A morte do Monsenhor
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- Sexta, 23 Junho 2017 08:37
Havia terminado de celebrar a Santa Missa. Eram dezoito horas. Tomou seu carro e partia para outra comunidade, onde elevaria novamente o Cálice da Salvação, consagraria o Pão da Vida e serviria novamente a Palavra aos fiéis. Com ele estava Dona Ilda Maria Nader Araújo, auxiliar nos trabalhos paroquiais, boa mãe de família, que veio a óbito às 22h30 no HPS, em Juiz de Fora.
Ao adentrar na pista asfáltica, o Padre não percorrera dois quilômetros quando seu carro foi violentamente atingido por outro que invadira a sua pista, guiado por motorista alcoolizado, segundo laudo policial, causando a morte do sacerdote e da fiel colaboradora.
Para além da dor terrível que o fato causou em nossa alma, no coração de todos os seus irmãos sacerdotes e da comunidade paroquial de Nossa Senhora das Estradas, a que servia ultimamente, umedecidos todos pelas lágrimas, algumas coincidências chamam à atenção de quem crê, o que vem sublimar o sofrimento e minimizar a dor. Para os que creem, as palavras tomam sempre novo sentido nos momentos certos, nos lugares certos, sobretudo nos acontecimentos incertos da vida. Deus é infinito em misericórdia!
Monsenhor Antônio Cornélio Viana, tendo sido ordenado sacerdote em 20 de dezembro de 1969, nos primeiros anos serviu a Deus na cidade de Trindade-GO, onde liderou a construção de grande parte do Santuário do Divino Pai Eterno, hoje famoso pela atuação de Padre Robson Oliveira Pereira, CSsR. Por mística coincidência, seu passamento se deu no sábado, aos 10 de junho à tarde, quando a Igreja já celebrava o Domingo da Santíssima Trindade, sendo esta a última liturgia que presidiu.
Na primeira leitura, havia ouvido, do Livro do Êxodo, as últimas palavras do texto litúrgico: ...acolhe-nos como propriedade tua (Ex 34,9). Ao Salmo, cantara ao Deus Altíssimo: Sede bendito no celeste firmamento (Dn 3).
Tendo sua vida marcada pela serenidade no relacionamento com todos, com manifesto dom de solucionar conflitos com maestria e contínuo sucesso, concluía a sua existência terrena ouvindo na segunda leitura os termos paulinos ditos aos Coríntios: ...encojai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz... (I Cor 13, 11). Leu no Evangelho do dia: Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna (Jo 3, 16).
Quem pode duvidar que estas palavras tenham sentido exato para o momento da partida de alguém que ofereceu a sua vida para proclamar a fé, para orar incessantemente, para semear a paz, para servir unicamente a Deus, superando desafios e problemas, para anunciar a ressurreição como fim último de nossa existência, para servir a Cristo, como discípulo, pregando a Palavra, celebrando a Eucaristia, fazendo o bem a todos?
Quem, movido pela fé, não enxergará sinal do amor de Deus, ao chamá-lo na ocasião em que as comunidades estavam celebrando os festejos de Santo Antônio, do qual recebeu o nome na Pia Batismal?
Quem deixará de associar seu passamento, provocado por pessoa dependente de álcool, aos seus contínuos esforços em favor da recuperação de jovens dominados pelas drogas, e sobretudo com seu interesse e efetiva participação na instalação de duas Fazendas da Esperança na Arquidiocese de Juiz de Fora?
Quem não encontrará o amor de Deus por esta alma que soube se esforçar para ultrapassar barreiras, para erguer-se de quedas, para santificar-se no correr da vida, mas nunca abandonar a Congregação do Santíssimo Redentor, vindo a ter sua última morada em jazigo de necrópole cuidada pela referida Congregação?
De minha parte, cheio de admiração e gratidão, entrego nas mãos de Deus o corpo e a alma deste santo homem, com certeza de que, enquanto esteve ao meu lado com várias funções eclesiais, foi um sacerdote exemplar na dedicação pastoral, na humildade da obediência (ele nunca recusou nem questionou nenhuma nomeação) e nunca exerceu qualquer missão, por mais simples que fosse, com tristeza ou má vontade.
Tendo sido Vigário Geral desta Igreja Particular por 13 anos, Pároco da Catedral Metropolitana por igual período, renunciou a estes cargos por desejar trabalho mais humilde. Porém, não pudemos dispensá-lo das funções de Ecônomo Arquidiocesano, o que exerceu com lisura e competência até o seu último dia entre nós.
Nascido em Carvalhos-MG, aos 5 de maio de 1937, completou seus oitenta anos no mês anterior, ocasião em que afirmara que estava feliz, pois não possuía mais nenhuma propriedade e que já se encontrava com sua “malinha pronta” (sic) para quando o Senhor o chamasse.
Às Missas de 7º dia, celebradas na sua Paróquia de Igrejinha e na Catedral Metropolitana, um grande número de fiéis compareceu comovidos e plenos de gratidão. Um grande painel com sua foto, na Paróquia de Nossa Senhora das Estradas, colocado ao lado do altar, parecia resumir sua pregação: “foi-se o missionário, continua a missão”!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
13 de junho: Dia de Santo Antônio, Doutor do Evangelho
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- Sexta, 09 Junho 2017 11:27
Preparemo-nos para as celebrações de Santo Antônio. Sua biografia e sua intercessão marcam a vida de muita gente que, como eu, traz seu nome, e de muitas comunidades por este Brasil a fora, incluindo a nossa Arquidiocese de Juiz de Fora que se honra de tê-lo como Padroeiro, bem como a Cidade e o Seminário.
Nunca será demais recordar aspectos de sua vida. Ela nos ajuda a verificar a ação de Deus e a resposta das pessoas. Em Santo Antônio, o amor a Deus, à sua palavra, à missão é mesmo incentivador.
Nasceu em Portugal, no ano 1195, no centro da cidade de Lisboa, recebendo o nome de Fernando. Quando, na juventude, já havia vestido o hábito dos Padres Agostinianos, resolveu abraçar os ideais de São Francisco, marcadamente pobre, depois de saber da notícia do martírio de oito jovens missionários na África, cujos cadáveres foram piedosamente venerados na capital lusitana. Tais fatos revolveram a mente de Fernando que deixou a ordem de Santo Agostinho para assumir o hábito de São Francisco, recebendo aí o nome de Frei Antônio de Lisboa.
Oferecendo-se para ir para Marrocos, onde foram torturados, matados e estraçalhados os mencionados oito frades, descobriu sua verdadeira vocação: ser missionário. Deixou tudo e partiu para o continente africano. Porém, teve roteiro alterado, pois a embarcação, por causa de problemas climáticos, não lhe permitiu chegar ao destino, tendo que aportar na ilha da Sicília, de onde partiu para Assis e depois para Pádua. Aí viveu intensamente o evangelho, estudou e ensinou a Sagrada Escritura com rara maestria e brilhante santidade. Foi o primeiro teólogo da Ordem dos frades franciscanos. Foi peregrino das estradas, pregador do evangelho.
Encontrou pessoalmente São Francisco e com ele teve vários colóquios. Convenceu a São Francisco sobre a necessidade de levar seus frades a aprofundarem os conhecimentos da fé, a fim que de que pudessem, com mais competência, anunciar os santos evangelhos. Na verdade, Francisco desejaria que seus confrades pregassem muito mais pela vida que pelas palavras. Talvez por esta razão, encontra-se entre os sermões de Santo Antônio a famosa expressão: “cessem as palavras, falem as obras”.
Santo Antônio foi um intelectual da fé, profundo conhecedor da Bíblia e da Tradição Eclesial, mas, ao mesmo tempo, um exemplo de simplicidade, pobreza material, e amor ao próximo, sobretudo aos mais pobres. Pregou com a palavra e com a vida. Foi exigente com os indolentes e vibrante com os que se convertiam.
Amoroso, respeitoso e piedoso para com a Santa Eucaristia, pregou ardorosamente sobre ela, na Itália e na França. É famoso o episódio do carroceiro infiel que só se converteu depois que o burro que lhe puxava a carroça se ajoelhou diante da Custódia com o Santíssimo Sacramento que o Santo de Pádua levava em procissão.
Também famoso é seu sermão feito aos peixes, como protesto contra os homens que desprezavam a Palavra de Deus anunciada.
Depois de uma vida intensíssima imersa nas coisas de Deus, veio a falecer no dia 13 de junho de 1231, com apenas 36 anos de idade, enquanto cantava um hino à Beatíssima Virgem Maria. Tais eram os sinais de sua santidade, que o Papa Gregório IX o canonizou em menos de um ano após sua morte.
Em 1946, o Papa Pio XII (1939-1958) o declarou Doutor da Igreja, com o título de Doutor Evangélico, dado ao seu particular gosto pelos estudos bíblicos.
Elevem-se ações de graças a Deus por nos ter dado, em Antônio, exemplo tão eloquente de discípulo e missionário de Cristo. Vibra nas páginas da história o amor de Antônio aos santos evangelhos, que ele, dotado de extraordinária inteligência, estudou com profundidade e ensinou com extrema competência, razão pela qual o Papa Paccelli lhe conferiu o mencionado título de Doutor do Evangelho.
Para recordar suas virtudes, a arte o representa com variedade de imagens. Os símbolos religiosos são eloquentes, mais que as palavras, para fazer o ser humano entender verdades que transcendem à realidade terrena e que não são assimiladas apenas com termos sonoros, pois para entender as coisas de Deus é mesmo necessário chamar em auxílio a arte, contemplar a beleza das formas escultóricas, deixar-se envolver com as cores da pictórica, abandonar-se à luz poética, expressões da beleza divina.
Celebrando Santo Antônio, louvemos o Senhor do céu e da terra, que, na sua ação misericordiosa, nos dá exemplos eloquentes para nos impulsionar nos caminhos da fé e na prática da caridade.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Comunicar esperança e confiança em nosso tempo
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- Sexta, 02 Junho 2017 08:50
Para celebrar o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais, no domingo passado, o Papa Francisco escolheu como tema a frase do Profeta Isaías que diz: “Não tenhas medo, que estou contigo” (Is. 43, 5). Com esta afirmação bíblica, conclamou os agentes e profissionais da comunicação a “Comunicar esperança e confiança em nosso tempo” na promoção de uma cultura do encontro, onde se objetive eliminar desavenças, concorrências desleais, e desânimo. Afirmou o Papa: “A todos quero exortar a uma comunicação construtiva, que, rejeitando os preconceitos contra o outro, promova uma cultura do encontro por meio da qual se possa aprender a olhar, com convicta confiança, a realidade”.
Preocupado com a predominância de notícias más na mídia, propõe uma verdadeira conversão nos métodos, sem, contudo, negar a exposição da realidade ainda que dolorosa. Escreveu: “Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas «notícias más» (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falimento nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingênuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal. Aliás, num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção, e por conseguinte não é uma notícia, e onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espetáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência ou cair no desespero”.
Recordando que a palavra “evangelho” significa “boa-notícia”, propõe em sua mensagem a olhar para Cristo como personificação desta verdade, a fim de que todo ato comunicador possa se espelhar nele que, apesar de passar por sofrimentos e a morte, deu a tudo o que fez e que viveu um sentido não derrotista, mas positivo, proclamando com sua ressurreição a vitória do bem sobre o mal. Quanto a isso, assim se expressou: “Para nós, cristãos, os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência, ou seja, o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1, 1). E ainda: “Esta boa notícia, que é o próprio Jesus, não se diz boa porque nela não se encontra sofrimento, mas porque o próprio sofrimento é vivido num quadro mais amplo, como parte integrante do seu amor ao Pai e à humanidade”.
As parábolas foram recursos que Cristo utilizou para a comunicação das mais profundas verdades. Através delas se pode encontrar clareza sobre os mais importantes conceitos. Nas contradições em que vivemos no mundo de hoje, encontramos os que comunicam o bem e os que na comunicação semeiam o mal, provocam rancor, incentivam ao ódio, contudo, “o Reino de Deus já está no meio de nós, como uma semente escondida a um olhar superficial e cujo crescimento acontece no silêncio. Mas quem tem olhos, tornados limpos pelo Espírito Santo, consegue vê-lo germinar e não se deixa roubar a alegria do Reino por causa do joio sempre presente”.
O tema da esperança nos é muito caro nestes tempos conflitivos do Brasil de hoje. A comunicação, seja no ambiente eclesial, seja na sociedade em geral, deve gerar confiança e esperança. Nunca desanimar e nem perder a esperança. “A esperança fundada na boa notícia que é Jesus faz-nos erguer os olhos e impele-nos a contemplá-Lo no quadro litúrgico da Festa da Ascensão. Aparentemente o Senhor afasta-Se de nós, quando na realidade são os horizontes da esperança que se alargam”.
O Papa tem plena convicção de que um dia, já nesta terra, poderemos gozar de situação melhor, se nos deixarmos iluminar por Cristo e seu evangelho no trabalho das comunicações sociais: "A confiança na semente do Reino de Deus e na lógica da Páscoa não pode deixar de moldar também o nosso modo de comunicar”.
A esperança é o caminho, o fio com que se tece esta história sagrada, é a esperança, e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador.
Neste Brasil de hoje, onde está difícil acreditar em partidos políticos, em liderança governamental, a mensagem do Papa vem trazer sinal de esperança nos meios de comunicações sociais e em todos os corações dos brasileiros.
Dom Gil Antonio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Bispo Referencial para a Comissão de Comunicação e Cultura do Regional Leste 2 da CNBB
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