Teóloga Maria Clara Bingermer aponta 6 pistas pastorais para a evangelização no pós-pandemia
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- Quarta, 09 Dezembro 2020 11:47
A decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, teóloga Maria Clara Lucchetti Bingemer, ofereceu aos mais de 200 bispos de todo país que participaram de uma reunião promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no dia 25 de novembro, uma reflexão teológica com seis pistas para um projeto de Evangelização e de ação pastoral da Igreja Católica no contexto da pós-pandemia.
Aos 297 participantes da reunião, compreendendo, além dos bispos, os assessores das comissões episcopais e representantes de pastorais e organismos vinculados à CNBB, Maria Clara defendeu que as propostas que sistematizou partem do resgate dos aprendizados feitos.
Autora de diversos livros, entre eles, ¿Un rostro para Dios?, A globalização e os jesuítas e o Mistério e o Mundo, a teóloga frisou que é necessário considerar ainda que o mundo está imerso na vivência dos problemas decorrentes do avanço do novo Coronavírus. “Ainda nos encontramos dentro da pandemia, vivendo um conjunto de perplexidades. Estamos há nove meses (tempo de uma gestação de um ser humano) de joelhos por causa de um vírus invisível”, disse.
Segundo a professora, as pistas teologais que levantou partem de um exercício de sonhar com o futuro, o que ajuda a olhar para frente. A professora apontou seis aspectos e pontos que precisam ser observados numa ação pastoral num contexto do pós-pandemia.
a) Retomar o luto com olhar Pascal
Segundo a teóloga, a Igreja, numa atitude silenciosa (mais ouvir do que falar), precisa ajudar as famílias que perderam entes queridos: só no Brasil, já somam mais de 175 mil mortos em decorrência da Covid-19, a processarem o luto. Segundo ela, a Igreja precisa escutar estas famílias que perderam seus entes e, como agentes do consolo movidos pelo Espírito Santo, ouvir e rezar a sua dor. “É necessário transformar a dor em redenção”, disse.
b) Apostar na arte e beleza
A teóloga defendeu, como forma de processar o sofrimento e este momento vivido pela humanidade, ser necessário que a Igreja abra espaço para a expressões da arte que recuperem a beleza e a estética. “A música, a literatura e arte são elementos preciosos para reencantar os corações”, disse. Para a professora, a arte é um caminho para falar de Deus. Os pastores e agentes de pastoral são chamados a ser ‘poetas de Deus’ e construir uma teopoética atravessada de beleza e gratuidade”, afirmou.
c) Revalorizar o espaço doméstico
A professora defendeu que, no contexto da pandemia, redescobrimos uma nova configuração para a Igreja que se deslocou a vivência da fé dos templos para as casas. Segundo ela, é necessário ver esta realidade como uma oportunidade para pensar formas de pleno funcionamento da vida eclesial, o que remonta às próprias fontes e origens do cristianismo e começo da Igreja Católica. “De casa, nos conectamos por meio da tecnologia; Na casa, redescobrimos o espaço da família, da celebração da fé e a perseverança na fração do pão”, disse.
d) Cuidado da Terra e da Casa Comum
“Somos terra e nosso destino está inextricavelmente ligado ao destino da terra”, afirmou a teóloga para defender a ideia de que a pandemia nos ajudou a denunciar o nosso estilo de vida não saudável. Segundo Maria Clara, é necessário aprofundar ainda mais a urgência da conversão ecológica, defendida pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Sí, com a fraternidade universal. Frente à atitude predatória do meio ambiente, a teóloga defendeu que é necessário reforçar que somos terra sobre a qual foi soprado o Espírito de Deus que anima e dá vida a tudo que está conectado.
e) Fratelli Tutti
A teólogo defendeu que a nova Encíclica Fratelli Tutti lançada pelo Papa Francisco é uma bússola para os novos tempos. “À luz do exemplo do Bom Samaritano, o Papa chamou-nos a atenção de que existe um ferido caído pelo caminho, na estrada” e de que devemos deixar a ideia de sermos “sócios” para sermos irmãos. Com a Encíclica, segundo a professora, o Papa também revisitou a opção pelos pobres que são os que sofreram mais a fundo as consequências da pandemia. “A Fratelli Tutti defende uma solidariedade nova. A fraternidade humana como um projeto tão adiado e tão urgente”, apontou.
f) Parceria mais estreita com a ciência
Num contexto de negação da ciência e de discursos pseudocientificistas, a professora defendeu a importância de a Igreja se cercar das informações corretas baseadas no conhecimento científico.
*Fonte: Site da CNBB