RETROSPECTIVA: Em 2019, Papa anunciou a Boa Nova da misericórdia de Deus
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- Segunda, 30 Dezembro 2019 11:51
Em 2019 o Papa Francisco fez 41 Audiências Gerais (com os ciclos sobre o Pai Nosso e sobre os Atos dos Apóstolos, este último em andamento), 56 Angelus e Regina Coeli, mais de 60 homilias em celebrações públicas e 44 homilias na Santa Marta. O ano do Santo Padre foi intenso, com muitas viagens e muitos encontros pessoais, com um objetivo: anunciar a Boa Nova da misericórdia de Deus.
O Pontífice deixou alguns ensinamentos a cerca dos seguintes temas: “certezas, não confusão”, “fé e idolatria”, “fariseus”, “mansidão”, “Casa comum”, “conversão”, “abusos”, “reforma”,” pobreza”, “Palavra de Deus”, “presépio”, “perseguição aos cristãos”, “defesa da vida”, “juventude”, “paz” e “sacerdócio”.
Certezas
Sobre as certezas, Francisco recordou a todos que na base da vida há uma certeza consoladora: Deus ama a humanidade e em Jesus deu a vida por ela. Esta é a mensagem central de toda a missão (Evangelii gaudium, texto programático do Pontificado de Francisco). O Papa convidou os fiéis a recordarem a “fé simples e robusta” das mães e avós, que “dava a elas força e perseverança para seguir em frente e não deixar cair os braços”, “uma fé caseira, que passa despercebida, mas que constrói pouco a pouco o reino de Deus”. Uma fé que não se deixa confundir, porque se baseia nos fundamentos do Evangelho.
Fé e idolatria
Adorar o único verdadeiro Deus, Uno e Trino, em uma sociedade que se torna cada vez mais pagã, foi um pedido do Santo Padre em 2019. Francisco afirmou: “A idolatria não é somente ir a um templo pagão e adorar uma estátua. Não, idolatria é uma atitude do coração”. O Pontífice destacou que a idolatria é quando se prefere algo porque é mais cômodo para si e que os ídolos mudaram de nome, mas estão mais presentes do que nunca: o ídolo do dinheiro, do sucesso, da carreira, da auto realização, do prazer e todos aqueles ídolos que prometem felicidade, mas que não a dão, antes pelo contrário, escravizam, e roubam o amor. “Os ídolos prometem vida, mas a tiram”, disse o Papa durante uma de suas catequeses.
Fariseus
Francisco advertiu em particular para o comportamento farisaico daqueles que se consideram justos, ortodoxos, melhores que os outros. “É a religião do eu, com seus ritos e suas orações, daqueles que se confessam católicos, mas esqueceram de ser cristãos e humanos, esqueceram de prestar o verdadeiro culto a Deus, que sempre passa pelo amor ao próximo”, alertou. O Santo Padre propôs o caminho da autoacusação:”O caminho da fé é sempre o de ter a humildade de deixar-se corrigir”.
Mansidão
Durante voo de volta da África, o Santo Padre afirmou não temer um cisma na Igreja. “Hoje temos tantas escolas de rigidez dentro da Igreja, que não são cismas, mas são caminhos cristãos pseudocismáticos, que terminarão mal, porque por trás desse comportamento rígido não há santidade do Evangelho”, frisou. Na ocasião, o Pontífice destacou que é preciso responder ao mal com o bem. “Ser mansos com as pessoas que são tentadas a fazer esses ataques, porque estão passando por algum problema e devem ser acompanhadas com mansidão”, completou.
Segundo o Papa, muitos temem que a Igreja de hoje não seja mais católica, colocando palavras nunca ditas em sua boca. “Não mudei nenhum dogma, há somente um passo adiante na acolhida e na misericórdia, não foram canceladas devoções, há somente o convite para vivê-las com o coração”.
Sínodo para a Amazônia
Em outubro passado realizou-se o Sínodo para a região Pan-Amazônica. Na ocasião, o Santo Padre repetiu muitas vezes a palavra “conversão”, que é o conceito que encontrou seu lugar no Documento final como a principal exortação da assembleia. O Sínodo pediu uma conversão quádrupla: sinodal, porque a Igreja deve estar cada vez mais em um caminhar juntos e não dividida ou sozinha; cultural, porque é necessário saber falar com as diferentes culturas; ecológica, porque a exploração egoísta do meio ambiente leva à destruição dos povos; pastoral, porque o anúncio do Evangelho é urgente.
Na base dessas quatro conversões há a única conversão ao Evangelho vivo, que é Jesus, de acordo com o Papa. A verdadeira conversão é colocar-se de lado sair do centro, colocar Cristo no centro e deixar que o Espírito Santo seja o protagonista, sublinhou Francisco.
Abusos dentro e fora da Igreja
É definido como histórico o encontro realizado em fevereiro no Vaticano: os responsáveis das Igrejas de todos os continentes trataram do flagelo dos abusos de menores, cometidos na esfera eclesial, e fizeram isso diante do mundo inteiro com coragem e transparência. No discurso de encerramento do encontro, o Papa afirmou que os abusos são um problema universal e transversal que infelizmente se encontra em toda parte. “Isso não diminui sua monstruosidade dentro da Igreja, onde se torna ainda mais grave e escandaloso, porque está em contraste com sua autoridade moral e sua credibilidade ética”, pontuou.
Com o Motu proprio Vos estis lux mundi, o Pontífice estabeleceu neste ano novos procedimentos para denunciar abuso, moléstias e violências, e assegurar que os bispos e superiores religiosos respondam por seu agir. O documento introduz a obrigação para clérigos e religiosos de denunciar os abusos e pede que cada diocese crie um sistema facilmente acessível ao público para receber denúncias. Francisco também aboliu o segredo pontifício para esses casos e alterou a norma relativa ao delito de pornografia infantil, incluindo na categoria “delicta graviora” – os delitos mais graves – a posse e a disseminação de imagens pornográficas envolvendo menores de 18 anos.
Reforma: mais estruturas missionárias
Durante o ano, o Santo Padre deu continuidade aos trabalhos do Conselho de Cardeais (C6) para a reforma da Cúria Romana, para que todas as estruturas da Igreja fossem mais missionárias. Está sendo finalizado o exame do esboço da nova Constituição Apostólica, cujo título provisório é “Praedicate evangelium”, para significar que o principal serviço que a Santa Sé deve prestar é o do anúncio do Evangelho. O Papa alterou o papel do Decano do Colégio Cardinalício: aceitou a renúncia do cardeal Sodano, no cargo desde 2005, e com um Motu proprio fixou um tempo determinado para esta missão: cinco anos, eventualmente renováveis.
Dinheiro para servir ao Evangelho e aos pobres
A reforma financeira também foi continuada pelo Pontífice, especialmente nos quesitos transparência e contenção de custos. Francisco renovou o Estatuto do IOR introduzindo de forma permanente a figura do auditor externo para a verificação das contas, segundo os padrões internacionais. Os princípios católicos subjacentes à missão do IOR foram especificados, para que a instituição seja mais fiel à sua missão original.
O jesuíta Juan Antonio Guerrero Alves foi nomeado prefeito da Secretaria para a Economia. O Papa autorizou uma investigação da magistratura vaticana em relação a várias pessoas que servem à Santa Sé, no âmbito de algumas transações financeiras. E a Propósito do Óbolo de São Pedro, o Pontífice ressaltou que é uma boa administração fazer o dinheiro recebido render, e não deixá-lo parado, guardado na gaveta. Mas o investimento deve sempre ser “moral”, porque o dinheiro está a serviço da evangelização e dos pobres.
A Palavra de Deus para conhecer Jesus
Com a Carta Apostólica “Aperuit illis”, de 30 de setembro, o Papa instituiu o Domingo da Palavra de Deus, um dia especial para exortar todos os fiéis a ler e meditar a Bíblia. A data solene foi estabelecida, todos os anos, no terceiro domingo do Tempo Ordinário (em 2020, será em 26 de janeiro).
A tradição do Presépio
Em 1º de dezembro, o Pontífice assinou em Greccio a Carta Apostólica Admirabile signum, na qual exortou os fiéis a se redescobrirem e a revitalizarem a tradição do presépio. “Representar o evento do nascimento de Jesus é equivalente a anunciar o mistério da Encarnação do Filho de Deus com simplicidade e alegria. É um ato de evangelização, bonito de se ver nos locais de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nas prisões, nas praças”, escreveu.
Cristãos perseguidos
Francisco nunca se cansa de denunciar as perseguições anticristãs e alerta que nos tempos atuais há mais mártires do que nos primeiros tempos do cristianismo. Em janeiro, a Suprema Corte do Paquistão absolveu definitivamente Asia Bibi, da acusação injusta de blasfêmia, pela qual havia sido condenada à morte. Católica, mãe de 5 filhos, Asia estava presa desde 2009. Ela deixou o país com sua família. Tanto Bento XVI quanto o Papa Francisco haviam acompanhado o desenrolar de sua história com grande discrição, por razões de segurança.
Uma das filhas, Eisham, havia encontrado o Santo Padre no ano passado, trazendo a ele um beijo de sua mãe. O Papa disse a ela: “Penso seguidamente em sua mãe e rezo por ela”. E a define como “maravilhosa mulher mártir”.
Na Páscoa deste ano, um ataque de extremistas islâmicos contra igrejas cristãs no Sri Lanka provocou morte de mais de 250 pessoas enquanto rezavam. O apelo do Pontífice chegou no mesmo dia. Francisco denunciou também ataques contra outras religiões, como contra a mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, que provocou mais de 50 vítimas fatais.
Defender a família e toda a vida
Em 25 de março, em Loreto, o Papa reiterou que, em particular no mundo de hoje, “a família fundada no casamento entre um homem e uma mulher, e assume uma importância e uma missão essenciais”. Francisco defendeu a vida desde a concepção até seu fim natural. Interviu diretamente em favor de Vincent Lambert, o enfermeiro francês de 42 anos, em estado de consciência mínima, que faleceu em julho do ano passado: “Não construímos uma civilização que elimina pessoas cuja vida acreditamos não vale mais a pena ser vivida: toda vida tem valor, sempre”.
Ao longo do ano, Francisco falou também sobre a vida, os direitos e a dignidade que devem ser sempre defendidos, desde os nascituros àqueles que sofrem de fome ou sofrem violências, dos doentes e dos anciãos aos migrantes que correm o risco de morrer em busca de um futuro melhor. A justiça não é seletiva, não é para algumas categorias humanas e outras não, é universal, declarou.
Jovens: descobrir o amor de Deus e caminhar contra a corrente
Este ano o Santo Padre publicou a Exortação Apostólica “Christus vivit”, fruto do Sínodo sobre os jovens realizado no Vaticano em outubro de 2018. “Cristo vive. Ele é a nossa esperança e a juventude mais bonita deste mundo. (…) Por isso, as primeiras palavras que quero dirigir a cada jovem cristão são: Ele vive e quer você vivo!”, escreveu. O Pontífice prosseguiu:
“Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, fixa-la no passado, freá-la, torná-la imóvel. Peçamos também que a liberte de outra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece, mimetizando-se com os outros. Não! Ela é jovem quando é ela mesma.”
Francisco propôs”caminhos de fraternidade” para viver a fé, evitando correr “o risco de fechar-se em pequenos grupos”. Convidou os jovens a viver o compromisso social em contato com os pobres e a serem protagonistas da mudança para uma civilização mais justa e fraterna. Por fim, exortou-os a se tornarem “missionários corajosos”, testemunhando o Evangelho em todos os lugares com suas próprias vidas, indo também contra a corrente, especialmente contra as chamadas colonizações ideológicas.
Viagens internacionais: paz para o mundo
Em 2019, Francisco realizou 7 viagens internacionais, visitando 11 países em 4 continentes, um ano recorde para suas missões extra-italianas. Anunciou o Evangelho da alegria no Panamá, durante a Jornada Mundial da Juventude; nos Emirados Árabes Unidos assinou o histórico documento sobre a Fraternidade humana com o Grão Imame de al- Azhar; no Marrocos reiterou a importância do diálogo inter-religioso; na Bulgária, Macedônia do Norte e Romênia, falou da unidade dos cristãos; em Moçambique, Madagascar e Maurício, defendeu os pobres e a Criação; na Tailândia, apelou à promoção dos direitos das mulheres e das crianças, e no Japão, uma viagem centrada na paz, repetiu que não apenas o uso, mas também a posse de armas nucleares é imoral.
Santos e Beatos: mártires, leigos e com a púrpura
O ano também foi de inúmeras canonizações e beatificações. Muitos mártires de todos os continentes e de todas as ideologias: muitos foram mortos com ódio à fé durante a guerra civil espanhola, mortos perdoando seus assassinos; outros, como os sete bispos da Igreja Greco-católica na Romênia beatificados por Francisco em Blaj, são mártires do regime comunista; outros ainda, como o bispo argentino Enrique Angel Angelelli e seus companheiros, foram vítimas de ditaduras de direita. Mas há também os santos leigos, como a suíça Margherita Bays, santos da “porta ao lado” que viveram sua vocação em família, em meio a mil dificuldades. E há tantos santos cardeais, como John Henry Newman, um convertido anglicano à fé católica. Além da primeira santa brasileira, Santa Dulce dos Pobres, cuja canonização ocorreu em 13 de outubro.
Jubileu sacerdotal
Neste mês de dezembro, o Papa celebrou 50 anos de sacerdócio. Sua vocação remonta a 21 de setembro de 1953, memória de São Mateus, o cobrador de impostos convertido por Jesus: durante uma confissão, ele tem uma profunda experiência da misericórdia de Deus. É uma imensa alegria que o leva a tomar uma decisão “para sempre”: tornar-se sacerdote para dar aos outros a misericórdia recebida.
O padre, afirma Francisco, vive entre as pessoas com o coração misericordioso de Jesus. Hoje é o tempo da misericórdia. A Igreja compreende isso cada vez mais em sua caminhada na história: com João XXIII, ela dá um importante passo nessa direção, continuado por todos os seus sucessores, em particular por João Paulo II, que institui o Domingo da Divina Misericórdia, inspirado por Santa Faustina Kowalska.
Fonte: Site Canção Nova Notícias