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A Paz de Cristo

Antes de receber o Pão eucarístico, maior riqueza para os cristãos, eles se saúdam com um gesto de fraternidade dizendo: “A Paz de Cristo!”. De fato, a paz é um dom precioso e condição inequívoca para se entrar em plena comunhão com o Senhor. Como poderia receber em si, misticamente, a pessoa do Salvador, se não acolhesse, não perdoasse, não aceitasse, não amasse seu irmão, mesmo se este fosse seu inimigo? Ao momento da instituição da Eucaristia, às vésperas de seu sacrifício na cruz, o Mestre ensinou a seus discípulos seu único mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). Anteriormente, havia sido ainda mais explícito: “Amai os vossos inimigos, rezai pelos que vos perseguem” (Mt 5, 44).

Quando acontecem situações conflituosas, a paz fica ameaçada. Muitas pessoas se deixam levar pela tentação da vingança, e, descuidadamente, podem cair nas malhas do ódio ainda que disfarçado. É preciso atenção, pois tais atitudes são obra do maligno. Entre os Apóstolos houve também esta experiência negativa. Ao ver a absurda injustiça que os poderes públicos faziam contra Jesus, ao momento da prisão de seu Mestre, um de seus discípulos apelou para a violência. Arrancou sua espada da cintura e chegou a ferir Malco, um dos servos do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha. Cristo o repreendeu com veemência: “Embainha tua espada, pois todos os que usam da espada, pela espada morrerão” (Mt 26, 51).

O nascimento de Cristo foi anunciado pelos anjos que cantaram, e nós ainda cantamos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra a todos os que o amam” (Lc 2,14). Também, ao final da sua missão na terra, suas palavras foram lição de paz. No alto de seus terríveis sofrimentos na cruz, reza: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem!” (Lc 23,24).

Os males atuais, como o relativismo, o individualismo e o materialismo podem comprometer a paz. Bento XVI afirmou: “Há uma ligação íntima entre a glorificação de Deus e a paz dos homens na terra... sem uma abertura ao transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente, torna-se-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz” (Discurso ao Corpo Diplomático, jan. 2013).

Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial da Paz do corrente ano de 2018, iniciou com os seguintes termos: “Paz a todas as pessoas da terra! A paz, que os anjos anunciaram aos pastores na Noite de Natal, é uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta” (Mensagem 01 01 2018).

A reivindicação da justiça social é legítima, porém é necessário que seja feita nos princípios da paz, sem violência. Esta foi a característica da greve dos caminhoneiros acontecida há poucos dias. Se houve algum ato de violência não partiu dos mesmos, mas foi praticada por oportunistas que pretendem a desordem e, certamente, não creem na Palavra de Cristo.

Com Cristo Eucarístico, cuja festa nós cristãos celebramos há poucos dias, lutemos pela paz, pois ela interessa a todos.


Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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