-2a).

Saudações em Cristo!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

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