Mês da Bíblia: vestir-se da Nova Humanidade

BibliaA Igreja no Brasil iniciou, na sexta-feira (1º), um período dedicado à Palavra de Deus. Popularmente conhecido como “Mês da Bíblia”, setembro foi escolhido porque é quando se comemora, no dia 30, a memória litúrgica de São Jerônimo, que foi quem traduziu os textos sagrados do hebraico e do grego para o latim.

O livro, o tema e o lema do estudo reflexivo são escolhidos pela Comissão Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras instituições bíblicas. Em 2023, será trabalhada a Carta aos Efésios, escolhida por tratar da Igreja e estar em sintonia com o Sínodo convocado pelo Papa Francisco, a ser realizado de outubro de 2023 a outubro de 2024, com o tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

O lema do Mês da Bíblia de 2023, “Vestir-se da nova humanidade (Ef 4,24), está inserido numa exortação da carta, na qual o autor apresenta aos batizados e batizadas, no que consiste assumir a vida nova, após a adesão a Cristo pelo batismo, sobretudo, o seguimento a Jesus e o testemunho no contexto tão diversificado como era o da Ásia no início da Igreja.

Carta aos Efésios

A Carta aos Efésios é um dos livros do Novo Testamento pertencente à tradição paulina, mas não está entre os escritos autênticos do Apóstolo, sendo, portanto, uma carta deuteropaulina. Não há consenso quanto a sua datação: a mais provável seria entre os anos 80 e 90 d.C., e, provavelmente, foi escrita para as comunidades seguidoras de Jesus localizadas na Ásia.

A Carta estrutura-se em seis capítulos, que formam dois grandes blocos. O primeiro contém um conteúdo teológico, sobressaindo os aspectos cristológico e eclesiológico (Ef 1-3), sendo a Igreja o Corpo de Cristo, e Cristo a “cabeça” do corpo eclesial. A segunda parte é exortativa e dirige-se à comunidade, formada por pessoas batizadas, oriundas da religião judaica e por outras da cultura gentílica, exortando-as a manterem a unidade na diversidade; a agirem eticamente, tendo Cristo como o princípio normativo; a comportarem-se como filhos e filhas da luz; a revestirem-se da “nova humanidade” em Cristo; a mudarem as relações familiares e sociais; a serem imitadores de Deus, deixando-se guiar pelo Espírito (Ef 4-6). A carta conclui-se com um convite a prepararem-se para um “combate espiritual” a todas as potências do mal, contra o antirreino.

A Carta aos Efésios destaca-se pela sua densidade teológica, cristológica e pneumatológica, e, de forma especial, pela concepção de Igreja (eclesiologia). Para o autor de Efésios, Deus, o criador de todas as coisas (visíveis e invisíveis), e seu filho Jesus Cristo reinam sobre as esferas terrestre e celeste. Nessa visão, o autor desenvolve uma cristologia do senhorio de Jesus Cristo Ressuscitado, aquele que está sentado à direita de Deus (Ef 1,20; 4,8.10), e enfatiza a autoridade cósmica de Cristo. Deus colocou tudo sob seus pés e Cristo enche o cosmo com sua plenitude de vida (Ef 1,22-23). A cruz é compreendida como um ato de reconciliação entre judeus e gentios, constituindo um só corpo, a Igreja (Ef 2,13.16).

O autor emprega o termo “mistério” para designar o segredo de Deus, preestabelecido antes da Criação e revelado à humanidade por iniciativa divina, por meio de Jesus Cristo. Esse mistério é desvelado a toda a humanidade, de forma especial aos gentios, integrando-os ao corpo eclesial. Apesar de uma ênfase cristológica, a carta traz vários elementos sobre Deus-Pai e o Espírito Santo, e as funções de cada uma das três pessoas divinas no plano salvífico.

O tema central de Efésios é o eclesiológico, sendo a Igreja uma realidade universal. A Igreja é entendida como um ser em Cristo, por isso sua visão universal não consiste na soma de todas as comunidades locais situadas nas mais diversas partes do mundo, mas no fato de ter como fundamento, Cristo. A Igreja se torna mediadora entre o mundo terrestre e o celeste. Desse modo, tem uma função soteriológica, isto é: baseada nos profetas e apóstolos, ela é o espaço no qual a salvação é oferecida ao mundo. No entanto, o autor de Efésios defende a primazia cristológica em relação à eclesiológica. De fato, Cristo reconciliou os dois grupos da humanidade, judeus e gentios, e fez deles um só povo, um só ser humano novo: a Igreja (2,11-22), que tem como fundamento os apóstolos e os profetas (2,20a); porém Cristo é a pedra angular (2,20b).

Outro tema teológico importante é sobre a vida após a morte e a ressurreição, ou seja, sobre a esperança e a escatologia. Para o autor, se aderimos a Cristo, acreditamos que Jesus ressuscitou e carregamos a certeza de que já experimentamos, com o batismo, o mistério pascal (morte e ressurreição), assim, após o batismo já vivemos como ressuscitados, sendo marcados pela comunhão com Deus e com as pessoas. Porém, mesmo já experimentando a ressurreição, é necessário comprometer-se com o Reino de Deus aqui na terra, mantendo-se no seguimento de Jesus, por meio da unidade (4,1-16), do empenho em viver como pessoas novas (4,17–5,20), com novas relações familiares (5,21–6,9) e a luta constante contra tudo aquilo que seja contrário ao Reino de Deus, isto é, o pecado (6,10-20).

Assim, ao mergulharmos no estudo de Efésios, nos deparamos com um escrito perpassado pela presença amorosa de Deus, que se revela no decorrer de toda a História da Salvação. O Deus Criador que desvela seu amor no Filho Cristo Jesus, e nos garante a presença constante do Espírito Santo.

Fonte: site da Arquidiocese de Juiz de Fora, com informações de Vatican News – texto de Ir. Zuleica Silvano

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