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Catorze passos da via sacra superando a violência (Parte 2)

cartaz menor  2Prosseguindo nosso artigo da semana passada, ofereço aqui a continuação de nossa reflexão sobre os passos de Cristo na via crucis da violência. Estamos na Campanha da Fraternidade, cujo tema é “Fraternidade e superação da Violência” e o lema, ”Vós Sois Todos Irmãos“ (Mt 23, 8).

8ª Estação: Jesus consola as filhas de Jerusalém. “Não choreis sobre mim. Chorai sobre vós mesmos e sobre vossos filhos”. 

Não há como não recordar, nesta estação, da violência do aborto. Quantos abortos clandestinos ou não acontecem todos os dias em nosso país! A desculpa da clandestinidade não pode ser argumento para a legalização do assassinato de crianças indefesas ainda no ventre de suas mães. Seria perigoso usar deste critério simplista e cruel, pois poderia justificar a prática de outros crimes nas caladas da noite, no oculto das estratégias, no anonimato das espertezas, na ineficácia da lei. As lágrimas das mães que perdem seus filhos não podem ser secadas pelo incompreensível lobby abortista. A vida é sagrada. A vocação da mulher para a maternidade não é uma simples e fria ação reprodutora.

9ª Estação: Jesus cai pela terceira vez. 

Mais uma queda! Quase dá para desistir. Quantas vezes se cai na violência das palavras, por descontrole, ou na violência da própria consciência por força do hábito ou outros motivos psicológicos ou situações quase inexplicáveis. A repetição das quedas é terrível. Mesmo quando não se quer cair, quando se pensa que não mais cairá, quando se tomou todas as precauções para não tombar, mesmo quando se buscou os meios naturais e sobrenaturais para se evitar a queda, ela, às vezes, acontece. Quanta dor! Quanto sofrimento! Cristo com o rosto ensanguentado, com o ombro já ferido pelo peso da cruz, com os olhos ensopados de suor, sangue e lágrimas, olha, contudo, meigamente, para o alto. Não perdeu a esperança. No caminho da superação da violência, é preciso ser forte e deixar-se robustecer pela confiança no Pai, pois é misericórdia. São Paulo ensinou aos Coríntios: “Pois em Cristo, Deus estava reconciliando o mundo consigo, não levando em conta as faltas das pessoas e pondo em nós a palavra da reconciliação. Somos embaixadores de Cristo e é como se Deus exortasse por meio de nós. Em nome de Cristo, pedimos: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5, 19-21). Levantemo-nos do chão da violência, recomeçando, humildemente, o caminho da paz com Deus, com o próximo e conosco mesmo, sem nunca desistir.

10ª Estação: Jesus é despojado de suas vestes. 

A violência que provoca vergonha, acanhamento e humilhação é tão cruel ou pior que a física. É martírio moral. Deixar nua uma pessoa diante de sua mãe, de seus parentes, de seus amigos e de desconhecidos é violentar de forma terrível a dignidade dos seres humanos e desprezá-los como lixo. As calúnias, as difamações, as injúrias praticadas às escondidas, através de cartas anônimas, através de Fake News e outros meios sórdidos são formas de matar pessoas.

11ª Estação: Jesus é pregado na cruz. 

Quantas pessoas são pregadas violentamente nas cruzes de hoje em dia! Recordemo-nos dos corredores dos hospitais cheios de macas, camas e cadeiras como se fossem enfermarias. A falta de medicamentos, de assistência médica, de socorros, de políticas públicas para gente que paga impostos e estão sujeitas a morrer sem a assistência necessária! Recordemo-nos dos que estão pregados na cruz pela violência das facções criminosas, pessoas executadas com requinte de crueldade inadmissível como o chamado “micro-ondas” das favelas do Rio, São Paulo e outros lugares, que consiste em ajuntar pneus como um túnel, prendendo rivais dentro e ateando fogo. Pensemos em tantas cruzes ocultas no tráfico de drogas que causam morte física e moral de tantos seres humanos e destroem famílias inteiras.

Continuaremos a rezar na semana que vem.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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