Campanha Eleitoral 2022
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- Quinta, 25 Agosto 2022 11:45
Começo citando uma frase bíblica: “Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11). Novamente estão aí os candidatos na corrida para a conquista de votos, mas qual a verdadeira intenção de fundo, a humildade no serviço ao povo, principalmente aos mais desfavorecidos e ao bem comum ou a exaltação pessoal com interesses egoístas e sem compromisso social?
No mês de outubro vamos eleger Presidente, Governadores, Senadores, Deputados Federais, Estaduais e Distritais. É uma tarefa muito difícil, porque ninguém tem estrela na testa. Todos têm, sim, uma história de vida, que precisa ser checada. O eleitor precisa estar de antena ligada para não ser conivente com uma má administração, dando um voto sem responsabilidade em candidato desqualificado.
Três virtudes podem perfeitamente identificar o perfil de um bom candidato, uma delas citada acima, a humildade, mas também a gratuidade e a caridade. Quem tem estas qualidades, investe no que assumiu como proposta no tempo da campanha, deixa de lado o comodismo, a zona egoísta de conforto e age de forma honesta e transparente para trabalhar seriamente em benefício do povo.
Estamos numa cultura política viciada de muitas falcatruas, de arrogâncias, carreirismos e explorações egoístas, que emperra a viabilidade de uma nação comprometida e de destaque no cenário mundial. O peso de tudo isto recai sobre os eleitores neste momento, porque o voto livre e sagrado é emitido por todos os cidadãos, dando aos candidatos plenos poderes para administrar.
É fundamental na política cultivar a virtude da humanidade, de forma que o candidato possa ocupar, com simplicidade, o posto para o qual foi eleito. Agindo desta forma, evita se sentir superior aos outros, mas alguém que coloca seus próprios talentos para ajudar no desenvolvimento do país. Infelizmente não é o que vemos no cenário político brasileiro, porque se tornou cabide de emprego fácil.
Existe um abismo entre o povo e a classe política com seus privilégios. Acontece que o político sai do meio do povo e se distancia dele na hora de administrar o bem público, principalmente aquilo que beneficia a maioria. Na lógica cristã, o valor da pessoa não depende do cargo que ocupa, mas a capacidade relacional de humildade, ser simples e dedicado com honestidade na missão assumida.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Mês Vocacional: Testemunhas da Vida em Cristo
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- Quinta, 04 Agosto 2022 10:47
Com o tema: “Cristo Vive! Somos suas testemunhas” e no lema: “Eu vi o Senhor!” (Jo 20,18), a Igreja no Brasil vive o mês de agosto como Mês Vocacional. Todas as vocações serão lembradas, rezadas e celebradas neste mês de agosto: a vocação presbiteral, no primeiro domingo, com o “Dia do Padre”, a vocação ao matrimônio, no segundo domingo, com o “Dia dos Pais”, a vocação à vida religiosa, no terceiro domingo, dia dos religiosos e religiosas, e a vocação dos leigos e leigas, com o dia do catequista, no quarto domingo.
A vocação é o resultado da vontade de Deus de “sair” de si para dar-se a outro ser. Nisto consiste a relação: Deus quer unir-se a outro ser que não Ele mesmo. Isso é universal Nós participamos dessa ação universal e unitária do projeto de Deus: Deus cria para unir-se ao criado. Cria por amor. E isso, com todas as consequências: de fato, se por um lado não aceitamos o “Pan-teísmo”, isto é, não consideramos que tudo é Deus, por outro lado, proclamamos um “Pan-en-teísmo”, isto é, Deus em todas as coisas, justamente por Ele ser o criador, manifestando com isso que Ele cria para estar unido ao criado. A vocação é um caminho a percorrer, da provisoriedade do efêmero à completude do definitivo. No efêmero já somos envolvidos pelo Mistério amoroso e misericordioso do nosso Deus. Vocação é vivência na fé, na esperança e na caridade, especialmente a caridade, por aquilo que já nos exortou o Apóstolo (cf. 1Cor 13,13). Somos chamados a fazer experiência desse Mistério, cuja manifestação se deu em Jesus Cristo, Filho de Deus que se fez carne, assumiu nossa condição, experimentou nossa dor, sofreu a morte, mas ressuscitou. A vocação, portanto, nos coloca numa relação com o Vivente, com seu Espírito, Senhor que dá a vida. Quando respondemos sim ao chamado nos tornamos suas testemunhas. E esse chamado é para todos os batizados e batizadas.
Trata-se de uma vivência de amor. Ele nos chama para dar-nos o seu amor. O amor de Deus, que é Deus mesmo, estabelece uma união, misteriosa sim, mas real. Claro, é uma união diferente da “união hipostática”, o que acontece na Encarnação do Verbo, mas uma união com a mesma vida de Deus. Deus e nós, uma comunidade de amor, reflexo daquela que é a melhor comunidade, a Santíssima Trindade. Portanto, vocação, chamado dirigido a todos, é a experiência da intimidade divina, da santidade de Deus em nossa vida, da espiritualidade que não significa cuidado com a alma e desprezo pelo corpo, mas cuidado com a pessoa inteira, na unidade de corpo e alma, espírito e matéria. Deus nos chama a fazer parte de sua vida, a entrar na sua relação de Pai e Filho e Espírito Santo.
Deixemos que a oração do mês vocacional fale aos nossos corações. Com ela quero expressar meu desejo de que neste mês de agosto todos se sintam chamados a ser testemunhas do amor e se proclamem esse amor a todos: “Ó Deus de infinita bondade, que sempre nos acompanhais em nossa caminhada sinodal, sede força e proteção para aqueles que realizam seu itinerário de discernimento vocacional. Inspirados no projeto de vida de tantos santos e santas, possamos dar testemunho de fé, afirmando: “Eu vi o Senhor!” Configurai nossos corações a Cristo Bom Pastor, a fim de que nossos propósitos e ações possam sempre indicar que: “Cristo Vive! Somos suas testemunhas.” Que o Espírito Santo nos ilumine e que, em nossa missão evangelizadora, saibamos transbordar de afeto, ternura e compaixão. Olhai e acompanhai vossos filhos e filhas, para que, a exemplo de nossa querida Mãe Maria, tenhamos a sensibilidade de nos colocar à disposição da promoção de uma cultura vocacional na Igreja e na sociedade. Isto vos suplicamos, ó Pai, por intermédio de vosso Filho Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. AMÉM”.
Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Dia dos Avós
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- Sexta, 22 Julho 2022 10:26
Em 26 de julho de cada ano, ou no domingo próximo dessa data, celebramos o Dia Mundial dos Avós e de todos os Idosos. É uma comemoração instituída pelo Papa Francisco em 2021. Neste ano deve ser celebrado no final de semana, dia 24 de julho, refletindo sobre o tema proposto: ”Dão fruto mesmo na velhice”. Data criada para homenagear São Joaquim e Santana, os avós de Jesus Cristo.
Falar sobre os avós é pensar na experiência, na história de vida longa e recheada de riquezas vividas ininterruptamente. Ser idoso é um prêmio, um dom inestimável e superação de debilidades que acompanham o ser humano. Mesmo com o crescimento da média de vida, muitos não chegam à idade avançada. Ficam pelo caminho, normalmente ceifados por alguma circunstância inesperada.
Nos textos do Antigo Testamento encontramos a figura dos idosos. Esses anciãos recebiam um tratamento diferenciado. Eram muito valorizados e indicados para compromissos importantes. Isto aparece no diálogo de Deus com Abraão. Abraão, já fragilizado pela idade, foi desafiado diante da proposta da Aliança com o Senhor, de colocar-se como uma referência de fé para toda a humanidade.
Estamos agora num contexto diverso daquele vivenciado no passado em relação aos idosos, especialmente quando se refere aos avós. Pela dinâmica moderna, ser pessoa idosa é ser descartada e até desvalorizada, porque tem dificuldade de manipular e manusear os modernos meios de comunicação. Mas os avós exercem hoje o papel de educadores de seus netos, ocupando o espaço de dever dos pais.
Devemos homenagear carinhosamente todos os avós, não só porque têm o privilégio de uma tenra idade, mas pelo fato de suprir a ausência dos pais, que necessitam trabalhar e ficar grande parte de seu tempo distante dos filhos. Em muitos casos, são os avós que educam os netos para a vida cidadã, o valor da responsabilidade social, para a vivência de fé e os valores de uma vida autêntica.
A interação que os avós têm com os netos está dentro do contexto do convívio, diferente das possibilidades devidas aos pais. Então, o tempo que têm nesta fase da vida permite maior atenção aos netos e testemunham suas experiências de vida, transmitindo para eles todos os valores adquiridos no passado. É o encontro dos novos com a tradição, para ajudá-los no desenvolvimento humano.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)