Semana Nacional da Família
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- Quinta, 27 Julho 2023 10:02
De 13 a 18 de agosto de 2023, a Igreja católica no Brasil celebra a Semana Nacional da Família, com o tema “Família, fonte das vocações”. A celebração acontece dentro do Ano Vocacional promovido pela CNBB.
O Evangelho de que a Igreja é depositária ultrapassa os limites dos laços sanguíneos para constituir a grande família de Deus, em que todos nos fazemos irmãos. É a Boa Nova para todos os seres humanos, principalmente para aqueles que estão em situação de maior necessidade, como, por exemplo, para quem está ou se sente sozinho no caminho da vida. A família do Reino de Deus não conhece limites. A mensagem que a Igreja anuncia é para a salvação ou saúde de todos os seres humanos e do ser humano inteiro, em suas dimensões estruturais (corpo próprio, psiquismo e espírito) e relacionais (relação com o mundo, com os outros e com Deus).
Deus, que é o Bem eterno, chama a cada um de nós a se curar/salvar no serviço pela cura/salvação dos outros. É Deus quem salva, mas ele também se vale de instrumentos, que somos nós, para realizar seus propósitos. Salvamo-nos em comunidade. A solidariedade (mútua dependência e mútua influência) já existe entre nós como fato; é preciso que ela se torne solidariedade ética, no sentido de que nosso estar ligados uns aos outros seja marcado por escolhas sábias, respeitosas e amorosas, capazes de beneficiar a todos. O amor e o cuidado de Deus passam também pelas opções que fazemos, as quais qualificam eticamente a nossa solidariedade.
A primeira comunidade sobre a qual se alicerça a Igreja e a sociedade em geral é a família nuclear. No seio familiar se tem a grande oportunidade de aprender a amar e de deixar-se amar. Na família, aprendemos a nos sacrificar pelo bem do outro e a receber o dom do outro. É a fecunda circulação do dar e do receber. Esse aprendizado é fundamental para a vida da comunidade maior - a sociedade civil e política. Esta precisa de justiça (dar a cada um que lhe é devido), mas precisa também de caridade ou de benevolência (dar do que é meu ao outros). Uma sociedade pode medir a sua maturidade humana na medida em que se busca a justiça e a benevolência nos relacionamentos. Na família, mais do que a justiça, aprendemos a benevolência, que, ultrapassando a justiça estrita, coloca em movimento o que nos faz autenticamente humanos e divinos: a capacidade de doação.
Que o Sumo Bem que é Deus nos ajude a ver o bem ao qual somos vocacionados. Cada um de nós tem uma vocação específica na ordem do bem, para o bem comum da Igreja e da sociedade. Que os laços familiares nos fortaleçam para que tenhamos a coragem de ir além dos laços sanguíneos e construir maiores e mais amplos laços de solidariedade, que nos irmanem na boa convivência, no cultivo das virtudes, na busca da justiça para os injustiçados e na vivência do amor, cuja fonte transcendente é Deus.
Na Catedral Metropolitana, teremos a celebração da Semana Nacional da Família, com destaque para a mesa redonda, no dia 16 de agosto, às 19h30, e para a Missa para os casais, no dia 17 de agosto, às 19h.
Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
*Vigário paroquial da Catedral Metropolitana
*Professor de Filosofia e Teologia no Centro Universitário Academia - Seminário Arquidiocesano Santo Antônio
Sensibilidade do coração
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- Quinta, 06 Julho 2023 10:59
Às vezes perdemos a sensibilidade de algum órgão do nosso corpo físico. Mas há uma sensibilidade muito mais evidente do que física: a do coração e passar a não fazer distinção do que é certo ou errado, de perder o calor humano, do afeto das pessoas e de Deus. Não podemos deixar minar a sensibilidade da alma e do coração, causada pelos desequilíbrios, vícios e preocupações.
O coração humano deve se deixar conduzir pelo dom do Espírito de Deus e não simplesmente pelas tendências do corpo, porque elas podem não ser saudáveis. É do coração que saem as coisas boas ou ruins, que dignificam ou deprimem a pessoa em relação à qualidade de sua vida. O coração precisa ser tocado pela Palavra de Deus, porque ela é fonte de equilíbrio emocional.
O anúncio dos profetas, no Antigo Testamento, contemplava sensibilizar o coração do povo para seguir as orientações de Javé. Assim, conseguiam construir o caminho da harmonia e da paz. Era apresentada a figura de um administrador, um rei humilde e pacífico, revelando a chegada daquele que viria tocar os corações: Jesus Cristo. Vem trocar o cavalo militar por um jumentinho (Zc 9,9-10).
Ao falar da sensibilidade do coração e dos órgãos do corpo físico, não significa exaltar um e desprezar o outro. O apóstolo Paulo menciona a realidade de corpo (ou carne) e de espírito, formando uma integridade no cotidiano da vida cristã da pessoa humana. Para ele a carne constitui a limitação do indivíduo e a sua fragilidade. O espírito é a força interior e vivificadora que vem de Deus.
Seguir apenas os desejos da carne é fechar-se em si mesmo, no egoísmo e na autossuficiência, que podem levar o indivíduo à morte e ao afastamento definitivo de Deus. Pelo contrário, os desejos que veem do espírito são vivificadores, porque conduzem a pessoa para o caminho de plena abertura para o seu encontro com Deus, também com o próximo e com toda a comunidade.
A vida tem sempre os seus fardos, os momentos difíceis. Isto mostra como são grandes as limitações humanas. Mas, o fardo deixa de ser pesado, quando o coração tem verdadeira sensibilidade pela presença paterna e materna de Deus. Daí vem uma grande força espiritual e de compromissos éticos com capacidade de amenizar o peso dos problemas e carregar o jugo com mais facilidade.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Virulência de extremismos
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- Terça, 30 Maio 2023 11:19
A sociedade contemporânea sofre com virulentos extremismos por não ter aprendido lições do milênio passado: nestas duas últimas décadas já foi derramado muito sangue, evidenciando que nem mesmo as conquistas científicas e tecnológicas impedem a propagação da violência. Um simples olhar permite constatar o crescimento das irracionalidades que se revelam nos preconceitos raciais e culturais. Um fenômeno que para ser enfrentado necessita de adequados investimentos humanísticos. Sem esses investimentos, a sociedade, mesmo com tantos avanços técnico-científicos, continuará a padecer com inconcebíveis retrocessos. Dentre os males que abrem feridas sociais está o racismo, que alimenta absurdos ideológicos e provoca perdas irreparáveis, emoldurando posturas que inviabilizam o sonho de uma sociedade justa e igualitária.
Assim, problemas estruturais e conjunturais agravam-se e a civilização contemporânea não consegue dar novos passos, essenciais para que sejam mais respeitados os direitos e a dignidade humana. Conta muito o urgente investimento humanístico para superar os descompassos alimentados no coração das pessoas – um peso grande que pode levar à perda do sentido da vida. Dentre as consequências está a busca por grupos e segmentos com força destruidora, que pensam ser intocáveis e irreparáveis seus juízos sobre a realidade. Uma postura que faz propagar extremismos por toda a sociedade.
Ao eleger o próprio ponto de vista como exclusivo critério para definir o que é verdade, indivíduos criam contexto propício para ataques demolidores. Tomados por um espírito beligerante na defesa de suas próprias convicções, perdem o irrenunciável compromisso com o respeito ao semelhante. Um problema grave também no contexto religioso e entre a militância política, envolvendo ainda vários outros campos da vida social. Trata-se de uma cegueira que impede a adequada identificação de perspectivas divergentes. Falta de visão que abala os alicerces da convivência humana e do sentido inegociável da amizade social. As discordâncias e divergências podem ser muitas, mas nunca podem justificar agressões à amizade social – bem maior de uma sociedade que almeja ser mais justa e igualitária.
Há de se investir muito no cultivo do respeito à vida de cada pessoa, superando polarizações e todo tipo de extremismo. Nesse caminho, deve-se cuidar para não eleger o próprio ponto de vista como critério único e absoluto na interpretação da realidade. Apegar-se agressivamente aos próprios critérios, desconsiderando o semelhante, pode levar ao radicalismo que se expressa de muitas formas: no racismo, nos preconceitos e em tantas outras disputas fratricidas. A superação dessa cegueira pede que muitos e qualificados princípios sejam cultivados, com especial destaque para a compreensão de que cada pessoa precisa ser coração da paz. Um princípio que conduz o ser humano à bondade e ao respeito ao seu semelhante.
Sem o compromisso com a paz, até pequenas divergências podem se agigantar, motivando ataques a dignidades. Aceita-se apenas o que garante o próprio ponto de vista, desconsiderando outras perspectivas sobre a realidade. Percebe-se, pois, que para superar a virulência dos extremismos, cada pessoa precisa exercitar a consciência sobre os fundamentos e as influências que carrega no coração. Nesse exercício, deve-se buscar cultivar no coração o que faz gerar a paz. Para que o ser humano se torne coração da paz é essencial permanecer vigilante para não se tornar hospedaria de ressentimentos motivados por opções ideológicas que inviabilizam a fraternidade. Assim é possível enxergar com mais nitidez. Contribuir para fazer da própria casa, de sua família, de cada comunidade, de cada nação, da casa comum, territórios da fraternidade. Torne-se, pois, um alicerce na vida de todos o princípio cristão de nunca se deixar vencer pelo mal, antes vencer o mal com o bem.
Não se derrota o mal com a maldade, que sempre conduz a quedas, a combates violentos e fratricidas. O bem somente é alcançado com a bondade, rompendo o círculo vicioso do ódio e do ressentimento. As virulências de extremismos, não raramente promovidas por interesses econômicos, pela vaidade da fama, por uma busca pela manutenção das “zonas de conforto”, devem ser enfrentadas com a bondade. A busca pela promoção do humanismo integral e solidário apresenta-se como importante caminho nesse desafio. A civilização pode aproximar-se desse humanismo ao reconhecer a sacralidade de cada pessoa, dando passos na direção do desenvolvimento integral. Esses passos dependem do cuidado com a gramática que rege o coração humano, que não pode deixar-se contaminar por virulentos extremismos – precisa se pautar pelo respeito às diferenças, contribuindo para consolidar, no mundo, a amizade social.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
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