Papa: Lupa da Igreja está apontada ao esquecido e excluído

AFP5984240 Articolo“Se quiseres encontrar Deus, procura-o onde Ele está escondido: nos mais necessitados, nos doentes, nos famintos, nos presos", disse o Papa Francisco, ao presidir este domingo na Basílica de São Pedro, a Missa por ocasião do Jubileu dos Socialmente Excluídos.

Em sua homilia, o Santo Padre recordou que “neste mundo quase tudo passa, como a corrente da água”, e as riquezas que permanecem, “seguramente são duas: o Senhor e o próximo”, os bens maiores que devemos amar”. Neste sentido, observou, "a lupa da Igreja está apontada ao irmão esquecido e excluído".

As leituras do dia nos remetem – disse Francisco - precisamente “àqueles que têm confiança no Senhor, que depõem a sua esperança n’Ele, escolhendo-O como bem supremo da vida e recusando-se a viver só para si mesmos e seus interesses. Para eles, pobres de si mas ricos de Deus, brilhará o sol da sua justiça: são os pobres em espírito, a quem Jesus promete o reino dos céus e dos quais Deus, pela boca do profeta Malaquias, declara: «são meus»”.

As leituras do dia – explica o Papa – contrapõe os que colocam a sua esperança no Senhor e os soberbos, “aqueles que puseram na sua autossuficiência e nos bens do mundo a segurança da vida”. E nos interpelam sobre o sentido último da existência:

“Onde busco a minha segurança? No Senhor ou noutras seguranças que não são do agrado de Deus? Qual é a direção da minha vida, para onde olha o meu coração? Para o Senhor da vida ou para as coisas que passam e não saciam?”.

Da mesma forma o Evangelho de Lucas fala de “conflitos, carestias, convulsões na terra e no céu”. Mas “Jesus não quer assustar – é o alerta de Francisco - mas dizer-nos que tudo aquilo que vemos passa inexoravelmente. Mesmo os reinos mais poderosos, os edifícios mais sagrados e as realidades mais firmes do mundo não duram para sempre; mais cedo ou mais tarde, caem”.

Diante das palavras de Jesus sobre o final do tempos, as pessoas ficam curiosas em saber ”Quando sucederá isto? E qual será o sinal?”:

“Sempre somos impelidos pela curiosidade: quer-se saber quando e receber sinais. Esta curiosidade, porém, não agrada a Jesus. Pelo contrário, exorta a não nos deixarmos enganar pelos pregadores apocalíticos. Quem segue Jesus não presta ouvidos aos profetas da desgraça, à futilidade dos horóscopos, às previsões que amedrontam, distraindo daquilo que conta. O Senhor convida a distinguir, dentre as muitas vozes que se ouvem, aquilo que vem d’Ele e o que vem do falso espírito. É importante distinguir entre o sábio convite que Deus nos dirige cada dia e o clamor de quem se serve do nome de Deus para assustar, sustentando divisões e medos”.

Diante dos “cataclismas de cada época” – explica o Santo Padre - Jesus nos pede para sermos firmes e perseverantes no bem, “com plena confiança em Deus que não desilude”.

Hoje, no entanto, somos interpelados sobre o sentido de nossa existência. As leituras do dia – disse o Papa – se apresentam “como uma peneira no meio do fluxo de nossa vida”:

“Elas lembram-nos que, neste mundo, quase tudo passa, como a corrente da água; mas há realidades preciosas que permanecem, como uma pedra preciosa numa peneira. E o que é que resta? O que é que tem valor na vida? Quais são as riquezas que não desaparecem? Seguramente duas: o Senhor e o próximo. Estes são os bens maiores, que havemos de amar. Tudo o resto – o céu, a terra, as coisas mais belas, mesmo esta Basílica – passa; mas não devemos excluir da vida Deus e os outros”.

“E todavia neste dia jubilar que nos fala de exclusão – sublinhou - imediatamente vêm à mente pessoas concretas; não coisas inúteis, mas pessoas preciosas”:

“A pessoa humana, colocada por Deus no cume da criação, muitas vezes é descartada, porque se prefere as coisas que passam. Isto é inaceitável, porque o ser humano é o bem mais precioso aos olhos de Deus. E é grave que nos habituemos a este descarte; é preciso preocupar-se quando se anestesia a consciência, já não fazendo caso do irmão que sofre ao nosso lado nem dos problemas sérios do mundo, que se reduzem a um refrão já ouvido nos sumários dos telejornais”.

Dirigindo-se aos “socialmente excluídos”, o Papa recorda que Deus não se detém nas aparências, mas fixa o seu olhar nos humildes de coração contrito, em tantos pobres Lázaros de hoje. “Como nos faz mal fingir que não nos damos conta do Lázaro que é excluído e descartado!”, adverte:

“É um sintoma de esclerose espiritual, quando o interesse se concentra nas coisas a produzir, em vez de ser nas pessoas a amar. Assim nasce a dramática contradição dos nossos tempos: quanto mais crescem o progresso e as possibilidades – e isto é bom – tanto maior é o número daqueles que não lhes podem chegar. É uma grande injustiça que nos deve preocupar muito mais do que saber quando e como será o fim do mundo. Com efeito, não se pode estar tranquilo em casa, enquanto Lázaro jazer à porta; não há paz em casa de quem está bem, quando falta justiça na casa de todos”.

Ao recordar que este domingo são fechadas as portas da Misericórdia em Catedrais e Santuários em todo o mundo, Francisco exorta para pedirmos “a graça de não fechar os olhos perante Deus que nos olha e o próximo que nos interpela”:

“Abramos os olhos a Deus, purificando a visão do coração das representações enganadoras e pavorosas, do deus da força e dos castigos, projeção da soberba e dos medos humanos. Olhemos com confiança para o Deus da misericórdia, com a certeza de que «o amor jamais passará». Renovemos a esperança da vida verdadeira a que somos chamados, aquela que não passará e que nos espera em comunhão com o Senhor e com os outros, numa alegria que durará para sempre, sem fim. E abramos os olhos ao próximo, sobretudo ao irmão esquecido e excluído. Para ele está apontada a lupa da Igreja; que o Senhor nos livre de a voltarmos para nós. Afaste-nos das quimeras que nos distraem, dos interesses e dos privilégios, do apego ao poder e à glória, da sedução do espírito do mundo”.

De modo particular a nossa Mãe Igreja «olha para toda a humanidade que sofre e chora, pois ela sabe que esta lhe pertence, por direito evangélico», disse o Papa ao concluir, citando Paulo VI. E completou:

“Por direito e também por dever evangélico, porque é nossa tarefa cuidar da verdadeira riqueza que são os pobres, como bem no-lo recorda uma antiga tradição referente ao mártir romano São Lourenço. Este, antes de suportar um martírio atroz por amor do Senhor, distribuiu os bens da comunidade aos pobres, por ele designados como verdadeiros tesouros da Igreja”.
Que o Senhor nos conceda a graça de olhar sem medo para aquilo que conta, dirigir o coração para Ele e para os nossos verdadeiros tesouros. (JE)

Fonte: Rádio Vaticano

Dom Murilo Krieger faz balanço do Ano da Misericórdia no Brasil

dom-murilo-kriegerO Ano da Misericórdia termina neste domingo, 20, quando o Papa Francisco vai fechar a Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Foi um Ano de várias iniciativas em todo o mundo voltadas a estimular as obras de misericórdia e a levar os fiéis a fazer experiência com a misericórdia de Deus.

O grande símbolo do Jubileu foi a abertura da Porta Santa e para esse Ano em especial o Papa Francisco quis que ela fosse aberta em todas as dioceses do mundo, como forma de ampliar a possibilidade aos fiéis de passarem pela Porta Santa. (Confira Portas da Misericórdia que foram abertas no Brasil)

O vice-presidente da CNBB, Dom Murilo Krieger, diz que há dois balanços desse Ano Santo: um visível, que diz respeito a dados, números e fatos que aconteceram ao longo de todo o Ano. O outro balanço é invisível, que é o resultado nos corações das pessoas. “Aí só o Espírito Santo é capaz de dizer quantas experiências de amor de Deus, quantas pessoas reconciliadas com Deus, com a Igreja, consigo mesma, quantas pessoas adquiriram a paz que é fruto da experiência da misericórdia de Deus”.

No Brasil, em todas as 275 dioceses foi aberta pelo menos uma Porta da Misericórdia e é incontável o número de fiéis que puderam fazer essa experiência. Só no Vaticano, a estimativa de peregrinos ultrapassou os 18 milhões, números que, segundo Dom Murilo, impressionam, mas mostram, na verdade, como as pessoas se identificaram com o convite feito por Jesus, que é a verdadeira Porta.

“Passar pela Porta da Misericórdia, na verdade, é passar pelo coração de Cristo, conhecer a sua intimidade, o seu amor, Ele que é a mais forte manifestação da misericórdia do Pai”.

Daqui pra frente
O Jubileu instituído pelo Papa Francisco chega ao fim, mas não termina aqui o convite às obras de misericórdia e à relação misericordiosa com Deus. Dom Murilo lembra que a misericórdia é da essência do Evangelho, então o que o Papa quis foi colocar isso em destaque.

“O Papa chamou a atenção e eu acredito que, na Igreja, essa dimensão da misericórdia, proclamada de forma tão bela por Jesus na parábola do filho pródigo, do pastor que perde a ovelha e vai atrás dela, essa experiência da misericórdia ficará mais profundamente marcada no coração da Igreja e de todos os fiéis”.

O legado que fica, segundo o arcebispo, é que nunca se deve ter medo de Deus, pois Ele está sempre pronto a acolher. “Como diz o Papa, Deus nunca se cansa de perdoar, nós é que nos cansamos de pedir perdão”.

Com a Porta Santa que se fecha, Dom Murilo diz que os fiéis são enviados ao mundo para falar da misericórdia de Deus. “Entramos na Igreja para experimentar misericórdia, agora saímos da Igreja para dizer ao mundo o quanto Deus nos ama, ou então, como disse Jesus, tanto Deus amou ao mundo que lhe deu seu Filho único”.

Fonte: Canção Nova Notícias
Foto: Arquivo CN

As obras de misericórdia são um ótimo remédio, lembra Papa em Audiência

Papa-Francisco2Ontem, 09 de novembro, o Papa Francisco concedeu a tradicional Audiência Geral das quartas-feiras, na Praça São Pedro.

Cerca de 20 mil pessoas presenciaram o Pontífice dar continuidade a suas reflexões sobre as obras de misericórdia. Ele tratou de duas obras de misericórdia: visitar enfermos e encarcerados.

Francisco disse que os doentes e detentos vivem uma condição que limita a sua liberdade e recordou que é quando a perdemos que percebemos a sua preciosidade:

"Jesus nos doou a possibilidade de ser livres apesar dos limites da doença e das restrições. Ele nos oferece a liberdade que provém do encontro com Ele e do novo sentido que este encontro traz à nossa condição humana".

Hospitais: Catedrais da Dor
Durante uma doença, o enfermo, em muitas ocasiões, passa por grandes solidões. Nessas ocasiões, uma visita pode vir a ser até mais que um remédio.

Gestos simples como um sorriso, uma carícia, um aperto de mão, tornam-se muito importantes para quem se sente abandonado:
"Não deixemos sozinhas as pessoas doentes", exortou Papa.

Para o Santo Padre, os hospitais são hoje verdadeiras "catedrais da dor", mas eles são também o local onde a força e eficácia da caridade tornam-se evidentes aos olhos de todos.

As visitas a estas ‘catedrais da dor', são obras de misericórdia, prosseguiu o Papa, são atos pertencentes à virtude da caridade que o Senhor nos convida a realizar.

Visitar os encarcerados
Visitar os encarcerados também é realizar uma obra de misericórdia. É um ato de caridade que deve ser demonstrada também para com os detentos.

Sendo parte das obras de misericórdia, a visita às prisões são um convite feito para que recordemos que, qualquer que tenha sido o crime cometido pelo prisioneiro, ele é filho de Deus, foi redimido pelo sangue de Cristo, continua sendo amado por Deus e o Pai espera a volta do filho.

Diante da privação da liberdade e da humanidade pelas condições degradantes em que vivem os encarcerados em muitas ocasiões, o cristão é chamado a fazer de tudo para restituir ao preso a dignidade perdida, a procurar tirá-lo da degradação em que caiu.

"Ninguém aponte o dedo contra alguém", advertiu Francisco que ainda acrescentou:
"Quantas lágrimas vi correr pelas faces de pessoas presas que talvez nunca tinham chorado na sua vida, e isto só porque se sentiram acolhidas e amadas".

Conselho final
Francisco recordou que Jesus e os apóstolos também viveram a prisão, e, portanto, conhecemos o sofrimento que viveram.

"Como se vê, finalizou Francisco, essas obras de misericórdia são antigas e, mesmo assim, sempre atuais. Jesus deixou o que estava fazendo para visitar a sogra de Pedro e fez uma caridade. Não caiamos na indiferença, mas nos tornemos instrumentos da misericórdia de Deus para restituir alegria e dignidade a quem a perdeu". (JSG)

*Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no link http://www.gaudiumpress.org/content/83420#ixzz4PbIbo9jS

 

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