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Aborto: Brasil ferido em tempo de Natal

100219084209 bebe18Estamos no tempo do Advento, preparando-nos para celebrar o nascimento do Salvador. No Natal, aqueles que creem se inclinam, com referência ante o recém-nascido na manjedoura de Belém. O povo brasileiro, em sua imensa maioria cristão e temente a Deus, celebra o maior evento da história da humanidade: o nascimento de Jesus de Nazaré, e contempla o presépio com ternura e respeito.

Porém, ao lado desta abençoada experiência existencial, no corrente ano, estamos sendo surpreendidos por uma verdadeira traição dos que nos governam, quando assistimos à aprovação do aborto até o terceiro mês de gestação. Enquanto o país estava consternado com a tragédia da queda de avião que matou jogadores e outras pessoas, o STF aprovou a legalização do assassinato de inocentes. Somos obrigados a conviver com movimentos que agridem a vida e a dignidade da pessoa humana. O aborto não é outra coisa senão infanticídio. É inacreditável que em pleno século XXI, com tanto progresso tecnológico e científico, haja um regresso em questão de humanidade.

Não tenhamos dúvida: se hoje aprovam abortamento até o terceiro mês, os cultores da morte não se contentarão com isto. Em breve se sentirão fortes para aprovar o aborto em qualquer circunstância até o nono mês. É mais que trágico!

A argumentação a favor deste ato insano é totalmente falha e marcada por uma fragilidade inacreditável. Defendendo o pretenso direito incondicional da mulher sobre o seu corpo, sem levar em consideração o direito da criança sobre o dela, não apresentam outro motivo para a proposição senão o fato de haver muitos abortos clandestinos e mortes de mães provenientes deste procedimento ilegal. Mas matar é sempre ilegal. A única exceção seria a legítima defesa que nada tem a ver com o caso em questão. Matar um ser humano e, sobretudo uma criança indefesa, é um crime horrendo.

A afirmação ilusória de que legalizando se diminuirá o número de abortos é na verdade enganadora, pois nos países em que o aborto foi legalizado, o número de abortamentos aumentou escandalosamente. No mais, é muito curioso que para combater um mal, se busque a insana ilusão de legalizar o mal. É como se quiséssemos legalizar o roubo para acabar com o roubo, legalizar a violência para acabar com a violência, legalizar a prostituição para acabar com a prostituição. Isto é, no mínimo, total ausência de racionalidade. O aborto é sempre um crime. A criança que está no seio materno é, desde a concepção, um ser humano de direitos e que merece mais proteção da lei que outros porque não pode ainda se defender por si mesma. O embriologista Lewis Wolpert é de opinião que o momento da concepção é o mais importante de nossa existência, até mais importante do que o nascimento, o casamento ou a morte. A doutora Alice Teixeira Ferreira, médica, coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Bioética da UNIFESP, afirma que ser a favor da descriminalização do aborto equivale a ser conivente com o assassinato de embriões e fetos que já são vidas humanas. A mesma cientista denuncia que, para aprovar esta lei, recursos sórdidos estão sendo usados, como estatísticas enganosas e apelos propagandistas duvidosos.

A legalização do aborto, em suas variadas formulações de autores diferentes, faz parte de uma orquestração internacional de grupos de interesse. Muitos são os motivos (todos falhos) que levam a proposição de legalizar o aborto. Entre estes motivos, não se exclui nem mesmo o escandaloso e milionário comércio de embriões e de favorecimentos político-ideológico.

Preparando a celebração da noite santa do Natal, o que mais exige o momento histórico é agir concreta e conjuntamente para defender a vida e sua dignidade em nosso país.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Igrejas Irmãs: Missão na Amazônia

Uma das iniciativas evangelizadoras mais expressivas da CNBB tem sido o Projeto Igrejas-Irmãs, fundado em 1972 e que vem se desenvolvendo ininterruptamente até hoje. Apesar dos desafios, tal projeto é, sem sombra de dúvida, a maior força missionária da Igreja no Brasil.

Atualmente, após as palavras frequentes do Papa Francisco a respeito da atenção primordial que se deve dar à Amazônia, o programa pede renovação.

Nos dias 17 e 18 de novembro passado, realizou-se em Belém do Pará, sede do Regional Norte 2 da CNBB, um excelente encontro de bispos, padres, diáconos e leigos sobre o tema. Tive a graça de participar e encontrar mais de 60 outros bispos de várias partes do país, representantes de dioceses que recebem missionários e daquelas que os enviam. Num clima de fraternidade, alegria, diálogo, ânimo, além de muita oração e iluminação pela Palavra de Deus, a reunião transcorreu tão bem, que poucas vezes se verificou, em nossos encontros pastorais, tanto sucesso em tão pouco tempo. Recebidos na Arquidiocese de Belém, na Casa de Retiros Monte Tabor, com a acolhida simpática da Nova Comunidade “Sementes do Verbo”, que dirige e cuida do espaço com mais de 40 membros, todos jovens, a coordenação foi feita pela Comissão Missionária da CNBB especial para a Amazônia, com a direção de Dom Esmeraldo Barretos de Farias, Bispo Auxiliar de São Luís-MA e de Dom Bernardo Johannes, Bispo de Óbidos, Presidente do Regional Norte 2.

Revendo o já mencionado Projeto fundado pela CNBB há mais de 40 anos, verificou-se o grande avanço eclesial da Igreja na Amazônia pelas iniciativas de Igrejas do centro e do sul do País, além de convênios entre Regionais. Viu-se também a necessidade de revisão do referido Projeto, com adaptações à nova realidade sócio-econômica e religiosa da Amazônia e de todo o Brasil. Vários desafios atuais foram recordados, como a migração de povos de países vizinhos em situação de grave crise social como a Venezuela, os projetos governamentais brasileiros e estrangeiros que visam explorar as riquezas da Amazônia sem levar em consideração as pessoas que lá vivem, desrespeitando opressiva e desumanamente as populações autóctones. Também a presença de muitas outras denominações religiosas, muitas delas fundamentalistas e sectárias, constitui hoje questão a ser vista e revista, além de outros desafios endêmicos naquela região.

Quanto à revitalização, foi acordado solicitar à CNBB que promova, em breve, uma Assembleia Geral tendo como tema o Projeto Igrejas-Irmãs na nova realidade.

Viu-se a necessidade de promover boa ampliação da formação de leigos e leigas missionários (as) vindos de fora e de pessoas autóctones, em vista de tornar as comunidades cada vez mais fortes em suas Igrejas Particulares, dependo cada vez menos de ajudas de outras regiões, embora a continuidade do intercâmbio deva continuar para benefício de ambas.

De fato, constata-se que é necessário que o projeto tenha como objetivo não somente ajudas externas, mas a formação de liderança, seja de leigos, seja de ministros ordenados de origem local. Para tal formação, verificou-se a oportunidade de uma pareceria com Universidades Católicas, Seminários, OSIB (Organização dos Seminários e Institutos Teológicos do Brasil), CNP (Comissão Nacional dos Presbíteros), e outros organismos.

Tudo isso foi resumido numa carta-compromisso aprovada em plenário.

Notou-se também uma consoladora novidade que é envio de missionários amazonenses para outras partes da Igreja, pois a Amazônia não tem só a receber, mas também muito a ofertar.

É maravilhoso ver os testemunhos dos bispos e demais missionários atuantes nas dioceses e prelazias da Amazônia, vivendo muitas vezes sem conforto, de forma marcada pela pobreza evangélica, mas sempre sorridentes, animados e felizes com sua missão.

É edificante ver o povo católico amazônico bem organizado, assumindo, como leigos conscientes, sua responsabilidade na Igreja, celebrando com alegria, conscientizando-se sobre suas responsabilidades sociais frente as explorações desumanas que os ameaçam, sem perder o forte vínculo da fé.

Outros animadores testemunhos de bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas foram dados, fortalecendo o ânimo missionário, concluindo que vale a pena dar a vida pelo evangelho, espalhando com entusiasmo o nome de Cristo por todos os recando do mundo.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Conclusão do Ano da Misericórdia

encerramento-ano-da-misericordiaDepois de percorrer um ano na escola da misericórdia, encerramos o Ano Santo Extraordinário. Domingo passado, nas Dioceses do mundo inteiro, foram fechadas as Portas Santas. No presente Domingo, Festa de Cristo Rei do Universo, o Papa Francisco faz o mesmo rito na Basílica de São Pedro, em Roma.

Em nossa Arquidiocese de Juiz de Fora, incluímos à significativa cerimônia a ordenação de dois novos ministros consagrados, um para a Ordem do Presbiterado e outro para o Diaconado, a saber, Padre Miguel Souza Campos e Diácono Bill Jonatas. Esperamos que possam viver seus ministérios como ícones da misericórdia, recordando a todos o dever de estar sempre atentos a esta virtude, sem a qual não há salvação, conforme o evangelho de Mateus.

De fato, a Misericórdia para Cristo é indispensável para a salvação, como está expresso no referido evangelho, onde se lê: Vinde, benditos de meu Pai, possuí como herança o reino que vos está destinado desde a fundação do mundo, pois, tive e fome e me deste de comer, sede e me deste de beber, estava nu e me vestistes, estava na prisão e fostes me visitar, estava doente e me socorrestes, era estrangeiro e me acolheste! (Mt 25,34-46).

Aos que forem infiéis às obras de misericórdia, ele proclamará inevitavelmente a sentença de condenação, uma vez que foi recusada a graça oferecida.

Mateus, narrando sua própria vocação apostólica, diz que Cristo, ao aceitar seu convite para uma refeição, terminou seu discurso com as seguintes palavras: Quero Misericórdia e não sacrifício. De fato não vim para chamar os justos, mas os pecadores (Mt 9, 13).

Estas palavras de Cristo nos remetem aos costumes dos judeus de oferecerem sacrifícios de animais ao Altíssimo. Tal atitude seria, sem dúvida, louvável se revestida de sentimentos autênticos de doação, de reconhecimento do Senhorio de Deus sobre nós e nossas coisas. Porém, esta atitude de oferta, pura e simplesmente, não é suficiente para a salvação. Isto só se dará com a oferta do Cordeiro Imolado, o Cristo que ofereceu, no altar da cruz, seu corpo e sangue.

Quanto ao sacrifício de animais dos antigos judeus, com o passar dos tempos, para muitos o costume foi se tornando rito vazio, desligado da vivência do amor ao próximo, da caridade, do compromisso com os irmãos, sobretudo com os pequenos. Também, pode-se observar na história dos hebreus que, pouco a pouco foi se desenvolvendo entre algumas classes um sentimento de desprezo pelos estrangeiros, e por aqueles que consideravam pecadores, chegando até mesmo a certo orgulho religioso. Lembremo-nos da parábola do fariseu e o publicano (Cf. Lc 18, 9-14).

O Senhor, ao chamar Mateus, um judeu detestado e considerado pecador, por ser cobrador de impostos, servidor do governo opressor do Império Romano, indo inclusive almoçar em sua casa, em companhia de outros pecadores, causou estranheza aos fariseus, mas dá uma lição para a história.

O Ministério Diaconal é a expressão de Cristo-Diácono, servidor do Pai das Misericórdias, cujos olhos estão voltados preferencialmente para o pobre e o pequenino. No serviço humilde e dedicado a todos, santos ou pecadores, o Diácono realiza sua vocação, enquanto permanece unido aos sentimentos de Cristo, servindo com alegria e sabendo dizer com descanso na alma: fiz o que deveria fazer; de minha parte sou um servo inútil.

A Ordem do Presbiterado oferece um passo à frente no serviço total a Deus, na misericórdia da ação pastoral, na celebração dos mistérios de Cristo, com santidade, no governo humilde e misericordioso da parcela do povo de Deus que for colocada pelo Bispo ao seu cuidado.

Em qualquer destas funções, há de haver o primado da Misericórdia, a atenção aos que mais precisam dela, aos considerados pecadores, aos quais o Senhor quer oferecer nova oportunidade, inclusive pelo exercício do sacramento da Confissão, o sacramento da misericórdia.

O gesto necessário de fechar as portas do Ano Santo não funciona como o findar da prática da misericórdia - seria um contrassenso - mas justamente ao contrário. Depois do exercício espiritual de um ano temático, tem início agora um novo tempo em que se poderá ser muito mais misericordioso que antes.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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